Indonésia passa o Brasil como país que mais desmata no mundo

  • Por Agencia EFE
  • 16/07/2014 06h28

Eduardo Mariz Cortiñas.

Jacarta, 16 jul (EFE).- A Indonésia passou o Brasil como o país que mais desmata no mundo, com quase o dobro de destruição na última averiguação feita em 2012 nas florestas nas quais vivem alguns dos animais mais ameaçados do planeta.

Assim revela um recente relatório publicado na revista “Nature Climate Change” que mostra que o arquipélago indonésio perdeu quase o dobro (840 mil hectares) de massa florestal que o Brasil (460 mil hectares) em 2012, último ano do qual se têm dados.

A pesquisadora Arunarwati Margono, uma das autoras do estudo, explicou à Agência Efe que o mais preocupante é que o alarmante desmatamento na Indonésia afeta as florestas primárias, massas florestais virgens que abrigam animais em perigo de extinção tais como tigres, rinocerontes asiáticos e orangotangos.

Margono afirmou que, embora o governo indonésio tenha aprovado uma moratória em 2011 com a intenção de limitar a poda de florestas nativas, na realidade a medida se limita a proteger as florestas mais intactas, o que deixa outras sem proteção.

“Por isso dividimos as florestas em duas classes em nossa pesquisa, aquelas que jamais foram alteradas e aquelas que em algum momento sofreram perturbações por causa da atividade humana”, argumentou.

Margono declarou que os pesquisadores descobriram algo “interessante”: que 98% da perda de florestas primárias foi registrada na categoria desprotegida pela moratória, causando uma notável perda de habitats para fauna protegida e liberando enormes quantidades de dióxido de carbono à atmosfera.

O estudo, intitulado “A perda de coberta florestal primária na Indonésia entre 2000-2012”, foi realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Maryland (Estados Unidos) e do World Resource Institute com dados do Ministério de Florestas da Indonésia.

Segundo os cientistas, desde a mudança de século, a Indonésia perdeu pelo menos 15,79 milhões de hectares de massa florestal, equivalente em extensão a um terço da Espanha peninsular.

Enquanto isso, nestes anos, no Amazonas a perda florestal decaiu para uma média anual de 113.800 hectares, na Indonésia aumentou em 47,6 mil hectares a cada ano, um avanço motivado especialmente pelas indústrias de celulose e de óleo de palma.

Segundo Margono, os resultados de seu estudo em ilhas como Sumatra, onde 70% de suas florestas foram alteradas ou derrubadas, devem servir de advertência para outras zonas do país com menor degradação.

“(Sumatra) é no que se transformarão no futuro outras ilhas, se continuar um intensivo uso das florestas; seguem Kalimantan (Bornéu) e Papua que, se não for feito nada, podem acabar igual”, disse a pesquisadora, que durante sete anos recopilou informação no Ministério de Florestas indonésio.

Os esforços de Margono, uma especialista reconhecida em desmatamento, por criar um único mapa estatístico no qual baseia futuras políticas florestais, receberam o respaldo de Joko “Jokowi” Widodo, o candidato das últimas eleições presidenciais que a maioria das enquetes apontam como vitorioso.

Jokowi, embora sem um plano ambicioso para frear o desmatamento, se mostrou disposto a otimizar o uso da informações sobre desmatamento para melhorar a defesa das selvas.

“Atualmente não dispomos de um só mapa para a conservação de florestas, por isso que temos uma superposição de dados muito diversos”, disse em um debate televisado Jokowi.

Margono e sua equipe confiam que Jokowi, se finalmente se transformar presidente, possa enfrentar este problema com os melhores dados em mãos.

A Indonésia abriga as maiores florestas tropicais do mundo, e nelas estão 10% de todas as plantas do planeta, 12% dos mamíferos, 17% dos pássaros e 16% dos anfíbios-répteis.

Ao mesmo tempo, o país é o maior produtor de óleo de palma do mundo e um dos maiores produtores de papel e madeira, indústrias que com o desmatamento contribuem para que a Indonésia seja o terceiro maior emissor de dióxido de carbono. EFE

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