Indígenas detêm trator que desmatava seu território ancestral no Paraguai

  • Por Agencia EFE
  • 29/07/2015 20h57
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Assunção, 29 jul (EFE).- Os indígenas ayoreo da comunidade de Cuyabia, na região do Chaco, no Paraguai, interromperam o avanço de um trator com esteiras que desmatava uma região de floresta dentro de seu território ancestral, que contém 25 mil hectares e está cercado por 11 empresas agrícolas e de criação de gado, a maioria delas estrangeiras.

A máquina, usada para desmatar a vegetação no interior do território indígena, foi detida pelos nativos e levada à comunidade para impedir que continuasse com a devastação, informou nesta quarta-feira a ONG local Iniciativa Amotocodie em comunicado.

Os indígenas esperam agora que um agente da procuradoria do Paraguai se apresente no local com urgência para formular uma denúncia contra a empresa de criação de gado que invadiu e desmatou parte de suas terras, segundo a fonte.

O território foi adquirido pelo Instituto Paraguaio do Indígena (Indi) e está em processo de cessão à comunidade nativa ayoreo atetadioegosode de Cuyabia, acrescentou o comunicado.

Para concluir este processo, está sendo realizada uma medição judicial que determinará a extensão do território e seus limites com as fazendas de exploração agrícola e de criação de gado que ficam no seu entorno.

Enquanto a medição é concluída, o terreno estará submetido a uma medida cautelar que proíbe qualquer alteração no terreno, por isso a intervenção de máquinas agrícolas estaria violando essa disposição, além de invadir um território alheio.

Os líderes da comunidade de Cuyabia, Unine Cutamorajna e Nicolás Etacore, solicitaram aos proprietários das fazendas vizinhas que aguardassem a conclusão da medição judicial, mas afirmaram que os mesmos não estão respeitando seu pedido.

“Estas pessoas não nos respeitam, há muito tempo pedimos às autoridades que venham até aqui para conferir como as medidas cautelares estão sendo violentadas, mas não tivemos respostas. Nós estamos defendendo nossa sobrevivência”, explicou Cutamorajna através de um comunicado.

Além disso, o líder indígena se mostrou preocupado porque a floresta na qual as máquinas agrícolas estão trabalhando é utilizada como habitat e área de deslocamento de alguns de seus parentes próximos, que estão em estado de isolamento voluntário.

“Os isolados se assustam com os tratores, temos certeza que agora foram para o norte e não sabemos se estarão seguros ali”, explicou Cutamorajna.

Os indígenas isolados “guardam uma profunda relação com seu território tradicional, com a floresta, seus recursos vitais e seus locais de referência, históricos e sagrados”, afirmou a ONG Iniciativa Amotocodie.

Os 25 mil hectares da comunidade ayoreo de Cuyabia foram vendidos de forma irregular, em 2012, por 1,250 bilhões de guaranis (US$ 255 mil) e estão localizadas no distrito de Marechal Estigarribia, no departamento de Boquerón, na região do Chaco paraguaio.

No dia 17 de abril deste ano, Rubén Quesnel, ex-presidente do Indi, foi condenado a seis anos e meio de prisão pela venda ilegal deste território, uma sentença considerada “histórica” pela procuradoria do país.

Além desse crime, Quesnel é acusado por quebra de confiança e apropriação junto com outros funcionários de sua administração pelo desvio de cerca de US$ 700 mil destinados ao cumprimento de duas sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH).

As sentenças são em favor das comunidades indígenas Sawhoyamaxa e Yakye Axa, do povo énxet.

O povo ayoreo é uma das 20 etnias indígenas que vivem no Paraguai e alguns de seus integrantes, que vivem em isolamento voluntário, fazem parte do último povo nativo isolado das Américas fora da região amazônica. EFE

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