Política de autoteste de Covid-19 só deveria ser implementada em caráter de excepcionalidade
Qual é o impacto favorável? Usuários conseguirão realizar de modo adequado? Qual a validação a nível laboral? Perguntas sem respostas como essas colocam em xeque a eficácia da medida
A pandemia da Covid-19 continua a castigar todos os países do globo terrestre. A variante Ômicron já se faz presente em todos os continentes e, seguramente, é a mais frequente. Com alto poder de transmissibilidade, eleva o número de infectados a nível mundial, mas não aumenta o número de óbitos. A vacina está cumprindo, e muito bem, o seu papel de evitar casos graves e mortalidade. Com este aumento de casos, obviamente, o número de diagnósticos tende a aumentar e, aqui, já há um problema que nos deparamos. O desabastecimento dos testes de diagnóstico, tanto do RT-PCR como do teste rápido de antígeno, já está nítido entre os usuários e confirmado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica.
Estamos voltando ao início da pandemia? Naquela época, ninguém conseguia fazer diagnóstico, tudo era muito nebuloso e tínhamos de aliar a clínica para uma suposição diagnóstica. A busca por testes cresce porque se precisa para indicar isolamento ou para fazer viagens internacionais. Os médicos querem e precisam confirmar a contaminação para uma conduta mais precisa e informar ao paciente sobre os cuidados que necessita realizar em caso de positividade. Vamos voltar ao período em que faremos diagnóstico clínico deixando os casos mais graves e de risco para a realização dos exames. Não é o melhor dos mundos, mas é o que está acontecendo.
Se não bastasse tudo isto, vem à baila a questão do autoteste para Covid-19. Será que terá o impacto favorável? Os usuários irão conseguir realizar o teste de modo adequado? Qual a validação a nível laboral? São inúmeras perguntas que não temos respostas. E tem ainda a questão que, durante a técnica da coleta, o indivíduo possa causar um trauma nasal. Pensaram nisso? Sem uma política pública bem definida, vamos jogar dinheiro e desperdiçar tempo das pessoas. Se positivo, precisa ser confirmado. Como comprovar isso? Qual local será destinado a uma nova coleta? Só mesmo em caráter de excepcionalidade para aceitar esta política de autoteste. Em países menores, como o Reino Unido, tem funcionado bem, mas várias campanhas de educação foram feitas para orientar a população. Ainda vamos passar por muitos momentos conturbados e precisamos ter calma e discernimento de tudo.
Vejo um horizonte melhor do que há um ano. Mas isso significa que estamos caminhando para uma calmaria virológica? Provavelmente, sim — se não surgir outra variante de preocupação tão forte. Cada dia aprendemos mais sobre a Covid-19. O que precisamos e tenho muito claro é intensificar a vacinação em todo o Brasil e fortalecer a das crianças, que irão trazer um beneficio impar mais a frente com dados reais.
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