O princípio do fim da Grande Muralha da China

  • Por Agencia EFE
  • 09/07/2015 10h26
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Tamara Gil.

Pequim, 9 jul (EFE).- Não tem quem defenda a Grande Muralha. O império chinês do século XXI já não precisa de fortificações de pedra e tijolo e seu maior emblema desmorona pela falta de atenção. Quase um terço da construção já desapareceu e os especialistas agora temem o pior: que passe a ser apenas uma lembrança.

O clima, o vandalismo e a negligência fizeram desaparecer quase dois mil dos sete mil quilômetros da Grande Muralha que foram construídos durante a dinastia Ming (1368-1644), trechos considerados como a muralha genuína, pois foi nessa época em que viveu seu maior esplendor, conforme dados oficiais divulgados na semana passada.

“A situação não é boa”, afirma um funcionário da instituição encarregada da conservação deste símbolo nacional, uma construção cuja manutenção é cara e difícil.

A Grande Muralha, uma estrutura formada por diferentes partes, passa por mais de 15 províncias e regiões da China, desde Pequim, no norte, até o Deserto de Gobi, a oeste, e calcula-se que no total possa ter 8.850 quilômetros de comprimento.

“Cruza montanhas, vales, rios, desertos e planícies. Suporta condições climatológicas muito difíceis”, acrescenta o funcionário que lembra que paredes inteiras do monumento poderiam vir abaixo em algum temporal típico dos verões no norte da China.

A vegetação também representa uma ameaça, já que as raízes das plantas se espalham pelas paredes enfraquecendo a estrutura, algo que também acontece por conta do calor e do frio.

O clima está ganhando a batalha que trava contra o muro que serviu para defender os chineses dos povos nômades e criadores de gado do norte da Ásia durante séculos, e as ações do homem também dificultam o trabalho de conservação.

“Não existe funcionário suficiente para a manutenção e proteção”, destaca Dong Yaohui, subdiretor da Sociedade Chinesa da Grande Muralha (GWCS).

Dong lembra como nos anos 60 e 70 muitas pessoas destruíam parte da muralha para construir suas casas. A isso se soma a venda de fragmentos da construção no mercado negro, especialmente aqueles que possuem caráteres gravados e que têm mais valor (pouco mais de R$ 9,50).

De acordo com um estudo da GWCS, em 2014 apenas 8,2% do monumento estava em “boas condições”, enquanto 74,1% estava classificado como “em muito mal estado”.

“O governo deu passos, mas são insuficientes”, critica Dong, que considera que as penas para aqueles que atentam contra o monumento “deveriam ser mais altas”.

Em 2006, o governo chinês aprovou a primeira lei destinada a proteger um patrimônio cultural, a Grande Muralha, mas a falta de detalhes na norma e de uma equipe administrativa para cumprir seu propósito lhe levaram a ser considerada um “papel sem valor”.

“Na verdade, no passado não foi dada muita atenção à manutenção da Grande Muralha. A China viveu e ainda vive um processo de transformação e desenvolvimento de sua economia e o processo de proteção de patrimônios culturais vai no mesmo caminho”, comenta o professor de História, Xu Haiyun, da Universidade Renmin, em Pequim.

Haiyun se diz otimista sobre o fato de, nas circunstâncias atuais, com o poder financeiro da China, a proteção ao monumento – que nasceu no século III a.C. por ordem do primeiro imperador chinês, Qin Shihuang, para juntar os vários lances de muros defensivos levantados por antigos tribos e reinos – começará a acontecer.

Contudo, segundo o subdiretor de GWCS, nem todos os problemas são financeiros. “É preciso conscientizar à população”, comenta Dong.

Para ele, o ideal seria contar com voluntários que vivam próximos a algum trecho da fortificação para que eles cuidem do local em troca de um subsídio.

Uma popular tendência de visitar as partes “selvagens” da construção, aquelas fora do circuito turístico, também provoca a deterioração, já que são áreas sem qualquer gerenciamento.

Para Dong, no entanto, o turismo não é um problema, mas um aliado a explorar.

“Só uma pequena parte da muralha está aberta ao turismo e essa é a parte com melhor conservação. Os turistas não a danificam e sim a protegem”, conclui. EFE

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