Humanos podem ser “os novos dinossauros”, alertam indígenas argentinos

  • Por Agencia EFE
  • 19/06/2015 10h23

Irene Valiente.

Buenos Aires, 19 jun (EFE).- Se os efeitos da mudança climática não forem controlados, os humanos podem se transformar nos “novos dinossauros”, segundo advertem os mocovíes, um povo original da Argentina com sete mil anos de história que pede que seja reconhecida a contribuição dos indígenas à “base alimentar mundial”.

O cacique mocoví, José María Iñet, denunciou em entrevista à Agência Efe que a sociedade global está usando a terra “como recurso”, um fato “dramático” que pode levar os seres humanos a se converterem em “novos dinossauros”.

Iñet, que está em Buenos Aires para participar do Mês Europeu do Clima, afirmou que o que distingue sua comunidade, situada na província de Santa Fé e no sul do Chaco, é sua estreita relação com a terra, tratada como “uma mãe” da qual é preciso cuidar porque “é muito maior que nós para nos apropriarmos dela”.

Além disso, Iñet considerou que a mudança climática afetou os modos de vida de povos indígenas como o seu, situado em uma zona fundamentalmente agrícola, ao transformar e acelerar as formas de produção de alimentos, um processo “brusco” ao qual ainda custa para se adaptar.

“Quero falar mais de responsabilidades do que de culpados”, declarou Iñet antes de acrescentar que a maioria dos cidadãos não sabe discernir “a importância do local” e do “manejo tradicional” e nem percebe que “as tecnologias foram mal aplicadas por muito tempo”.

O cacique mocoví pediu que as pessoas consultem, entendam e reconheçam a “contribuição histórica” que os indígenas fizeram, especialmente na Argentina, à base alimentar mundial, já que 65% da mesma se baseia nos conhecimentos tradicionais de povos como o seu.

Iñet advertiu que “estão sendo cometidos muitos erros” no manejo da terra e defendeu tudo o que os indígenas forneceram para sua “sobrevivência” durante tantos séculos no mesmo lugar.

“Os métodos são cada vez mais agressivos e a velocidade é cada vez maior”, assegurou Iñet, que acredita que “as pessoas tem um olhar muito linear e pouco circular do que ocorre” e há “muita insensibilidade” com o entorno.

Mesmo assim, Iñet afirmou que há possibilidades de mudança e, de fato, acredita que já há indícios de conscientização no manejo dos recursos, principalmente no campo, e de diálogo com os indígenas em províncias como Santa Fé.

Por outro lado, o cacique lamentou que em outras regiões argentinas os povos indígenas ainda sejam vistos “como um mero integrante da paisagem e não como alguém com sabedoria” que pode ajudar a sociedade urbana a “fortalecer” e “defender” seus próprios direitos e sua independência econômica.

“Ser indígena não é vergonhoso”, afirmou Iñet antes de insistir que, em algumas ocasiões, os povos são postos em evidência “do ponto de vista da aparência ou da situação socioeconômica” quando não são um povo pobre, mas estão “empobrecidos”.

Este empobrecimento, explicou Iñet, surge pela própria forma de ser dos mocovíes. “Somos abertos, não somos guerreiros, compartilhamos muito e não temos esse conceito de propriedade”, o que facilitou a introdução de métodos econômicos, financeiros, de apropriação e de expansão ocidentais de um maior nível de “agressividade”.

Iñet viajou nesta semana à capital argentina para debater os efeitos da mudança climática nas condições de vida em um ato organizado pela embaixada alemã que faz parte das celebrações do Mês Europeu do Clima.

Mónica Brendecke, uma das organizadoras, declarou à Agência Efe que o evento procura “ativar uma discussão” e gerar “autocrítica”, já que falta conscientização com o meio ambiente em uma sociedade que ainda tem um “comportamento negligente” com relação a sua Mãe Terra. EFE

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