Haddad esboça choro ao falar de Lula preso: ‘é uma dor muito grande’
O candidato a vice na chapa petista, Fernando Haddad, foi a voz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso na Lava Jato e candidato ao Planalto, em entrevista a blogueiros nesta terça-feira (7). O ex-ministro da Educação do líder petista negou, porém, que vá pedir para participar dos debates televisivos no lugar do cabeça da coligação e defendeu a presença de Lula.
Haddad voltou a sugerir um controle externo “popular” da Justiça, do Ministério Público e da mídia. O ex-prefeito também disse que o Supremo Tribunal Federal “faz o seu papel” ao discutir a descriminalização do aborto.
Haddad reafirmou a tese do discurso petista de que a prisão de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso tríplex faria parte do “golpe” iniciado com o impeachment de Dilma Rousseff. Mas minimizou o apoio a Lula recebido por políticos que teriam apoiado o impedimento de Dilma, como o senador Renan Calheiros (MDB). Haddad defendeu a “liberdade de expressão” dos políticos, disse ser “inevitável” que candidatos do Nordeste apoiem Lula, mas alfinetou: “A pessoa declarar apoio ao Lula às vezes é por honestidade, às vezes é por esperteza, mas é inevitável que se faça isso”.
Nos últimos minutos da entrevista, Haddad marejou os olhos e disse que sente uma dor muito grande quando visita o líder petista na sede da Polícia Federal de Curitiba. “Meu amigo, companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, é muito difícil cada dia que eu o visito, posso te assegurar que não é uma coisa agradável de se viver”, disse. “Às vezes as pessoas falam: ‘poxa, você está vendo o Lula, que bom’. Eu não sei se eu gostaria de estar vivendo essa situação sinceramente. É uma dor muito grande. Posso te assegurar que não é um sentimento só meu. Muita gente está com o coração muito apertado pelo que o Lula está vivendo”, discursou.
Assista ao depoimento completo de Haddad aos “blogueiros progressistas”:
Fernando Haddad fala sobre o Plano Lula para o Brasil em entrevista para blogueiros. #planoLula
Publicado por Lula em Terça-feira, 7 de agosto de 2018
“Nós não vamos abrir mão de Lula”
Haddad até foi questionado pelos “blogueiros progressistas” sobre o plano do PT caso a candidatura de Lula seja de fato inviabilizada. E qual papel o ex-presidente teria em um eventual governo petista. Mas o atual vice da chapa preferiu, na resposta, focar em questões jurídicas do caso tríplex.
O ex-ministro da Educação usou uma metáfora futebolística e disse que é o Suárez e “Lula é o Messi”. “A minha relação com o Lula é de muita confiança, construída por muitos anos”, disse Haddad.
“Entendo bem minha posição em minha chapa. Eu vou ser muito feliz como possível futuro ministro do governo Lula. A única coisa que eu falei para ele é: ‘eu escolho o ministério se isso acontecer'”, afirmou também Haddad.
Apesar de os próprios membros do PT reconhecerem que Lula não deverá concorrer, o discurso do ex-prefeito é de que trabalhará pela eleição do ex-presidente.
“Vou lutar pela candidatura de Lula e ter a honra de ceder a vaga de vice-presidente para a Manuela D’Ávila, que é uma grande figura de um grande partido, que demonstrou um grau de amadurecimento muito radical num momento difícil da vida nacional”, elogiou Haddad.
Haddad ainda citou editorial do Jornal O Globo de 2013 em que reconheceu o erro ao apoiar o golpe militar de 1964 e comparou a situação ao momento atual. “Levaram 49 anos para chegarem a essa conclusão. Vamos esperar 49 anos para esperar um pedido de desculpas a Lula?”, disse.
“A gente sabe que eles vão se desculpar. Os historiadores vão se debruçar sobre esse processo (do caso tríplex). A gente não tem 49 anos para esperar um pedido de desculpas. Nós não vamos abrir mão do Lula”, concluiu.
Debate
Haddad defendeu que Lula participe dos debates eleitorais.
Um dos pedidos, de participação no primeiro debate, da TV Bandeirantes, já foi negado pelo TRF4. Indicando que o PT deve insistir na tese, Haddad disse que depois do dia 15, quando as chapas presidenciais já estiverem protocoladas, não há por que negar a participação de Lula.
“Como a justiça vai negar algo que está na lei?”, disse Haddad, citando o artigo 16 do Código Eleitoral, que diz: “O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão”.
“Nós vamos lutar para o lula participar dos debates”, garantiu. Questionado se ele mesmo não poderia assumir o papel, Haddad reafirmou: “no meu ponto de vista a defesa é pela participação do presidente em razão da clareza do código eleitoral”.
Alfinetada a Ciro
Em menção indireta ao candidato do PDT, Ciro Gomes, de quem o PT tentou se aproximar na reta final da pré-campanha, Haddad lamentou que a aliança em torno de Lula não tenha sido maior. O ex-prefeito disse que trabalhou pessoalmente para ampliar a frente de esquerda, mas que estabeleceu a condição de que a candidatura fosse em torno de Lula.
“Queríamos estar juntos de outras figuras. Eu queria que a frente fosse mais ampla em torno do Lula”, disse Haddad. “A única questão que eu colocava é que tinha que ser em torno do Lula. Depois se discute qualquer coisa, mas a figura que tem que estar no centro do debate, em função da injustiça cometida e do brilho de seu governo e da sua liderança, é o Lula”.
Em outro trecho da entrevista, Haddad assumiu: “você vai se aliando primeiro com quem mais se parece com você. No segundo turno eu tenho certeza que o PDT vai estar conosco”.
Aborto
Questionado sobre o debate no STF em relação à legalização do aborto, Haddad não entrou no mérito, mas defendeu que a Suprema Corte debata o assunto. O petista disse, no entanto, que entende que “esse é um assunto de saúde pública”.
“Acho que o Supremo, nesses casos em que garantias sociais estão em jogo, pode atuar. O Supremo está fazendo o papel dele”, disse Haddad, rebatendo diretamente a opinião da candidata Marina Silva (Rede), que é contra a ingerência do STF neste assunto e defende um plebiscito sobre o assunto.
“Aqueles que querem plebiscitar tudo estão equivocados”, opinou Haddad. “Existe uma divergência profunda na sociedade sobre direito fundamental”, entende o ex-prefeito.
Haddad comparou a situação ao debate que chegou ao Supremo sobre a diferenciação entre porte e tráfico de drogas. O petista criticou o excesso de encarceramento para a pouca apreensão de drogas. “Você prende e não apreende, e não aprende”, disse.
Agenda de Temer e PSDB
Haddad focou sua crítica à agenda do governo Temer e fez questão de associar o PSDB ao atual presidente. O petista disse que o “golpe parlamentar” (impeachment) foi realizado por um “parlamento instrumentalizado por dois partidos”.
“O golpe deu errado. Eles tinha a expectativa de chegarem bem às eleições. Eles queriam tomar o poder, implementar essa agenda e chegar com condições competitivas hoje. Agora, essa agenda não tem nenhuma respeitabilidade pública”, criticou.
Controle da Justiça e da imprensa
Haddad voltou a defender um controle popular da mídia e da Justiça e negou que as propostas representem um atentado à liberdade de expressão.
O candidato a vice comparou a profissão de jornalista à do médico. “Você tem protocolos na medicina. Isso é tirar a liberdade do médico em agir? Esses protocolos não são a violação de nada. É a segurança do cidadão”, defendeu.
“Quem controla os desembargadores?” questionou também Haddad. “Quem contém o abuso de poder de um procurador? outro procurador?”, disse. O petista quer que “os controles externos sejam efetivos”.
Haddad negou que a tese seja “bolivariana” e citou o filósofo Max Weber: “só tem um jeito de controlar a burocracia, com outra burocracia, diferente da primeira”.
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