“Trabalho infantil não pode ser um problema invisível”, afirma Nobel da Paz
Noemí Jabois.
Nova Délhi, 11 out (EFE).- Ao longo de toda uma vida dedicada a lutar contra o trabalho infantil, o indiano Kailash Satyarthi libertou mais de 80 mil crianças da exploração, um problema social que acaba de ganhar mais visibilidade global graças a seu reconhecimento nesta sexta-feira com o Nobel da Paz.
O presidente da Marcha Global contra a Exploração Infantil sente que, com sua escolha, o Comitê do Nobel fez seu “maior reconhecimento às crianças mais desfavorecidas, desatendidas e exploradas da terra”, disse à Agência Efe em entrevista.
A ânsia por ajudar estes menores nasceu no interior de Satyarthi quando só tinha “quatro ou cinco anos” e via, no caminho para o colégio, outras crianças indo trabalhar, segundo lembrou na sede de sua ONG em Nova Délhi.
“Não sabia o que fazer nem como fazer, porque o emprego infantil não era um problema nem em meu país nem em nenhum outro lugar do mundo”, comentou.
Por isso, o futuro Nobel da Paz teve que aprender de sua própria experiência, algo que lhe resultou “muito duro” por não ter “nada nem ninguém” que lhe mostrasse o caminho a seguir.
Satyarthi calcula que na Índia há 50 milhões de menores trabalhadores, o que a transforma na nação do mundo com maior incidência de exploração infantil, um problema que afeta 168 milhões de crianças no mundo todo.
Consciente disso, este ativista social adverte que, apesar deste assunto representar um “grave problema” para a Índia, por trás dele existem “muitas dimensões globais e razões pontuais”.
Satyarthi insiste que o gigante asiático “há de trabalhar mais duro”, mas se mostra otimista ao assegurar que seu Nobel servirá para que a indústria corporativa compreenda que o trabalho infantil “não pode continuar sendo um problema invisível”.
Os números também parecem promissores, já que quando Satyarthi começou sua luta, há duas décadas, havia no mundo 250 milhões de menores afetados.
O defensor da infância indiano compartilhou o prêmio com a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, a quem ele considera como “uma irmã mais novo ou uma filha”.
Ao conceder o prêmio a um indiano e a uma paquistanesa, o Comitê do Nobel pretendeu aproximar estas duas potências nucleares enfrentadas há décadas pela região da Caxemira, dividida entre ambos países.
De fato, o anúncio dos laureados chegou em meio a uma das maiores violações do cessar-fogo estipulado em 2003 entre estas nações, na qual mais de 20 civis morreram dos dois lados da fronteira.
O ativista nascido no estado indiano de Madhya Pradesh acredita que “as tensões, a violência, as confusões e dúvidas” que caracterizam a relação de seu país com seu “vizinho mais próximo” é um assunto primordial.
Por isso, quando falou ao telefone com Malala, lhe transferiu seu interesse por encontrar formas entre os dois para aumentar a conscientização contra a violência na região.
Após ter sido indicado ao Nobel oito vezes, a concessão foi para ele “uma grande surpresa”, da qual se inteirou pelos meios de comunicação.
Vestido com um traje tradicional indiano e um grande sorriso de satisfação, Satyarthi não parou de receber visitas de jornalistas, companheiros e crianças em seu escritório desde a divulgação da notícia. EFE
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