Pragmatismo na disputa por SP é bom, mas antecipação de chapa amplia risco de desgaste
Segundo interlocutores de Bolsonaro, Salles se precipitou ao lançar candidatura apenas um mês após assumir o mandato na Câmara; ex-presidente também não gostou das críticas do deputado à atuação dos militares na Amazônia, nem da polarização pública criada em relação a Nunes
Ricardo Salles foi abandonado por Jair Bolsonaro na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo. Pesou o pragmatismo, considerando o mapa eleitoral de 2022 que mostrou a capital dominada pelo voto de esquerda, tanto para presidente como para governador. O ex-presidente entendeu que um candidato de direita, como cabeça de chapa, teria poucas chances contra Guilherme Boulos. Optou então por apoiar a reeleição de Ricardo Nunes, visto como um nome de centro. Nessa equação, Bolsonaro indicará o vice com apoio do PL. O ex-ministro do Meio Ambiente é do mesmo partido, foi eleito deputado federal com 640 mil votos e terá um belo palco nos próximos meses como relator da CPI do MST. Por que, então, foi descartado?
Segundo interlocutores de Bolsonaro, Salles se precipitou ao lançar sua pré-candidatura apenas um mês após assumir o mandato na Câmara, o que gerou diversas críticas entre lideranças do interior paulista — onde obteve a maior parte dos votos. O ex-presidente também não gostou das críticas do deputado à atuação dos militares na Amazônia, nem da polarização pública criada em relação a Nunes, o que gerou uma desnecessária saia-justa para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que prioriza a relação com o prefeito. A fama de ‘cabeça quente’ de Salles acabou corroborada por seu próprio comportamento ao ser descartado, atirando em Valdemar Costa Neto, dono do PL, e no próprio Bolsonaro.
Valdemar já vinha dando sinais de que não apoiaria a candidatura de Salles, que procurou o cacique nos últimos meses para tentar obter em vão sua bênção. Com as críticas públicas, o deputado agora corre o risco de ser expulso do PL ou ficar na geladeira por um bom tempo, sem qualquer apoio para novos projetos — a menos que se agigante como relator da CPI do MST. A precipitação de Salles, segundo esses interlocutores, acabou forçando a antecipação também das articulações políticas em torno da reeleição de Nunes, expondo o prefeito desnecessariamente.
Valdemar e Bolsonaro agora avaliam o melhor candidato para compor a chapa de Nunes. De ontem para hoje, ganhou força o nome de Fábio Wanjgarten, que já recebeu o apoio público de Gilson Machado e Silas Malafaia. “O Wajngarten sempre esteve conosco desde 2017, nunca pediu nada, sempre entregou muito. É da cozinha do presidente, toma Tubaína com ele há muito tempo. Se ele aceitar, coisa que precisa ser trabalhada, seria golaço. Vejo problema para o Boulos”, escreveu o ex-ministro do Turismo. “Um amigo capaz, leal e com princípios inegociáveis”, arrematou Malafaia.
Fiel a Bolsonaro, o advogado e empresário tem apoiado o ex-presidente de forma incondicional, rebatendo acusações no Twitter e acompanhando Bolsonaro em suas oitivas na Polícia Federal. Mantém relação cordial, porém crítica, com Tarcísio, e se aproximou de Ricardo Nunes, hoje assessorado pelo marqueteiro Duda Lima, que fez a campanha de reeleição de Bolsonaro. Tem trânsito com a imprensa. O problema é que, caso já se confirme a chapa Nunes-Wajngarten, ambos ficarão sob os holofotes por mais tempo que o recomendável numa disputa eleitoral, pelo risco de desgaste de imagem até outubro de 2024. A saída, claro, será chamar Guilherme Boulos para a briga.
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