Rodrigo Constantino: Guerra tribal não serve para construir pontes

  • Por Rodrigo Constantino/Jovem Pan
  • 16/04/2019 09h19
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Marcos Corrêa/PR A guerra tribal pode ser útil para unir os soldados, mas não serve para construir pontes, ainda mais num sistema pluripartidário. O quanto antes Bolsonaro perceber isso, melhor

Em artigo publicado no Estadão nesta segunda-feira (15), o professor Denis Rosenfield separa a política em duas formas: a que chama de totalitária e a democrática.

Na primeira, elaborada por Carl Schmitt, filósofo nazista, o conceito de política é baseado na oposição amigo/inimigo, em que o outro é visto como alguém que deve ser desqualificado e aniquilado. O outro conceito residiria na consideração do outro enquanto adversário, suscetível de ser convencido, e não suprimido.

Rosenfield caracteriza o governo Bolsonaro no primeiro grupo. “A crítica, nesse sentido, não é aceita, pois significaria uma espécie de rompimento da concepção vigente ou que está sendo imposta. Instituições que exigem a composição e a negociação, como Parlamentos, são, portanto, tidas por impróprias, decadentes ou corrompidas”, escreve. É a mentalidade de guerra transportada para a política.

Ironicamente, como aponta o autor, os militares dentro do governo têm adotado postura mais moderada e democrática, enquanto a ala civil sob influência de Olavo de Carvalho adota a visão totalitária de guerra. Nesse aspecto, é muito similar ao próprio petismo, que também enxergava inimigos mortais por todo canto, que precisavam ser eliminados. É o tribalismo do nós contra eles, sem qualquer espaço para nuanças.

O editorial do mesmo jornal chama a atenção para a relação entre o governo e as redes sociais, justamente apontando esse defeito. “A militância bolsonarista nas redes sociais, que hostiliza o que chama de ‘velha política’ – uma miscelânea de fisiologismo, compadrio e corrupção –, antagoniza quem poderia apoiar o governo”, começa o jornal. Em vez de conter essa turma, o presidente prefere atiçá-la, o que “prejudica os esforços de entendimento feitos para obter apoio no Congresso”.

Claro que Bolsonaro não controla seus eleitores, e que essa militância foi útil para sua vitória. Mas como presidente deveria procurar se afastar dessa postura. Não é o que se vê. Ao contrário, ele usa seu canal oficial para fomentar esse clima, inclusive declarando guerra à imprensa (apesar de ter aumentado exponencialmente a verba para alguns veículos).

O Estadão fecha com uma pergunta: “Com amigos assim, quem precisa de inimigos?”. A guerra tribal pode ser útil para unir os soldados, mas não serve para construir pontes, ainda mais num sistema pluripartidário. O quanto antes Bolsonaro perceber isso, melhor.

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