Às vésperas de torneios importantes, seleções femininas sub-20 e sub-17 seguem sem rumo

  • Por Pedro Sciola
  • 03/07/2019 07h00
Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação Luizão, treinador do sub-17 feminino no último Mundial

Marta proferiu declarações fortes após a eliminação da seleção brasileira para a França, no último dia 23, no Mundial. A Rainha desabafou e pediu mais entrega à nova geração. Mas e o que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está fazendo para elevar o patamar do futebol feminino no país e fomentar o esporte entre as meninas espalhadas pelo Brasil?

Além da incerteza sobre o futuro de Vadão à frente da seleção principal, a CBF ainda não definiu as comissões técnicas das categorias sub-20 e sub-17, mesmo às vésperas de campeonatos importantes da modalidade.

Os Sul-Americanos das categorias, por exemplo, não têm datas marcadas, mas deverão acontecer no início de 2020. Já os Mundiais também serão disputados no ano que vem.

Questionada pela reportagem da Jovem Pan Online, a CBF declarou que será feita uma reunião entre o presidente Rogério Caboclo e os coordenadores na instituição para avaliar o rumo da seleção. Contudo, o dia do encontro não foi revelado.

“Todas as definições sobre as seleções femininas sairão depois da reunião da Presidência da CBF com a atual coordenação para análise e definição de rumos”, comunicou via assessoria de imprensa.

A CBF demitiu Doriva Bueno, ex-treinador do sub-20, em setembro do ano passado. Já Luizão, técnico do sub-17 no Mundial de 2018, afirmou que ainda não recebeu nenhum contato da entidade sobre a continuidade no cargo.

“Ainda não recebi nenhuma ligação. Eu estou otimista em relação a isso para ver se o trabalho continua. Tudo passa pela direção da CBF”, comentou.

Em entrevista à Jovem Pan Online, Luizão lembrou que a preparação para os campeonatos em 2018 foi programada com certa antecedência.

“No fim de 2017, nós tínhamos uma base para o sul-americano, fizemos mais amistosos. Em março de 2018, ganhamos o Sul-Americano. Pós Sul-Americano, ele nos deu a oportunidade de disputar o torneio BRICS, na África do Sul. Estivemos lá e fomos campeões. Pós esse torneio, tivemos alguns amistosos contra Camarões, na Granja Comary. Depois embarcamos para a Copa”, recordou.

Falta investimento

Ary Borges é meio-campista do São Paulo, veste a número 10 do time principal do Tricolor e tem apenas 19 anos de idade. Promessa, a jogadora atuou no último Mundial sub-20, realizado na França, em 2018. Para ela, a diferença entre as brasileiras e as seleções que investem no futebol feminino fica evidente em dois aspectos: mental e tático.

No torneio, o Brasil somou apenas um ponto e ficou na última posição do Grupo B, que também tinha Inglaterra, Coréia do Norte e México.

“Foi um baque muito grande. As equipes eram muito boas. As grandes diferenças eram psicologicamente e taticamente. Tivemos um apagão, tomamos gol no último minuto… Já nossas adversárias conseguiram ter um equilíbrio emocional muito grande”, contou a maranhense.

A meia-atacante afirma que é preciso investir muito mais na base, oferecendo categorias para as meninas mais novas aprenderem fundamentos básicos.

“A questão é investimento. Tive uma discussão outro dia com alguns rapazes…Eles acham que a gente quer dinheiro, acham que a gente quer dinheiro no nosso bolso. Ninguém quer receber a mesma coisa. Isso não vai acontecer, é impossível.. A gente quer dinheiro na modalidade. Você vê que os meninos têm sub-8, sub-11 , sub-12, sub-14, juvenil, aspirantes… olha o tanto de categoria”, opinou Ary.

“Já as meninas começam com 14 ou 15 anos de idade. É complicado começar a fazer mais tarde o que os meninos já fazem com 7 ou 8. Eu acho que o que falta é obrigar os clubes a ter sub-11, investir na modalidade. Se não vai por amor, vai pela dor. Precisa de um calendário maior, fazendo com que a modalidade cresça, mesmo sem publicidade e marketing”, continuou.

A CBF até fundou o Campeonato Brasileiro sub-18 neste ano, com data de estreia marcada para o próximo dia 9. A ideia, de acordo com a Confederação, é atender as necessidades dos elencos das equipes brasileiras, ajudando os clubes com os custos de operação, logística, transporte, hospedagem e arbitragem.

Ainda assim, a competição poderia ter feito um calendário mais bem formulado, diz Ary Borges. Na primeira fase da competição, as equipes farão seis partidas em 10 jogos.

“Vai ser desumano. Vai ser complicado porque alguns clubes não treinaram tanto. As meninas do São Paulo treinam demais, então fisicamente não sentem tanto. Mas se parar para ver as outras equipes, que não treinam tanto, elas vão sentir. Mas achei legal a iniciativa”, afirmou.

Luizão também bateu na tecla do cansaço físico das atletas, que deverão afetar o rendimento das equipes, principalmente as com elenco mais curto.

“O desgaste é muito grande. Se você acompanhar a Copa SP de Futebol Jr. masculina, é nesses moldes também. O campeonato em si é muito desgastante. O feminino vai ser maior ainda devido a atletas não estarem tão preparadas para suportar jogos de 2 em 2 dias. A gente espera futuramente que possa ser elaborado para que tenha um descanso hábil”, analisou.

Por meio de sua assessoria, a CBF informou que o planejamento do torneio conta com períodos curtos entre as partidas devido às sedes serem em uma única cidade. Assim, as equipes não demandam mais tempo com logística e transporte.

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