O governo deveria pagar os antivacinas para se imunizarem?
Nos Estados Unidos, onde a campanha paralisou, estímulos para tomar a 2ª dose vão desde concorrer à loteria até ganhar pequenas quantidades de maconha; economista propõe incentivo de US$ 1 mil
A variante delta do coronavírus é a nova ameaça da pandemia. Surgida na Índia em fevereiro, a mutação pode resultar no dobro de internações, colapsando rapidamente o sistema de saúde mesmo em um país com grande número de vacinados. Ela tem se espalhado rapidamente pelo mundo. Ainda não circula no Brasil, mas no Reino Unido, onde corresponde a 90% dos casos, adia o fim das restrições para conter a Covid-19. Diante da nova ameaça, é ainda mais urgente que o maior número de pessoas seja vacinado rapidamente. Se o vírus continuar circulando, aumenta o risco de surgirem novas variantes, inclusive uma que consiga contaminar os vacinados, jogando fora todo o esforço até agora para vencer a pandemia. Nos Estados Unidos a vacinação travou. Depois de disparar em março e abril, perdeu fôlego no mês passado.
Atualmente, só metade dos americanos já recebeu as duas doses. E 62% receberam a primeira. Ninguém mais aposta na previsão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que até o 4 de julho, Dia da Independência Americana, 70% da população estará protegida. Só que, segundo especialistas, para manter a população protegida, é necessário ter sete em cada 10 adultos vacinados com as duas doses. No Brasil, eram 4,4 milhões de pessoas uma semana atrás. Mesmo aptas, não apareceram para a segunda dose. São 8% do total de vacinados. Mesmo a vacina da Pfizer, a mais eficiente contra o vírus, protege relativamente pouco com uma primeira dose – 52% – em relação à segunda, quando a imunidade vai a 94%.
O que tem levado a discussões sobre que tipo de estímulo poderia aumentar o número de vacinados. Uma das ideias que surgiu é a de pagar as pessoas. É o que propõe o economista Robert Litan, do Brookings, centro de estudos de políticas públicas. Ele recorre a um dos princípios mais importantes da teoria econômica, de que as pessoas respondem a incentivos. Nenhuma resistência seria forte o bastante contra o dinheiro. Litan defende que cada americano que recuse a vacina receba US$ 1 mil (praticamente R$ 5 mil) para aceitá-la. Não é o único estímulo colocado na mesa atualmente. Redes de fast food oferecem lanche de graça e eventos esportivos liberam a entrada de quem topa se vacinar. O governo do estado de Washington, onde a maconha é liberada para uso recreativo, oferece até uma pequena quantidade a cada imunizado. Já no estado de Ohio, os vacinados concorrem a uma loteria com prêmio de US$ 1 milhão.
Funciona? Não muito, segundo levantamento recente da revista The Economist e da empresa de pesquisa YouGov, ambas britânicas. Entre os entrevistados, 17% disseram que não queriam ser vacinados. Deste total, só 9% mudariam de ideia para concorrer na loteria de US$ 1 milhão. Mesmo diante do pagamento de US$ 100 em dinheiro, a recusa da vacina foi de 87% do total. Os resultados certamente variam de país para país. O ponto em comum é muitas vezes a influência da ideologia na recusa – eleitores do Partido Republicano, nos Estados Unidos, são muito mais resistentes do que eleitores democratas e não votantes nas eleições. Mas, muitas vezes, também é a desconfiança nas vacinas, que exigirá esforço para ser revertida.
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