No Líbano, tragédia econômica continua dez meses após explosão
Desde a destruição no porto de Beirute, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 19% e a inflação está em 119% ao ano; Líbano ainda lida com crise política que antecede a pandemia
Dez meses atrás, em agosto de 2020, quando uma gigantesca explosão destruiu o porto de Beirute, o dano sofrido pela economia parecia ser o pior que o Líbano, um dos países mais ocidentalizados do Oriente Médio, poderia sofrer. Não era. Desde a explosão, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 19%. Houve recuperação a partir do início do ano, mas ainda deve terminar 2021 nos 9% negativos. A explosão em Beirute piorou uma crise que antecede a pandemia. O governo, com uma dívida equivalente a 171% do PIB e uma moeda, a libra libanesa, que perdeu quase todo o valor, confiscava contas bancárias de estrangeiros para evitar a saída de dólares do país. Hoje, a inflação é de 119% ao ano. Para 2022, é esperado que a economia suba 5%. A recuperação poderia ser mais rápida, mas falta governo.
O ex-primeiro-ministro Hassan Diab renunciou depois da explosão em Beirute. Desde então, os partidos políticos libaneses não se entendem para formar um novo governo. Ninguém quer assumir uma economia em ruínas antes das eleições marcadas para o ano que vem, preferindo chegar ao poder em um cenário menos grave. A inação dos políticos fez o Banco Mundial alertar em um relatório no início do mês: o Líbano vive uma das piores crises do mundo desde meados do século XIX, com consequências na política regional e também global. O risco de caos social criaria problemas para os países vizinhos, poderia acirrar rivalidades e certamente afetaria a Europa com o aumento dos refugiados.
No dia em que o porto de Beirute explodiu, 4 de agosto, escrevi neste espaço que a próxima tragédia do Líbano seria econômica. O país hoje é uma soma de fragilidades. Começa pelo fato de que, depois da Guerra Civil entre 1975 e 1990, os governos não cortaram gastos, produzindo um déficit imenso para um país de poucos recursos. Fora isso, uma das facções políticas libanesas mais importantes, o Hezbolá, é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos, o que por si só afasta investimentos. É uma pena por ser um país com uma cultura riquíssima, mas que precisa de um tratamento de choque, começando pelas contas públicas. Apesar da necessidade de reconstrução, não há como recomeçar sem o governo deixar de gastar demais. Dever 170% do PIB é para nações desenvolvidas. Para uma economia como a do Líbano, é muito.
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