Quantas doses são necessárias para combater a Covid-19? 

Sem dados consistentes e robustos para aprovar a quarta aplicação, não podemos correr o risco de misturar ciência e política

  • Por Sergio Cimerman
  • 31/03/2022 07h00
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Denny Cesare/Código 19/Estadão Conteúdo - 21/03/2022 Enfermeira, com avental, máscara e touca, aplica a vacina no braço direito de um idoso de boné Homem recebe aplicação de vacina contra a Covid-19 em posto de saúde de Campinas

A Covid-19, apesar da guerra na Ucrânia, vem merecendo destaque na mídia, como não poderia ser diferente. A pandemia, ao contrário do que pensam muitos ou caçoam jocosamente alguns ainda não acabou. Os casos continuam a aparecer no mundo todo, mesmo em populações plenamente vacinadas, porém com menor taxa de internação hospitalar e mortalidade. A vida está voltando ao normal, mas com cuidados que ainda merecem ser impostos. Em nosso país, a vacinação está longe de ser efetiva, e isso deixa uma parcela considerável da população ressabiada. Precisamos intensificar cada vez mais a busca pela terceira dose. Muitos já questionam a quarta. Justifica-se?

Ainda não temos dados consistentes e robustos, apesar de os órgãos americanos FDA e CDC já terem aprovado esta nova dose de reforço para pessoas acima dos 50 anos de idade. Foi precoce? Neste momento, sim. Apenas um estudo israelense, ainda não julgado pelos pares, foi usado, mas não há nada publicado. Existe muita questão política por trás de tudo. Não podemos, em hipótese alguma, misturar ciência e política. Elas não rumam no mesmo sentido. O Programa Nacional de Imunização (PNI) já emitiu parecer para que imunossuprimidos e idosos acima de 80 anos possam tomar este novo reforço. Nestes casos, sem dúvida, alguma a dose extra é fundamental. Nota-se que tais grupos têm taxas de mortalidade maiores do que quaisquer outros. É necessário trabalhar junto a essa fatia da população com mais afinco para explicar por que eles devem buscar a quarta dose nas unidades de vacinação. O Brasil virou referência na vacinação. Estamos realmente de parabéns, mas devemos, sistematicamente, mencionar a vacina e combater os negacionistas de plantão.

Outro ponto de discórdia neste momento recai sobre a obrigatoriedade das máscaras, tanto em ambientes abertos como fechados. Existe um entendimento equivocado de muitos. Saímos da obrigatoriedade para a recomendação. Existem casos de populações vulneráveis que devem manter seu uso, sim. Muitos ainda não entendem. Os casos despencaram, sim. Não pela diminuição dos exames positivos nem por falta de teste, mas pelo enfraquecimento do vírus (se podemos usar isso como termo correto). Houve muitos julgamentos errôneos, até mesmo por parte de médicos, que previam uma explosão de casos após o Carnaval. Não ocorreu. A decisão do comitê científico de Covid-19 do Rio de Janeiro se mostrou acertadíssima, pois foi baseada em análises bem-sucedidas de números de casos e internações hospitalares. Por lá tiraram a máscara antes de São Paulo

O que temos de observar sempre é analisar o momento epidemiológico que vivemos. Retroceder, sim, caso existam evidências de avanço da doença, e ser mais arrojado se for possível. Vamos caminhar no caso da Covid-19 como uma enfermidade respiratória nos moldes da influenza. Tomar cuidados necessários, fazer campanhas de vacinação e ter medicamentos que possam suprir a falha da vacinação para evitar mortes. Só há uma única dúvida que, até agora, a comunidade científica não consegue dirimir: quantas doses de vacina deveremos tomar? Com os estudos caminhando em velocidade intensa, deveremos ter uma resposta rápida e, assim, tranquilizar toda a população mundial. Populações mais vulneráveis devem ser submetidas a mais doses. Quantas? Saberemos mais à frente se não aparecer uma nova variante que desmonte tudo o que está sendo desenvolvido neste momento. Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Provérbio bem atual em tempos de Covid-19.

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