Saída do Uber Eats é ruim para a competição e para os consumidores

Concorrência menor não é boa notícia para quem compra, pois costuma resultar em preços mais altos e menos investimento em inovação; além disso, restaurantes perdem poder de negociação com aplicativos

  • Por Samy Dana
  • 09/01/2022 10h00
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DANIEL CYMBALISTA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - 07/01/2022 Mão manuseia o celular logado no aplicativo Uber Eats (e o logo da empresa parece atrás) Uber Eats concluiu que não vale a pena fazer investimentos pesados no Brasil para aumentar a chance de conquistar uma fatia maior do mercado

O anúncio de que o Uber Eats, braço de entrega de refeições da Uber, gigante da mobilidade, deixará de operar no Brasil pegou todo mundo de surpresa. É uma notícia ruim para a competição e para os consumidores brasileiros. Hoje, o mercado já é dominado pelo Ifood, aplicativo responsável por oito em cada dez pedidos. O Uber Eats faz 13% das entregas. A concentração deverá aumentar. O Rappi e a 99 Food tendem a se manter como competidores do Ifood, mas com participação de mercado bem menor.

De acordo com os números de 2019, o último ano com dados disponíveis, o mercado brasileiro de entrega de comida era de R$ 11 bilhões (R$ 61,9 bilhões, na cotação atual), segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Certamente, hoje alcança bem mais. Só em 2020, primeiro ano da pandemia, houve crescimento de quase 30% no faturamento. Com números tão vistosos, não faltam competidores estrangeiros no mercado. Além do Uber Eats, há o Rappi, plataforma criada na Colômbia, e a 99 Food, pertencente à Didi, gigante da mobilidade na China.

Mas a verdade é que nada abala o domínio do Ifood. Uma das explicações dessa concentração é que a plataforma começou primeiro. Conquistou o mercado, se consolidou e só então vieram os competidores. No caso do Uber Eats, embora esteja no Brasil desde 2015, foi no começo da pandemia que o aplicativo conseguiu crescer. Chegou a ter 25% do mercado, com a liderança do Ifood caindo para 41%. Mas, passados alguns meses, a diferença voltou a aumentar. Hoje o aplicativo da Uber tem esses 13%.

No fim das contas, a empresa concluiu que não vale a pena fazer investimentos pesados no Brasil para aumentar a chance de conquistar uma fatia maior do mercado. E não só no Brasil. Recentemente, o Uber Eats encerrou as operações também na Colômbia, Argentina e República Tcheca, entre outros países. Só que, para os consumidores, menos concorrência não é boa notícia. Costuma resultar em preços mais altos e menos inovação. Tampouco é boa para os restaurantes, que perdem poder de fogo para negociar com os aplicativos. O curioso é que, enquanto sai do Brasil, o Uber Eats se consolida em escala mundial como principal fonte de receita da Uber. Passou os serviços de transporte e hoje movimenta US$ 12 bilhões por ano (R$ 67,6 bilhões).

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