Fracos no futebol? EUA evoluem e veem geração promissora ganhar espaço na Europa; conheça
De alguns anos para cá, os Estados Unidos começaram a trabalhar para formar e desenvolver jogadores de futebol; agora, começam a colher os primeiros frutos
A transferência do jogador americano Sergiño Dest, de apenas 19 anos, do Ajax para o Barcelona na semana passada, indica uma nova tendência no futebol europeu. Nos últimos anos, mais jovens atletas dos Estados Unidos ganharam chances em times das principais ligas da Europa. Da Itália à Inglaterra, mais clubes passaram a apostar em joias de 18 a 23 anos do futebol dos EUA.
Compatriota de Dest, o atacante Konrad de la Fuente, de 19 anos também, integra o elenco do time B do Barcelona e está no clube espanhol desde 2015. Aos cinco anos, deixou Miami com a família quando seu pai foi trabalhar no consulado haitiano na Espanha. Tratado como uma joia do clube, Konrad renovou recentemente seu contrato até 2022. Sua cláusula de compra foi fixada em 50 milhões de euros (quase R$ 330 milhões) com o time catalão, aumentando para 100 milhões de euros (R$ 658 milhões) caso suba para a equipe principal, a mesma de Lionel Messi. Recentemente, estreou na vitória do time de cima sobre o Gimnastic em jogo amistoso.
Mas é a Alemanha o principal destino desses jovens americanos. São cinco atuando no Campeonato Alemão: Chris Richards (Bayern de Munique, de 20 anos), Giovanni Reyna (Borussia Dortmund, de 17 anos), Josh Sargent (Werder Bremen, de 20 anos), Tyler Adams (RB Leipzig, de 21 anos) e Nick Taitague (Schalke 04, de 21 anos). Dos cinco, apenas Taitague ainda não entrou em campo nesta temporada.
Na Itália, Weston McKennie, de 22 anos, é o primeiro atleta americano da história da Juventus e o único representando o país na liga italiana. Já na França, com apenas 20 anos, Timothy Weah, filho do ex-jogador George Weah, veste a camisa do Lille, enquanto em Portugal, o lateral Reggie Cannon, de 22, atua pelo Boavista. No futebol inglês, o destaque do Chelsea Christian Pulisic tem outros dois conterrâneos: Cameron Carter-Vickers (Tottenham, 22 anos) e Antonee Robinson (Fulham, 23 anos). Enquanto no Holandês, Luca de la Torre (Heracles, 22 anos) completa a lista.
Quem acompanha de perto os jovens americanos na Europa é o técnico da seleção dos EUA, Gregg Berhalter. O treinador destacou o grande momento das promessas do futebol do país e analisou a mudança na formação de atletas ao longo dos anos. “Precisamos sempre entender que o desenvolvimento (de jogadores) demanda tempo. Todos querem para agora, mas esse processo exige tempo. Isso tem a ver com a melhora na formação de atletas. Dez anos atrás houve a decisão entre a federação e a MLS (liga de futebol dos EUA) de colocar essa plataforma para colocar os melhores garotos para jogar contra os melhores garotos. E, com o tempo, instituímos padrões para as categorias de base, como eles precisam ser”, avaliou em entrevista ao podcast oficial da Major League Soccer.
Os clubes europeus monitoram os jovens antes mesmo de eles chegarem às versões profissionais. Com ajuda de softwares e olheiros espalhados pelo mundo, as equipes produzem relatórios extensos antes de definir a contratação. Matteo Ritaccio, de apenas 18 anos, atua no Liverpool sub-18 e foi visto pela primeira vez aos 13 anos em um campo de treinamento pela seleção dos Estados Unidos. Sonhando em integrar a equipe profissional nos próximos anos, Ritaccio quer apagar a imagem ruim dos atletas americanos. “Acho que muita gente aqui na Europa acredita que os jogadores dos EUA não conseguem competir em alto nível contra grandes atletas europeus. Eu uso isso como uma oportunidade para mostrar a essas pessoas que elas estão erradas”, disse em entrevista ao site do próprio Liverpool.
Assim como Ritaccio, existem jovens americanos entre o sub-18, o sub-23 e as equipes B de muitos clubes das principais ligas europeias. Na Inglaterra, outros oito atletas completam a lista: Owen Otasowie (Wolverhampton, sub-21), Damian Las (Fulham, sub-18), Kyle Scott (Newcastle, sub-23), Peter Stroud (West Ham, sub-18), Ethan Wady (Chelsea, sub-18), Chituru Odunze (Leicester City, sub-18), Indiana Vassilev (Aston Villa, emprestado ao Burton, de 19 anos) e Marlon Fossey (Fulham, emprestado ao Shrewsbury Town, de 21).
Na Holanda, são cinco jovens jogadores atuando pelo Ajax B (Alex Mendez, 20 anos, e Joshua Pynadath, 18 anos), PSV B (Richard Ledezma, 20 anos, e Chris Gloster, 20 anos), além de Ulysses Llanez (Emprestado pelo Wolfsburg ao Heerenveen, 19 anos). Enquanto na Alemanha, são os jovens Bryang Kayo, 18 anos, do Wolfsburg, e Travian Sousa, de 19, atua no Hamburgo. Nas seleções de base dos Estados Unidos, essa transformação também já se faz presente. No Mundial Sub-20 disputado em 2019, 11 dos 21 atletas americanos convocados atuavam em clubes europeus. Dois anos antes, na edição 2017 do torneio, eram apenas quatro atletas jogando nas principais ligas do Velho Continente.
O EUA já são um grande produtor de atletas olímpicos, com modelos próprios de treinamento e muita atenção dedicada a essa formação. O resultado pode ser visto na conquista de medalhas nos Jogos Olímpicos, por exemplo. No Rio, em 2016, o país ficou em primeiro lugar no quadro de medalha, com 121 medalhas, 46 de ouro. De alguns anos para cá, os EUA também entraram nesse mercado de formar e desenvolver jogadores de futebol. Juntam os melhores e percorrem o país para fazer uma grande peneira. Começam a colher os primeiros frutos.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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