Depois do Banco do Brasil, Petrobras é alvo de ingerência
Mal terminou a crise que quase levou à demissão do presidente do BB, governo interfere no preço dos combustíveis para não desagradar caminhoneiros
A quase demissão do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, na semana passada, finalmente chegou ao fim. Nesta segunda-feira, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, ele foi confirmado no cargo depois da ameaça de ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro devido ao processo de enxugamento no banco, que deve cortar 5.000 funcionários. Foi um desfecho positivo, mas não livre da interferência política. De acordo com o jornal, se o presidente do BB fica, assim como a reestruturação continua, a lista de agências que serão fechadas pelo banco pode mudar. E nem bem o episódio terminou, já se fala em ingerência do governo em outra estatal, a Petrobras.
Na primeira semana do ano, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) apresentou reclamação no Cade, órgão de defesa da concorrência, de que a Petrobras estaria segurando os preços dos combustíveis. Os importadores vendem derivados importados com base nas cotações internacionais de petróleo, enquanto a Petrobras define o preço dos produtos com base nos custos de produção e nos impostos. Pelo tamanho no mercado, a empresa é flexível para aplicar aumentos mais espaçados no diesel. Mas, para sua saúde financeira e dos acionistas, devia cobrar de acordo com a paridade internacional, o quanto os derivados de petróleo custam em diferentes países. Mesmo com preços favoráveis no exterior, a estatal estaria cobrando R$ 0,22 a menos no litro de diesel e R$ 0,31 no litro de gasolina, segundo os concorrentes.
O presidente da Abicom, Sérgio Araujo, diz que o governo interfere nos preços para não desagradar os caminhoneiros, categoria considerada próxima da base de apoio do presidente. Com isso, prejudica a concorrência. A Petrobras nega. Responde que os valores correspondem a custos próprios e acusa os acusadores de exigirem preços altos. Segundo o banco BTG, o diesel está 14% abaixo da paridade internacional. Pelos preços atuais, R$ 0,51. Desde a semana passada, boatos sobre uma greve dos caminhoneiros em fevereiro afetam os papéis da empresa na B3, com os investidores apontando o aumento do risco de interferência. Pior para os acionistas. A Petrobras perdeu praticamente 10% de valor de mercado com a denúncia no Cade. Analistas consideram um exagero. A tendência, afinal, é de alta do petróleo no mundo com as vacinas contra o coronavírus.
Nesta segunda-feira, 18, a empresa reajustou a gasolina em 8% para as refinarias, para R$ 1,98 o litro. O percentual sugere represamento de preços. São conhecidas as lições do passado. Ingerências terminam no sucateamento da empresa, na perda de valor e em esquemas de corrupção. Se é para manter estatais, é preciso gestão profissional. E um debate sobre privatizações.
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