Como a Câmara deve se comportar com Bolsonaro ou Haddad na presidência

  • Por Nicole Fusco
  • 08/10/2018 18h04 - Atualizado em 08/10/2018 19h01
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Agência EFE Os candidatos à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)

A Câmara dos Deputados ganhou uma nova composição nestas eleições. O Partido Social Liberal (PSL), do presidenciável Jair Bolsonaro, conseguiu ocupar 52 das 513 cadeiras. Está atrás somente do Partido dos Trabalhadores (PT), cuja bancada é composta por 58 parlamentares. Ou seja, se o ex-capitão do Exército vencer no segundo turno, marcado para o próximo dia 28, ele terá uma oposição ferrenha na Casa. O mesmo vale para o petista Fernando Haddad, caso saia vitorioso da disputa.

Embora a situação tenda a mudar nos próximos dias, até agora nenhum dos dois conseguiu arregimentar o apoio de outras legendas. O PSL tem apenas o PRTB, do general Hamilton Mourão, o apoiando — o partido do vice, no entanto, não conseguiu eleger nenhum candidato à Câmara. O PT, por sua vez, tem o PCdoB, da vice Manuela D’Ávila, e o PROS. Juntos, os três têm 73 deputados federais.

No domingo (7), depois de receber o resultado do primeiro turno, o candidato à presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, não quis nomear quem deve apoiar na segunda etapa da eleição, mas afirmou que “ele não, sem dúvida”. A declaração foi uma clara referência a Bolsonaro e ao movimento #EleNão que surgiu nas redes sociais contra o ex-capitão.

Marina Silva (Rede), por sua vez, declarou que, “independentemente” de que vença o segundo turno, ela e seu partido vão fazer oposição ao novo governo. “O Brasil precisa de uma oposição democrática. Podemos assegurar: estaremos na oposição porque é a única forma de quebrar o ciclo vicioso”, afirmou.

Já o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, afirmou que a executiva do partido deve se reunir nesta terça-feira (9) para decidir, entre outras coisas, sobre um eventual apoio. João Doria, que concorre ao governo de São Paulo pela legenda, aproveitou a onda bolsonarista para declarar seu voto ao candidato do PSL. “A partir de amanhã vamos apoiar Jair Bolsonaro (PSL) para presidente da República”, disse ainda no domingo.

O presidencialismo de coalizão e as alianças

A professora Maria do Socorro Braga, da UFSCar, explica que no sistema político brasileiro de presidencialismo de coalizão o apoio das outras siglas é “importantíssimo”. Segundo ela, embora Bolsonaro tenha pregado, desde o início da campanha, que é o candidato anti-sistema, vai precisar negociar com as demais siglas para aprovar sua agenda de mudanças.

Ele precisa, por exemplo, ter no mínimo maioria simples para aprovar medidas provisórias e dois terços da Câmara para aprovar mudanças na Constituição. De qualquer forma, de acordo com ela, ambos os candidatos terão que se debruçar mais sobre o centro do espectro ideológico antes do segundo turno para conseguir o apoio do eleitorado que rejeita o candidato opositor.

Para o professor de filosofia política Luiz Bueno, da Faap, o petista é o que terá mais dificuldades de governar, caso se eleja. “O antipestismo está muito forte. Precisamos ver quais partidos vão aderir ao PT mesmo com essa alta rejeição”. Bueno, porém, critica a atuação de muitos partidos do chamado Centrão (bloco composto por DEM, PP, PRB e Solidariedade) que apoiaram Alckmin, mas podem vir a apoiar Haddad. “Eles não são muito ideológicos. Alguns já têm histórico de mudar de lado conforme a conveniência”, disse.

Nanicos em ascensão

Se hoje o PSL é a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, há quatro anos a legenda havia conseguido eleger apenas um parlamentar — mesmo número de 2010, 2002 e 1998 (em 2006 nenhum candidato foi eleito). O partido era considerado nanico até o início deste ano, quando Bolsonaro ingressou na sigla.

Nesta eleição, outros partidos pequenos também conseguiram eleger um número maior. É o caso do Patriota, que tinha apenas 2 deputados e passou para 5. O Avante também tinha 2 parlamentares (quando ainda se chamava PTdoB) em 2014 e, neste ano, subiu para 6.

O mesmo movimento foi feito pelo PSOL, que tinha 5 deputados e foi para 11. O Podemos, que antes se chamava PNT, também elegeu 11 parlamentares, mas tinha apenas 4 na eleição passada.

“Esse é um marco do sistema político brasileiro. Talvez seja um movimento irreversível”, analisou o filósofo político Luiz Bueno. “Essa é a primeira vez que teremos um confronto direto de olhares muito diferentes de um mesmo país”.

Bueno, porém, não classifica esse movimento como novo. Segundo ele, vem se desenhando desde 2013 com as manifestações que ganharam as ruas contra o aumento de R$ 0,20 no preço do transporte público inicialmente e que depois se espalharam para reivindicações contra a corrupção. “Na época, se falava que esse era um movimento apartidário, mas logo foi tornando uma expressão da direita”, concluiu.

Mas se os nanicos, por um lado, tiveram sua ascensão, os partidos tradicionais, por outro, sofreram uma grande perda. O MDB, que historicamente sempre esteve entre os três com o maior número de deputados federais, agora está na quarta colocação: passou de 65 eleitos em 2014 para 35. O PSDB também viu seu agrupamento diminuir. A bancada, que elegeu 54 deputados federais na eleição anterior, agora tem apenas 29 parlamentares.

Para os especialistas, a conjuntura federal explica esse fenômeno.”Eles dois apoiaram o presidente Michel Temer. O PSDB só no final do ano passado deixou o governo”, lembra Maria do Socorro.

Bueno, por fim, ressalta a combinação de dois outros importantes fatores. “Muitos desses nanicos subiram com base na popularidade de Jair Bolsonaro. Somado a isso há insatisfação do eleitor com os partidos tradicionais, que estão envolvidos, principalmente, na Operação Lava Jato”, concluiu.

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