O que dizem as mulheres que não votam e as que votam em Bolsonaro

  • Por Nicole Fusco e Eduardo F. Filho
  • 28/09/2018 16h51 - Atualizado em 29/09/2018 11h38
Agência Brasil Candidato lidera as pesquisas, mas também tem a maior rejeição

Mulheres que aderiram à campanha #EleNão nas redes sociais vão às ruas neste sábado (29) para protestar contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). Há atos marcados em todo o Brasil e também em algumas cidades fora do país, como Nova York (EUA), Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha) e Sydney (Austrália). No mesmo dia, também estão marcadas manifestações de eleitoras do ex-capitão da reserva favoráveis a suas propostas.

Essa dualidade pode ser vista nas pesquisas de intenção de voto. O candidato lidera no mais recente levantamento do Datafolha com 28% e ao mesmo tempo é o campeão de rejeição entre o eleitorado feminino com 52%.

Essa rejeição ganhou força neste mês de setembro, após o início da campanha eleitoral no rádio e na TV. O candidato Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, fez duros ataques ao concorrente ao exibir imagens de momentos nos quais ele ofendeu mulheres. Em uma das imagens, o deputado federal aparece empurrando a parlamentar Maria do Rosário (PT) no Salão Verde da Câmara. “Você gostaria de ser tratada desse jeito?”, pergunta a locutora. Em seguida é exibido um outro vídeo no qual chama uma jornalista de “idiota”.

Mas quais são, de fato, os argumentos das mulheres contrárias a Bolsonaro? E o que pensam as eleitoras dele? A Jovem Pan ouviu quatro representantes de cada um dos lados e relata, abaixo, quais foram as respostas.

“Me perturba”, Ísis Ferreira
professora

A professora Ísis Ferreira, de 31 anos, diz que a sua maior repulsa a Jair Bolsonaro é por considerá-lo racista. “Na minha condição de mulher negra, pobre, eu não escolho um candidato que é racista e que classifica quilombolas como se fossem animais”.

Ela se refere a uma palestra na qual o presidenciável fez ataques a negros, indígenas, mulheres, homossexuais e refugiados, em 2017. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, disse na ocasião.

Além disso, para Ísis, o candidato tem um discurso “raso”. “Se pergunta sobre economia, ele não sabe responder; se pergunta como tirar o país da crise, não sabe dar resposta direta. Ele não tem embasamento teórico”, afirmou.

Outro ponto no qual as opiniões de Ísis e de Bolsonaro divergem é em relação à homossexualidade. “O discurso dele me perturba”, diz ela. “A família tradicional já caiu por terra. São as mulheres solteiras que cuidam de seus filhos”.

“Que discurso?”, Laura Rejane
Auxiliar administrativa

Para a auxiliar administrativa Laura Rejane, de 54 anos, é “incontestável” o fato de Jair Bolsonaro ser “honesto, contra o comunismo, ter um viés conservador de direita e não se sujeitar a conchavos políticos”. “Acompanho a vida política dele há cerca de 5 anos. Por isso, posso dizer que ele me representa”, disse.

Segundo ela, a acusação de que o candidato é machista é algo “distorcido e tendenciosamente manipulado”. “Ele simplesmente falou que toda mulher que trabalha e é mãe sabe: Que o empresário muitas vezes prefere empregar um homem a escolher uma mulher.”

Quando questionada sobre o que pensa a respeito do discurso de Bolsonaro sobre negros e homossexuais, ela respondeu: “Que discurso?”. Para ela, o deputado vê a cor da pele como a única diferença entre brancos e negros. “Quanto aos homossexuais, Bolsonaro ganhou mais este estigma de homofóbico, simplesmente, porque lutou e luta até hoje contra o famigerado ‘kit gay’.”

“É um atestado de óbito”, Laura Ortlda
Pedagoga

A pedagoga Laura Ortlda diz temer pela vida dela e de sua família caso Bolsonaro assuma o Palácio do Planalto. “Um homem que fala que o filho não vai namorar uma mulher negra porque ele não se envolve com ‘promiscuidade’; que não consegue ver a segurança pública como falta de investimento em educação… Para mim, é quase um atestado de óbito ele assumir”, afirmou ela, que é negra.

Outra preocupação de Laura é em relação a uma das principais propostas do candidato: a legalização do porte de armas. “É legalizar o homicídio”, criticou. “Não acredito que o porte de armas vai proteger a mulher, o cidadão, como ele diz. Na verdade, acho que tende a acontecer um número maior de homicídios, por causa da irresponsabilidade e da imaturidade das pessoas.”

“Não enxergo como ataques”, Illana Zatz
Estudante de Direito

A estudante de Direito Illana Zatz afirma que as críticas feitas a Jair Bolsonaro partem de pessoas que não o conhecem. “Não sabem do seu senso de humor”, afirmou. Ela criticou o fato de que, segundo ela, não é possível fazer uma brincadeira hoje em dia sem ser atacado por quem pensa diferente. “Eu o conheço pessoalmente. Ele sempre foi muito respeitoso, bem humorado e atencioso”, afirmou.

Illana também negou que o candidato do PSL seja racista ou homofóbico. “As frases foram distorcidas ou tiradas de contexto”, defendeu. “Sou esposa e neta de negros e tenho amigos e parentes homessexuais. Jamais apoiaria um candidato contrário a mim ou aos meus”, argumentou.

Ela contou ainda que votou contra o estatuto do desarmamento, lei sancionada em 2003. “Tinha 17 [anos] e fiz questão de votar contra”. De acordo com Illana, “o Estado não tem condições de garantir a segurança de todos os cidadãos”. Além disso, a estudante também acredita que “quem quer matar, assume um jeito”. O atentado a Bolsonaro é um exemplo. “Em Minas, arma branca é proibida e ele foi esfaqueado do mesmo jeito”, concluiu.

“Risco”, Thais Braúna
Estudante de pedagogia

“Bolsonaro aproveita a crise de segurança pública que vivemos para se promover, mas não fez nada pela segurança do Rio de Janeiro em trinta anos de vida pública”. A fala é da estudante Thais Braúna, de 20 anos. Para ela, o presidenciável do PSL ficou famoso pelas polêmicas nas quais se envolveu “e não pelas suas realizações”.

O que mais preocupa a jovem são os pensamentos do candidato, que ela classificou como “misóginos, opressores e desrespeitosos com grupos sociais”. “Para nós, mulheres, todas as causas são válidas, mas nós nos preocupamos mais com o risco que ele representa à busca por equidade social”, afirmou.

Ela também se preocupa com a legalização do porte de armas. “Para tratar do problema da violência temos que desarmar o crime, e não armar o povo, ou vamos ter um derramamento de sangue ainda maior”, disse. “Se pessoas treinadas falham com as armas, o que a população comum, tomada pelo medo, não é capaz de fazer?”, questionou.

“Se fosse para meu marido, não o escolheria”, Kati Ribeiro
Dona de casa

“Se fosse para meu marido não o escolheria, mas não estou escolhendo um marido e sim um presidente”, explicou a dona de casa “Feminina, feminista não”, de 49 anos, Kati Ribeiro.

Para ela, o candidato do PSL é a “possibilidade de mudança” que não vê em nenhum outro concorrente. Kati acredita que todas as declarações de Bolsonaro referente a mulheres, negros e homossexuais são “editadas e, sinceramente, é o jeito dele”. “Se tiver que escolher dentre Maria do Rosário e Bolsonaro, o escolho pois o que ela defende não me representa”, explicou, fazendo referência ao discurso da deputada sobre os crimes de Champinha que ocasionou no famoso discurso sobre estupro.

Ela também é a favor do porte de armas “com todo o rigor necessário”, mas acredita que Bolsonaro não sairá distribuindo armas “como as pessoas acham”.

“É abrir os portões do inferno”, Marina Alves
Assistente de cobrança

A “autopreservação” é o maior motivo para Marina Alves não querer votar no candidato Jair Bolsonaro. Ela explica seu argumento: o presidenciável é um dos autores do Projeto de Lei 6050, que desobriga o Sistema Único de Saúde (SUS) de atender mulheres vítimas de violência sexual.

“Ele diz que vai ‘combater o estupro a mulheres’, mas, além de não dizer como, suas ações não demonstram compromisso algum em acabar com esse problema no Brasil”, criticou Marina. “Pelo contrário, ele trabalha para que essas mulheres acabem desamparadas.”

Segundo ela, “é fácil saber para quem Bolsonaro trabalha”. “A quem vai beneficiar [a legalização do porte de armas] senão à indústria armamentista?”, questionou. “É só olhar para as ameaças que recebemos diariamente de seus simpatizantes. O que não fariam com uma arma na mão?”.

A assistente de cobrança argumenta que, se o Brasil revogar o estatuto do desarmamento, o país caminhará na direção contrária de outras nações, como os Estados Unidos, por exemplo, que tem discutido a legalização do porte depois de diversos episódios de tiroteios em escolas e eventos.

O discurso do candidato em relação à homossexualidade também preocupa Marina. “Não se trata simplesmente de opinião; é a naturalização da violência contra a população LGBT sob o pretexto de proteção à família”, criticou. “Ter uma pessoa, no mais importante cargo de uma nação, que diz que bateria num casal homoafetivo na rua; que prefere ter um filho morto a um filho gay; é afirmar que está tudo bem pensar assim e agir de acordo com esses princípios”, disse. “É abrir os portões do inferno”, concluiu.

“Nunca ouvi um discurso de ódio da boca dele”, Vanessa Pacheco criadora do grupo ‘Mulheres com Bolsonaro #17’

“Nunca ouvi um discurso de ódio da boca dele contra negros, homossexuais e mulheres”, diz Vanessa. “Tanto respeita as mulheres, que as ex-mulheres estão fazendo campanha para ele também”. Sobre o mais recente caso divulgado pela revista Veja, a curitibana de 27 anos é enfática ao dizer que “a mídia distorce muito os fatos” e que “a própria ex-mulher já desmentiu o caso”.

A “simplicidade” e a “verdade” foram os fatores primordiais que fizeram Vanessa escolher o candidato na urna. “Quando ele tem que falar que não sabe algo ou que sabe muito pouco, ele fala. Isso já demonstra uma honestidade fora do comum”, explica ela que também não se considera feminista, mesmo tendo “estudado suas raízes e vertentes”.

Ela também é a favor do porte de armas, desde que as pessoas “estejam aptas para isso”, pois todos têm “o direito de se defender”.

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