Reunião anual do Federal Reserve decide os rumos da economia
Aumentam as pressões para a retirada dos estímulos, começando pela redução da compra de títulos, mas a decisão será tomada em meio à incerteza com o avanço da variante Delta no país
O Buraco do Jackson, Jackson Hole na língua inglesa, fica em um vale no estado do Wyoming, nos Estados Unidos. É onde acontece todo ano o simpósio que reúne a cúpula do Federal Reserve, o banco central americano. Este ano, como em 2020, o encontro, que começou nesta quinta e terá seu principal evento – o pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell – hoje, é virtual. O que não o impedirá de ser acompanhado atentamente pelos mercados financeiros do mundo todo. O que será feita da atual política do Fed? – foi a pergunta que mais angustiou os investidores americanos nos últimos meses. O encontro do Jackson Hole deve acabar com as dúvidas.
Nos Estados Unidos, como no Brasil e em muitos outros países, a inflação sobe devido ao desencontro entre oferta e procura de produtos desde o começo da pandemia. A reação de qualquer Banco Central quando isso acontece é aumentar os juros para conter os preços. É o que vem acontecendo no Brasil desde março, quando o Banco Central elevou a taxa Selic de 2% para 5,25% ao ano para segurar a inflação – e ainda deve subir mais. Mas, com a economia americana ainda se recuperando dos efeitos da Covid-19, o Fed preferiu uma abordagem mais suave, segurando os juros entre 0% e 0,25%. Ainda injeta na economia americana US$ 120 bilhões por mês, comprando títulos no mercado. O que coloca mais dinheiro para circular e aquece a atividade econômica, além de sustentar parte da alta das bolsas.
Jerome Powell defendeu por vários meses que se isso cria um pouco mais de inflação, não importa. O mais importante agora é garantir a recuperação da economia. O problema é que ele falava de uma inflação pouco acima dos 2%. Mas em julho o índice atingiu 5,4% no acumulado de 12 meses. A economia está forte. Nesta quinta, foi divulgado que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 6,6% no segundo trimestre. Aumentam as pressões para a retirada dos estímulos, começando pela redução da compra de títulos. Mas a decisão será tomada em meio à incerteza com o avanço no país da variante Delta. Uma mudança brusca poderia elevar os riscos à economia.
Mesmo o corte por si só tem seus riscos. Nos estados americanos que retiraram os estímulos cedo demais, o crescimento desacelerou. Por isso, a maior aposta do mercado é de que o presidente do Federal Reserve dê pistas sobre a retirada, mas deixe o cronograma para a próxima reunião do Fomc, comitê que decide a taxa de juros, em setembro. Haverá tempo para o cenário da Covid se definir e também para os mercados se adaptarem, evitando turbulências como a de 2013, quando a retirada começou quase sem aviso.
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