Presidente da China se torna símbolo inusitado de protestos democráticos
Antonio Broto.
Hong Kong, 28 out (EFE).- Sem que esta fosse sua intenção, o presidente chinês Xi Jinping se transformou em um símbolo inusitado dos protestos democráticos de Hong Kong – que hoje completam um mês – após a divulgação de uma fotografia em que aparece segurando um guarda-chuva aberto.
Cartazes com a fotografia de Xi, líder do regime comunista chinês que em 31 de agosto negou a Hong Kong o direito de votar em candidatos independentes para o governo local, compõem o cenário dos protestos desde o final de semana passado, tanto em Admiralty como em Mong Kok, cujas ruas estão ocupadas por estudantes e ativistas.
Na fotografia Xi segura um guarda-chuva amarelo, objeto que se transformou em símbolo das revoltas pelo fato de os manifestantes o usarem para se defender do gás de pimenta utilizado pela polícia para dispersá-los.
Mais franco do que nunca, o presidente aparece com as barras da calça erguida, mostrando os tornozelos, para não correr o risco de molhá-las. Nos cartazes espalhados, é possível ler a seguinte mensagem: “Apoio o movimento dos guarda-chuvas”.
A fotografia, tirada pela agência oficial chinesa “Xinhua” em uma viagem de Xi à cidade de Wuhan no verão de 2013, ganhou o segundo prêmio dos Prêmios Nacionais da Imprensa na semana passada.
Xi foi visitar a cidade situada às margens do rio Yang Tsé, que na época sofria com fortes inundações, para demonstrar seu apoio aos trabalhos de contenção. Ao posar para as fotos oficiais o presidente não hesitou em perder um pouco de elegância para não correr o risco de molhar suas roupas.
O regime chinês decidiu recuperar essa foto na semana passada, em uma clara ação de marketing, para mostrar “a proximidade de Xi com o povo”, mas não contava que a milhares de quilômetros de Pequim, em Hong Kong, essa imagem seria interpretada com ironia.
Na antiga colônia britânica decidiram fazer uma pequena alteração na imagem e mudar a cor do guarda-chuva, originalmente preto, para amarelo, outro símbolo dos democratas de Hong Kong.
Durante o final de semana um grande cartaz de Xi se tornou um dos objetos mais fotografados pelos turistas e curiosos que visitaram os acampamentos dos protestos no bairro de Mong Kok. A polícia, no entanto, providenciou a sua retirada na tarde desta segunda-feira.
“Parece que o presidente Xi é um dos nossos”, brincou um dos manifestantes que está acampado na área de protestos, onde, contrariando as expectativas, há pouquíssimos cartazes se referindo aos líderes comunistas ou à República Popular Chinesa, da qual Hong Kong é independente em tudo, exceto na Defesa e Relações Exteriores.
As críticas e sátiras impressas nos cartazes da “revolução dos guarda-chuvas” são direcionadas ao chefe executivo Cy Leung Chun-ying, considerado um fantoche de Pequim.
Vestido como uma tartaruga (forte insulto em mandarim), com a imagem colocada junto a de Hitler e Mussolini e chamado de “mentiroso”, Leung, também apelidado “689” (referência à quantidade de votos que alcançou no comitê eleitoral para ser designado líder político local) é o alvo no qual todos os dardos vêm sendo lançados.
Curiosamente, o presidente da China, Xi Jinping, não é o primeiro líder comunista chinês a criar polêmica por aparecer segurando um guarda-chuva: há alguns anos algo semelhante aconteceu com Wen Jiabao, primeiro-ministro da China no período de 2003 a 2013.
Em 2007 Wen, outro político que sempre tentou promover uma imagem de humildade para a população, também visitou uma área de inundações segurando seu próprio guarda-chuva.
A foto foi publicada em centenas de jornais e sites e Wen ganhou milhões de “admiradores” em seu país, pois até aquele momento era normal que os políticos comunistas tivessem a seu lado a alguém para acompanhá-los com o guarda-chuva, tal como os antigos imperadores. EFE
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