Bolsonaro cobra ‘função social’ da Petrobras, mas estatal não pode ter prejuízo por isso
Quem investe na empresa acreditou na promessa do governo federal de que a estatal tem liberdade para cobrar preços que garantam a sua saúde financeira
A finalidade básica de qualquer empresa é prosperar. Vale para as empresas privadas e também para as de economia mista, como a Petrobras. Se ela prospera, cria empregos, paga mais impostos e ajuda a economia. Isso não quer dizer que empresas não têm um papel social. A pandemia mostrou isso. Houve uma grande mobilização das empresas brasileiras comprando material hospitalar e testes de detecção da Covid-19. Somando as doações em dinheiro, foram quase seis bilhões e meio de reais. O conceito de que as empresas tenham um impacto social positivo, não só deem lucro, além de tudo, está na moda. ESG, sigla em inglês que une ambiente, social e governança corporativa, hoje muda a maneira como elas se relacionam com a responsabilidade social e até com o planeta.
Isso não quer dizer que uma empresa tenha que perder dinheiro, arriscando a própria sobrevivência, os investimentos, os empregos que cria e os impostos que paga para beneficiar um grupo de consumidores. Mas é o que o presidente Jair Bolsonaro, de acordo com as palavras ditas por ele nesta quinta, quer para a Petrobras. Acompanhado do futuro presidente da empresa, Joaquim Silva e Luna, ele defendeu que toda estatal precisa tem uma visão social. O presidente critica a política de preços da Petrobras na gestão de Roberto Castello Branco, onde a empresa repassa aos consumidores a variação dos preços dos combustíveis no mercado internacional. Segundo disse o presidente da estatal, ela faz isso porque alguns possuem custos e dívida em dólar. Se precisa pagar em dólar, mas só vender pelos custos no Brasil, fica no prejuízo.
Como esse ano o petróleo tem subido no exterior, os combustíveis sobem no Brasil. O presidente reclama dos aumentos do diesel, que irritaram os caminhoneiros, categoria que o apoiou na última eleição. A empresa, segundo ele, tem que ser mais sensível à sociedade. Ou seja, deve aceitar lucrar menos ou ter prejuízo para não repassar aos donos de carros e caminhões os preços internacionais. A Petrobras tem acionistas, o maior deles é a União. Quem investe na empresa, inclusive os pequenos investidores, acreditou na promessa do governo de que a estatal tem liberdade para cobrar preços que garantam a sua saúde financeira. Fazer uma empresa operar em prejuízo por sua “missão social “ implica em um caso de custos diluídos em toda a sociedade para benefícios concentrados aos que possuem carros e aos caminhoneiros.
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