Samy Dana: Vacina contra Covid-19 faz ações de empresas ficarem muito mais caras

A valorização de companhias de tecnologia está ligada à forma como estão sendo financiadas as pesquisas de uma imunização contra o novo coronavírus

  • Por Samy Dana*
  • 19/08/2020 07h00 - Atualizado em 19/08/2020 07h00
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EFE/EPA/RONALD WITTEK/Archivo Pesquisador desenvolvendo vacina contra a Covid-19 Há 170 vacinas em teste no mundo; no ritmo normal, o desenvolvimento de cada uma custa US$ 500 milhões

A corrida por uma vacina contra a Covid-19 fez nascer algumas bolhas financeiras que não existiam no início do ano. Ações de empresas de tecnologia que eram vendidas por valores baixos agora estão dezenas, ou mesmo centenas de vezes mais caras. Só uma delas, a Novavax, fabricante de uma vacina bem sucedida na fase 1 de testes, acumula uma alta de 3.250% na bolsa de Nova York. A valorização está ligada à forma como estão sendo financiadas as pesquisas de uma imunização contra o novo coronavírus. Há 170 vacinas em teste no mundo. No ritmo normal, o desenvolvimento de cada uma custa US$ 500 milhões. O processo demora de 5 a 10 anos, não só por questões de segurança dos testes, mas por questões de financiamento. Para acelerar o processo, o governo norte-americano criou um fundo de US$ 12 bilhões.

Os contratos com empresas como Novavax, Pfizer, Johnson & Johnson e Moderna prometem bilhões de dólares a quem for capaz de entregar o primeiro lote de 100 milhões de doses até meados do ano que vem. Com a recompensa definida, as fabricantes de medicamentos têm mais facilidade de financiar suas pesquisas, o que leva à alta das ações de biotecnologia. A Bloomberg estima em US$ 200 bilhões a valorização das empresas na bolsa de Nova York desde março, dinheiro que está deixando milionários os executivos das empresas, que costumam receber ações ao cumprir metas, mas também pequenos e grandes investidores. Agora a grande questão é: tudo isso vai fazer uma vacina surgir mais rápido?

O podcast americano Planet Money fez, recentemente, um episódio sobre a economia das vacinas, e perguntou sobre o imunizante contra o novo coronavírus a Stanley Plotkin, um dos criadores da vacina contra a rubéola. Ele diz que o problema da Covid-19 é não ser só uma doença pulmonar. Tem pessoas que sofrem problemas cardíacos ou digestivos, algumas perdem o paladar ou têm alterações na pele. Tudo isso torna mais difícil a chance de uma vacina funcionar. Dinheiro acelera o processo, mas não faz um vacina dar certo. É normal uma fórmula consumir recursos e não dar resultado. Para termos uma vacina, segundo Plotkin, é preciso todas as etapas darem certo. E aí se trata de um problema biológico, não financeiro.

*Samy Dana é economista e colunista na Jovem Pan.

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