Para além dos estádios, a Copa dá vida às ruas da Brasilândia, em São Paulo
Isadora Camargo.
São Paulo, 4 jun (EFE).- O verde e amarelo no chão das ruas, os fitilhos canarinhos arranhando o céu e o sorriso dos moradores iluminam a Brasilândia, bairro da periferia de São Paulo, com a decoração em homenagem à Copa do Mundo, que acontece em nove dias.
Entre a decoração, os moradores não deixaram passar as reivindicações populares, aquecidas principalmente pelas manifestações que vem acontecendo no país. As ruas clamam contra “corrupção e fome” e pedem por “saneamento básico, pavimentação e paz”.
Seis pessoas pintaram os 180 metros da rua Geraldo Alves de Carvalho, uma das principais do bairro, em 30 dias de trabalho – sempre durante as madrugadas para não ser necessário fechar a rua.
“Pintamos das 21h da noite até às 4h da manhã para terminar o trabalho a tempo, mas havia dias de muito vento e frio e não dávamos conta de todos os espaços da rua para pintar. A decoração anima o bairro. Foi divertido, apesar de cansativo”, explicou à Agência Efe um dos organizadores da arte feita na rua, Alessandro Franklin.
Para decoração foram usados 300 litros de tinta e dez quilos de fitinhas em duas ruas participantes do projeto do Google Street, que mapeou espaços em São Paulo para serem decorados especialmente para o Mundial, totalizando o patrocínio de tintas para 20 ruas espalhadas na Zona Sul, Brasilândia e Freguesia do Ó, bairro vizinho.
“O Google Street deu 70% das tintas especiais para pintar as ruas, além dos materiais como brochas, rolos e bandeiras, mas ainda faltou material e os moradores fizeram um rateio dos restos de gastos para finalizar o trabalho nas ruas”, destacou Franklin.
Cerca de 264 mil pessoas em 49 sub-bairros que formam a região da Brasilândia e da Freguesia do Ó estarão perto da arte de rua criada especialmente para Copa.
Além das rabiolas de pipas a céu aberto, o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari e seus convocados Neymar, David Luiz, entre outros são as figuras de destaque das ruas.
Na rua Carlos Dias, os moradores também se animaram e começaram a enfeitar outros locais, como as casas, nas cores verde, azul e amarelo, trazendo o mascote da Copa, o Fuleco, como estampa dos muros.
E a pintura ainda não terminou nesta rua, onde os moradores estão contestando com pincéis cheios de indignação as verbas destinadas à Copa e a falta de qualidade dos serviços de “saúde, educação, habitação e segurança”, afirmou a moradora Elisabeth Alves de Almeida.
Ela e mais dois amigos desenharam no centro da rua um palhaço com uma faca na mão, representando a mensagem dos altos impostos do Brasil, além da frase de manifestação “Nós não somos palhaços, queremos educação, segurança e habitação”.
O palhaço contrasta com as bandeiras das seleções que participam do maior campeonato de futebol do mundo, preenchendo os vazios de cimento que ainda não foram cobertos pelas cores do patriotismo.
Para os moradores, os jogos do estádio representam uma realidade distante, mas a Copa continuará por um bom tempo no bairro, enquanto durar a tinta no chão e a esperança de melhoras sociais no país do futebol, como relembra Alan da Paz, morador da Freguesia do Ó.
“As pinturas são demais para as pessoas que não vão ver o jogo, contrariando as expectativas dos moradores, que estavam desanimados com a Copa e acabaram não ajudando na pintura”, contou Alan à Agência Efe.
Uma das ruas pintadas do bairro será palco para os gritos de gol, que esperam os moradores no dia 12 de junho, quando se reunirão para assistir a abertura da Copa ou em um telão, que pode ser cedido pela sub-prefeitura da região, ou na televisão de um dos vizinhos que se propôs a colocá-la na rua para “fazer a festa da comunidade com samba, bateria e churrasco”, segundo Alan. EFE
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