Samy Dana: Sob ameaça, agronegócio puxa exportações
Apesar da crise gerada pelo coronavírus, os números do setor apontam para um ano positivo
Nas últimas semanas, o país assistiu à romaria de executivos brasileiros e gestores de fundos estrangeiros pressionando o governo por temor de ameaças à economia brasileira. O medo está ligado ao aumento do desmatamento na Amazônia. Em última instância, mercados podem se fechar para o agronegócio, acusado de contribuir com queimadas e derrubada da floresta. E, também, por pressão dos acionistas de fundos trilionários, investimentos podem deixar de vir para o país. De investimentos, falamos outra hora. Hoje vamos olhar o agronegócio. Qualquer boicote é prejudicial. Porém, se alguém ainda tinha dúvida da importância do setor para o país, os números divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério da Economia demonstram o quanto qualquer ameaça deve ser levada a sério. O agronegócio puxou o salto nas exportações brasileiras no ano. Até este domingo, contabilizadas as quatro semanas de julho, as exportações chegaram aos R$ 28,749 bilhões. No mesmo período de 2019, foram R$ 27,978 bilhões. O saldo da balança comercial registrou uma alta de 2,8%.
Balança comercial – 2020
Total +2,8%
Agronegócio +23,8%
Id. extrativa -9,6%
Ind. transformação -15,1%
Já o crescimento das vendas do agronegócio para o exterior foi de 23,8%. A indústria extrativa, que produz matérias-primas como o petróleo, registrou recuo de 9,6% nas exportações, enquanto a indústria de transformação registrou queda de 15,1%. No primeiro semestre, segundo a consultoria Cogo, que trabalha dando apoio ao setor, o agronegócio foi responsável por mais de 50% das exportações brasileiras. No ano passado, essa participação foi de 43%.
Apesar do coronavírus, os números apontam para um ano positivo. O superávit comercial deve atingir quase US$ 94 bilhões. E de onde vem a alta? As exportações de soja pelo porto de Paranaguá aumentaram 59%. O acumulado no ano é de 70 milhões de toneladas.No ano passado, a essa altura, estava em 48 milhões. O apetite da China por produtos brasileiros continua em alta. O país asiático também antecipou compras, temendo que a epidemia de covid-19 aqui no Brasil afetasse as exportações. Não aconteceu e as vendas ainda cresceram.
O saldo da balança comercial caminha para superar os US$ 55 bilhões, revertendo o resultado ruim do ano passado, de R$ 46 bilhões. Uma demonstração de força do agronegócio brasileiro. Mas também um alerta: ameaças ao setor têm um grande impacto na economia como um todo.
*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan
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