Após manifesto, divergências dificultam união dos partidos de centro

  • Por Estadão Conteúdo
  • 17/06/2018 10h02
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Waldemir Barreto / Agência Senado Waldemir Barreto / Agência Senado Um dos idealizadores do manifesto, senador Cristovam Buarque afirma enxergar um "vazio político" no horizonte
Apresentada em gabinetes do governo e do Congresso Nacional como solução para enfrentar a instabilidade política, a aliança entre partidos de centro nas eleições presidenciais está cada vez mais difícil de sair do papel. Agora, até mesmo idealizadores do chamado manifesto “Por um Polo Democrático e Reformista” começam a divergir sobre o que fazer diante da apatia que tomou conta das pré-campanhas do bloco, ao mesmo tempo em que líderes do MDB e do DEM também buscam alternativas políticas para se reposicionar na disputa eleitoral deste ano.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), por exemplo, afirma enxergar um “vazio político” no horizonte e admite ter dúvidas sobre a musculatura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, para chegar à segunda rodada da disputa. Um dos formuladores do manifesto, Cristovam propõe que o documento – que foi chancelado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso -, seja substituído pela indicação de um candidato do grupo suprapartidário.

“Não podemos negar o fracasso daquele manifesto, que faz um apelo pela união do centro nas eleições. Então, já que não conseguimos unir ninguém, devemos escolher um nome”, disse Cristovam ao Estado. “Temos de indicar logo alguém que tenha chance de ir para o segundo turno”, acrescentou ele.

Embora o PPS apoie Alckmin na corrida à Presidência, o senador não escondeu a preocupação com a viabilidade eleitoral do tucano “O Alckmin mesmo está passando essa dúvida. Ele precisa demonstrar logo que tem condições de crescer”, argumentou. Já existem alas do PPS que passaram a pregar, por exemplo, uma aproximação com a pré-candidata da Rede, Marina Silva.

A posição de Cristovam, que já enviou propostas sobre educação para o programa do tucano, provocou contrariedade no PSDB num momento em que até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já defendeu conversas com Marina. Após o mal-estar com Alckmin, Fernando Henrique gravou um vídeo cheio de elogios ao ex-governador e vai participar de nova divulgação do manifesto – lançado recentemente numa cerimônia esvaziada, em Brasília -, o que está programado para o próximo dia 28, em São Paulo.

No vídeo, Fernando Henrique se referiu a Alckmin como “um homem preparado”. “É um homem que sabe que é preciso olhar para o gasto público, mas ele sobretudo é um homem pessoalmente simples, um homem ligado à população.”

“O espírito do nosso movimento é o de ajudar na construção de pontes. Queremos ser o fermento, mas não é nosso papel indicar um candidato de centro. Isso cabe aos partidos”, reagiu o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB e um dos redatores do documento, hoje alvo de críticas.

‘Bombas’

Cristovam discorda e acha que é preciso uma ação mais contundente, para criar um fato político. “Estamos entre a catástrofe e o desastre nas eleições”, insistiu. “Se (Donald) Trump e Kim (Jong-un) fizeram um encontro para desarmar as bombas atômicas deles, como a gente não consegue desarmar as nossas bombas, que estão aí explodindo todos os dias?”, questionou ele, numa referência à reunião histórica entre o presidente americano e o ditador da Coreia do Norte, na semana passada em Cingapura.

Na quarta-feira, Cristovam chegou a encaminhar uma carta ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), na qual defendeu a convocação de “um grande encontro de lideranças” para a discussão de um pacto que permita “superar o vazio político”.

A proposta, considerada utópica, prevê o reconhecimento dos erros cometidos por cada partido, ao longo dos últimos anos, além da identificação de pontos que possam servir de compromisso público para a travessia dos próximos meses – ao menos até as eleições de outubro.

“O Brasil apresenta todos os sintomas de uma crise em marcha para desagregação social”, diz um trecho da carta, a qual o Estado teve acesso. “Em condições normais, as poucas semanas que nos separam das eleições seriam motivo de otimismo. Mas as atuais condições, a violência generalizada, o sectarismo político, a desconfiança moral e a perplexidade intelectual apontam as eleições como um fator de perturbação, mais do que de esperança”, acrescenta o documento.

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