Relembre o 2019 do Santos do furacão Sampaoli à surpresa portuguesa
O Santos começou a temporada de 2019 cheio de esperança com o trabalho de Jorge Sampaoli, treinador renomado com passagem pela Europa, seleção argentina e chilena. Entretanto, o mau relacionamento entre o novo comandante e José Carlos Peres, presidente do Peixe, além das quedas nos torneios eliminatórios fizeram com que o time da Baixada terminasse o ano sem título — e quase sem técnico.
Apresentando um futebol moderno e vistoso, o Santos conseguiu um bom aproveitamento de 61,1% dos pontos possíveis, com 35 vitórias, 15 empates e 15 derrotas. O fruto do trabalho de Sampaoli, no entanto, não foi colhido com taças e o ano terminou com a sensação de que poderia ter sido melhor.
O saldo da equipe da Vila Belmiro, ao mesmo tempo, foi melhor dentro de campo do que fora dele. Além de conflitos expostos com certa frequência entre Peres e Sampaoli, o experiente Paulo Autuori, então superintendente de futebol, deixou o seu cargo ao alegar “falta de estratégia em determinadas situações.”
Paulistão serviu para moldar o grupo
Jorge Sampaoli atraiu os holofotes da imprensa esportiva ao conseguir implantar um sistema de jogo ofensivo, moderno e versátil. No Campeonato Paulista, a equipe se saiu muito bem na primeira fase, apesar de sofrer alguns golpes duros, como as goleadas para o Ituano e para o Botafogo. A ideia de trocar passes desde a saída de bola e formar linhas para a construção das jogadas, no entanto, foi assimilada pelos jogadores neste período.
O Santos, então, passou do RB Brasil nas quartas de final com certa facilidade, ganhando de 2 a 0 em casa e segurando o time sensação do Estadual em um empate sem gols, longe de seus domínios. Na semifinal, por outro lado, a equipe parou no muro chamado Cássio.
No duelo de alvinegros, o Peixe não fez boa partida em Itaquera e acabou sendo derrotado por 2 a 1 na primeira partida do mata-mata. Já na volta, apresentou um futebol vistoso, envolveu o rival e amassou os corintianos, mas só conseguiu devolver uma vitória por 1 a 0. Nas penalidades, sobressaiu a qualidade do arqueiro do Corinthians.
Copa Sul-Americana teve eliminação frustrante
O Santos parou na primeira fase da Sul-Americana de maneira frustrante. Em fevereiro, o time foi ao Uruguai e empatou em 0 a 0 com o River Plate. Na volta, em um Pacaembu vazio por conta de uma punição da Conmebol, o conjunto brasileiro desperdiçou inúmeras chances depois finalizar 5 vezes mais que o adversário, mas ficar no 1 a 1. O resultado causou a desclassificação na competição continental de forma precoce.
Protestos após queda na Copa do Brasil
A irregularidade do Santos ao longo do primeiro semestre causou revolta na torcida. Em junho, depois de despachar Altos, América-RN, Atlético-GO e Vasco nas fases iniciais, o time praiano acabou naufragando para o Atlético-MG, em plena Vila Belmiro. Logo após o empate sem gols em Minas Gerais, o Santos voltou a demonstrar inconsistência na defesa, deu muitos espaços ao Atlético e perdeu por 2 a 1, de virada.
A terceira eliminação causou ira nos santistas, que criticaram fortemente o treinador e a cúpula no momento mais conturbado do clube em 2019.
Peixe vai bem no Brasileirão, mas fica longe do Flamengo
Mesmo com um elenco modesto em comparação com Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Cruzeiro e companhia, o Santos terminou o Brasileiro na segunda posição após demonstrar um bom futebol na maior parte do torneio. Além de apresentar conceitos mais estruturados em relação ao primeiro semestre, o time contou com bons talentos individuais.
Na defesa, Gustavo Henrique foi o grande destaque, sendo apontado por especialistas como um dos principais zagueiros do Brasileirão. Já no setor de meio-campo, Carlos Sánchez sagrou-se como “o cara” do time, com muito fôlego, garra e criatividade.
Os torcedores também puderam acompanhar outros destaques, como os atacantes Marinho e Soteldo. Juntos, eles fizeram boa parceria e deixaram o setor ofensivo leve e extremamente complicado de ser marcado.
Como resultado, o Santos conseguiu grandes triunfos ao longo da competição, como as vitórias diante de Palmeiras, Grêmio, Corinthians e Flamengo, esta última uma sonora goleada na rodada de encerramento do Brasileirão. O título, no entanto, não ficou nem perto de ser alcançado. Mesmo registrando a sua melhor campanha na era dos pontos corridos, o Santos ficou longe de competir com o Flamengo, campeão com sobras.
Santos fecha o ano sem Sampaoli… e com surpresa!
Mesmo com o bom desempenho do time, Sampaoli e José Carlos Peres passaram o ano se desentendendo. Insatisfeito com intervenções da diretoria no seu trabalho e com a falta de planejamento, o treinador argentino não tinha papas na língua para criticar o presidente durante entrevistas coletiva no CT Rei Pelé.
No fim do ano, a relação desgastada com o presidente, a preocupação com a montagem do elenco e a ciência de que o Peixe não poderia fazer grandes investimentos em 2020 pesaram na escolha de Sampaoli, que optou pode deixar a Vila Belmiro.
“Para o próximo ano, o clube tinha uma transição que não o permitiria fazer coisas importantes na Libertadores ou no torneio local, assim decidimos cortar o vínculo. O melhor para o Santos e para mim, não coincidindo nossas posturas, é que cada um seguir seu caminho”, falou o argentino, em entrevista à Agência EFE.
Até que no dia 23 de dezembro o clube surpreendeu: quando todos achavam que viraria o ano sem comandante, anunciou a contratação de Jesualdo Ferreira. As partes assinaram um vínculo de um ano, e o português de 73 anos, em sua primeira passagem por um clube da América do Sul, será apresentado oficialmente no dia 6 de janeiro.
Ferreira já foi tricampeão português de maneira consecutiva com o Porto, entre 2007 e 2009, e trabalhou nos outros dois principais times do país, Sporting e Benfica. Desde 2015, ele comandava o Al-Sadd, clube do Catar do qual saiu no meio deste ano. Na ocasião, o treinador chegou a cogitar a aposentadoria.
Resta aos santistas a esperança de que o profissional “tire leite de pedra” e coloque o Santos em condições de competir por títulos.
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