Anvisa cumpre legislação ao cancelar jogo Brasil x Argentina, mas lei já se tornou obsoleta e precisa ser mudada
Com o avanço da variante Delta, não se faz mais necessário ter tantas regras para estrangeiros; país precisa investir em eventos-teste no esporte nacional para voltarmos a ter um mínimo de normalidade
O futebol, esporte nacional que movimenta paixões e gera inúmeros questionamentos, não poderia ficar ileso no cenário da Covid-19. Nas eliminatórias para a Copa do Mundo no Catar, em 2022, tomou manchete mundial o jogo entre nós e os “hermanos”, maior clássico da América do Sul. O cancelamento da partida foi correto? Se formos nos basear na portaria número 655 de 23 de junho de 2021, em total acordo. A Anvisa, nosso órgão regulatório, fez apenas cumprir a lei em vigência. Precisava ser no começo da partida? Para alguns, foi feito um circo ao se autuar os quatro jogadores argentinos de forma veemente e deportá-los com toda pompa e circunstância. Para os 1.500 convidados, uma total frustração, por estarem presentes seguindo todas as medidas de segurança e sanitárias estabelecidas. Aqui vale um comentário para a organização e esmero da CBF em fazer cumprir as medidas protetivas subsidiadas por seu comitê científico, que embasa todas as medidas em vigor.
A verdade é que os atletas foram comunicados que deveriam permanecer em quarentena dentro do quarto do hotel. Ousaram não cumprir a determinação e ainda foram treinar, deixando as autoridades perplexas. Cumprir a lei foi determinante para se ter o respeito de todo o mundo, mesmo que o mundo gostaria de ter assistido ao embate entre o nosso Neymar Jr e Messi. Teria sido uma grande partida em um belo domingo ensolarado. Analisando esta portaria, creio que deveria ser revogada – ou ao menos atualizada. Vejamos que a variante Delta é dominante em boa parte do cenário mundial e, no Brasil, vem assumindo papel de destaque, já sendo a de maior incidência na maioria dos Estados, quando comparamos com a nossa variante Gama. Assim, ter alguém estrangeiro com tantas regras e percalços não se faz necessário neste momento. Além disso, o vírus, ao que sei, não tem nacionalidade de passaporte. Assim, rever conceitos em uma doença que muda frequentemente as situações epidemiológicas é providencial.
Seguindo pelo futebol, os eventos-teste com nosso esporte nacional devem existir. Mantidos, claro, todos os critérios protetivos e exames laboratoriais aplicados em momentos adequados, além de vigilância de todos. Os dados do jogo do Atlético-MG apontaram para 0,1% de pessoas infectadas, mesmo com as situações bizarras que pudemos observar no entorno do estádio e até mesmo durante a partida, com torcedores abaixando suas máscaras de proteção. Os jogos que devem ocorrer no Rio de Janeiro também serão de modo teste, porém com parcela maior de público. Um risco? Difícil afirmar. Se o evento é chamado de teste, é para analisar a segurança de como poderia ser à frente. Na Espanha, se fez evento-teste em concerto de música com milhares de pessoas, e a crítica não foi tão dura como se nota por aqui.
Temos de tentar voltar a um mínimo de normalidade. As pessoas estão saturadas e com distúrbios psicológicos que geram outras enfermidades, que, a longo prazo, vão custar também aos nossos cofres públicos. Com o avanço da vacinação no Brasil, provavelmente até novembro, teremos mais de 80% de indivíduos maiores de 18 anos imunizados com duas doses ou dose única. Um grande avanço quando voltamos aos índices de janeiro e fevereiro e tudo engatinhava. Devemos reforçar que as pessoas regressem para a segunda aplicação. Ainda existem muitas fake news que distorcem a verdade da ciência. Devemos caminhar para estar entre as dez nações acima de 75% totalmente imunizadas. Fruto de trabalho sério dos médicos, do SUS, dos Estados e dos municípios. Vamos vencer este jogo da vacina.
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