Todo mundo tem certeza que o Copom vai elevar os juros nesta quarta, só falta saber quanto
Não aumentar a Selic agora amplifica o risco de que a inflação fure o teto e saia de controle, ainda que governo e Banco Central digam que é fenômeno temporário
O saldo das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, amanhã e quarta-feira, deverá produzir algo inédito nos últimos seis anos no Brasil: a alta dos juros. Desde julho de 2015, quando a taxa Selic passou de 13,75% para 14,25% ao ano, eles não subiram mais. Na descendente, chegaram aos 2% ao ano, atual patamar, em agosto do ano passado. Mas existe consenso entre economistas de que a taxa voltará a subir por conta do aumento da inflação. Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, foi de 0,86%. O pior resultado para o mês em cinco anos. A alta em 12 meses, de 5,2%, bateu no teto do BC para o ano, 5,25%.
De 13 instituições financeiras ouvidas pela Bloomberg, todas acreditam na subida da Selic na quarta-feira. A diferença está em quanto. Dez acham que será de meio ponto percentual, passando de 2% para 2,5%, e três projetam alta mais moderada, de 0,25 ponto percentual. Não elevar a Selic agora aumenta o risco de que a inflação fure o teto e saia de controle, ainda que governo e Banco Central digam que é fenômeno temporário. Não é. A inflação subiu mais forte devido à alta dos combustíveis, ligada à elevação do preço do barril de petróleo no exterior. Efeito, por sua vez, do aumento da demanda com a retomada da economia mundial e o avanço da vacinação nos países. E também do dólar, que sobe no mundo devido ao grande pacote de gastos dos Estados Unidos para combater os danos da Covid-19. Com o governo gastando mais, aumentam os juros futuros dos títulos públicos americanos, projetando inflação maior. E os investidores são atraídos pela alta da taxa nos papéis considerados os mais seguros do planeta.
Moedas estrangeiras estão sendo afetadas, principalmente as de países emergentes. Mas aqui o problema é pior pela dívida alta do governo e, principalmente, pela epidemia de Covid-19, que piorou e continua a prejudicar a economia. Exceto uma decisão da Opep, organização dos países produtores, de aumentar a produção e segurar o preço do petróleo na reunião de abril ou a vacinação acelerar, não há indicação de mudança nos próximos meses. Por isso, a expectativa do mercado financeiro é de que haverá mais altas. No Boletim Focus do dia 8, a aposta dos economistas é de uma taxa Selic de 4% no fim do ano. Mas há palpites mais elevados. O Itaú, por exemplo, projeta os juros em 5,5% ao ano em dezembro. Mais alto ou mais baixo nesta quarta, o aumento da Selic, antes da hora, já que a economia ainda não se recuperou, é a primeira grande fatura a pagar pelo excesso de gastos em 2020, que elevaram a dívida pública a 90% do PIB. Possivelmente, não a primeira. Mas é o preço da crise fiscal.
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