Intervir no Banco do Brasil é repetir os erros do PT

Relação de Jair Bolsonaro com as estatais lembra muito os tempos de Lula e Dilma Rousseff

  • Por Samy Dana e Leonardo de Siqueira Lima*
  • 17/01/2021 10h00
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Reprodução/Banco do Brasil Coelho deve ficar à frente da Previ até o dia 14 de junho Previsão de corte de 5.000 funcionários no Banco do Brasil deixou Bolsonaro contrariado, mas não deveria

Um dos erros mais notórios dos governos petistas foi a intervenção nas estatais. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi usado para beneficiar empresas vistas como “campeãs nacionais”. A Petrobras foi proibida de aumentar os preços dos combustíveis. Caixa Econômica e Banco do Brasil tiveram de reduzir na marra os juros. As consequências são conhecidas, mas não aconteceu de uma hora para outra. Primeiro, “apenas” prejudicou a confiança que o mercado tinha no governo. A desconfiança começou a afetar a economia real. Terminamos o governo de Dilma com a maior crise da história do país. Jair Bolsonaro parece cada vez mais seguir nesse caminho de intervenção.

Não deveria surpreender, já que sua visão e seus votos como deputado corroboram esse gosto por um estado grande e interventor. Bolsonaro não gostou da reestruturação anunciada pelo Banco do Brasil, que prevê o corte, via demissão voluntária, de 5.000 funcionários e o fechamento de 112 agências. Estranho, já que é um movimento que todos os bancos privados também estão fazendo devido à digitalização do setor. Itaú, Bradesco e Santander, juntos, fecharam mais de 1.000 agências. Em um mundo em que um CEO seria premiado por dar mais eficiência à empresa, o presidente do banco, André Brandão, passou a ser ameaçado de demissão quatro meses depois da posse. A dispensa já tinha sido dada como certa não fosse a intervenção de Campos Neto, presidente do Banco Central. Apesar disso, o dano já foi: uma clara tentativa de uso político do banco.

O presidente do BB teria errado principalmente no momento do anúncio, com o desemprego em alta e no mesmo dia em que a Ford anunciou a saída do Brasil, demitindo outros 5.000 empregados. Ocorre que anúncios de planos anuais feitos em janeiro são comuns entre as empresas. Estabelecer metas logo no primeiro mês dá mais tempo para que sejam cumpridas. E a acusação de insensibilidade política não devia fazer parte da gestão de um banco com ações na bolsa. A pergunta que fica no ar é: o que o governo quer que o banco faça? Se recuar nas demissões e no fechamento de agências, fica a impressão de que é usado para fazer política. E também um prejuízo para os acionistas. Com as quedas de quarta-feira e quinta-feira, de mais de 5%, o Banco do Brasil perdeu R$ 5,8 bilhões em valor de mercado. No final, é o próprio brasileiro que pagará a conta de um banco inchado que perderá eficiência junto a outros competidores do setor.

Com a impressão de que existe interferência política no Banco do Brasil, também fica mais fácil acreditar em mais casos. Na quarta-feira, as ações da Petrobras caíram diante de rumores de uma greve dos caminhoneiros no dia 1º de fevereiro. Relatório do banco BTG desta quinta sugere preocupações de que a empresa venha a segurar aumentos dos combustíveis para não desagradar a categoria, uma das bases de apoio de Bolsonaro. Não dá para o governo seguir um roteiro que todos sabem que deu errado. Também não é o momento para criar incerteza sobre a economia. Com uma crise fiscal, a epidemia de Covid-19 piorando e a dívida pública perto dos 100%, tudo o que o país não precisa agora é de uma crise de confiança. A não ser que o governo atual queira ser comparado com o governo do PT. E, vamos ser justos, está fazendo mais do que por merecer.

*Leonardo de Siqueira Lima é economista, mestre em economia pela Barcelona Graduate School of Economics, doutorando pelo Insper e cofundador do portal Terraço Econômico

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