Governos discutem adotar ‘passaportes de vacinação’ para reabrir a economia

Em Israel, para serem aceitas em alguns espaços, pessoas precisam mostrar uma comprovação de que foram imunizadas; aplicativos levantam, contudo, questões éticas, médicas e econômicas

  • Por Samy Dana
  • 23/03/2021 17h08 - Atualizado em 25/03/2021 16h03
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JOSÉ MARCOS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO Enfermeira colocando dose da vacina da AstraZeneca/Oxford na seringa Como as vacinas têm sido eficazes contra a Covid, segundo governos, a medida seria uma maneira de reativar o PIB

Enquanto a Europa se fecha para enfrentar a terceira onda da Covid-19, e os Estados Unidos, que chegam a vacinar 2,5 milhões de pessoas por dia, têm alta de casos, em Israel os bares e restaurantes estão lotados, mas nem todo mundo pode entrar. Para serem aceitas, as pessoas precisam mostrar um certificado de imunização do governo ou um aplicativo que comprova que elas foram vacinadas. Porém, quem ainda não pode entrar não deve esperar muito. O país tem um dos programas mais avançados de vacinação no mundo e já imunizou metade da população adulta e 90% das pessoas com mais de 50 anos.

A decisão, porém, de separar vacinados e não vacinados chamou atenção de outros países. Preocupados com os efeitos dos lockdowns no Produto Interno Bruto (PIB) e com a população cansada de isolamento, governos discutem também adotar passaportes de vacinação para reabrir a economia. Estados Unidos e União Europeia já dão passos para ter os seus, enquanto no Reino Unido o tema está em estudo. No ano passado, um documento parecido chegou a ser discutido para trabalhadores que tivessem tido Covid: se tivessem se curado e ficado com anticorpos, poderiam circular. Mas, com os primeiros casos de reinfecção pelo coronavírus, demonstrando que a proteção poderia ser por pouco tempo, a proposta ficou esquecida. Até agora. 

Como as vacinas têm sido eficazes contra a Covid, segundo governos, a medida seria uma maneira de reativar o PIB, enquanto os não vacinados continuam protegidos. Os aplicativos levantam, contudo, questões éticas, médicas e econômicas. Uma é que o passaporte cria dois tipos de cidadão, vacinados e não vacinados. E quem não recebeu a vacina acaba, injustamente, penalizado, por exemplo, com o desemprego. Uma pesquisa global da consultoria de recursos humanos ManpowerGroup, divulgada duas semanas atrás, mostrou que um em cada cinco empregadores consultados pretendem incentivar seus colaboradores a se vacinarem. E mais: à medida que as vacinas sejam aprovadas e lançadas, 16% dos empregadores afirmam que exigirão a vacinação dos trabalhadores, de acordo com o levantamento. Como os jovens ficam por último na vacinação, o desemprego entre eles pode aumentar. E como ganham menos, aumentaria a desigualdade. 

Sem contar com inevitáveis resistências a medidas de isolamento, com uma parte da população liberada e outra não. Cientistas também discutem se, em alguns meses, a ideia ainda será válida. Ninguém sabe ainda por quanto tempo a vacina segue protegendo contra a Covid, já que a aplicação só começou há três meses. E também lembram que a pessoa estar imunizada não significa que deixa de transmitir o vírus – também não há conclusão definitiva a respeito. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, mesmo depois da imunização, as pessoas sigam fazendo isolamento e usando máscaras devido ao risco de que, se continuarem circulando, o vírus crie novas variáveis, como a de Manaus. Passaportes podem dar a impressão de que a vida volta ao normal. Mas religar de vez a economia, como a recuperação dos Estados Unidos começa a mostrar, depende da vacina. 

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