Relembre o 2019 do Santos do furacão Sampaoli à surpresa portuguesa

  • Por Pedro Sciola
  • 27/12/2019 07h00 - Atualizado em 27/12/2019 08h09
Thiago Ribeiro/AGIF/Estadão Conteúdo Carlos Sanchez e Marinho

O Santos começou a temporada de 2019 cheio de esperança com o trabalho de Jorge Sampaoli, treinador renomado com passagem pela Europa, seleção argentina e chilena. Entretanto, o mau relacionamento entre o novo comandante e José Carlos Peres, presidente do Peixe, além das quedas nos torneios eliminatórios fizeram com que o time da Baixada terminasse o ano sem título — e quase sem técnico.

Apresentando um futebol moderno e vistoso, o Santos conseguiu um bom aproveitamento de 61,1% dos pontos possíveis, com 35 vitórias, 15 empates e 15 derrotas. O fruto do trabalho de Sampaoli, no entanto, não foi colhido com taças e o ano terminou com a sensação de que poderia ter sido melhor.

O saldo da equipe da Vila Belmiro, ao mesmo tempo, foi melhor dentro de campo do que fora dele. Além de conflitos expostos com certa frequência entre Peres e Sampaoli, o experiente Paulo Autuori, então superintendente de futebol, deixou o seu cargo ao alegar “falta de estratégia em determinadas situações.”

Paulistão serviu para moldar o grupo 

Jorge Sampaoli atraiu os holofotes da imprensa esportiva ao conseguir implantar um sistema de jogo ofensivo, moderno e versátil. No Campeonato Paulista, a equipe se saiu muito bem na primeira fase, apesar de sofrer alguns golpes duros, como as goleadas para o Ituano e para o Botafogo. A ideia de trocar passes desde a saída de bola e formar linhas para a construção das jogadas, no entanto, foi assimilada pelos jogadores neste período.

O Santos, então, passou do RB Brasil nas quartas de final com certa facilidade, ganhando de 2 a 0 em casa e segurando o time sensação do Estadual em um empate sem gols, longe de seus domínios. Na semifinal, por outro lado, a equipe parou no muro chamado Cássio.

No duelo de alvinegros, o Peixe não fez boa partida em Itaquera e acabou sendo derrotado por 2 a 1 na primeira partida do mata-mata. Já na volta, apresentou um futebol vistoso, envolveu o rival e amassou os corintianos, mas só conseguiu devolver uma vitória por 1 a 0. Nas penalidades, sobressaiu a qualidade do arqueiro do Corinthians.

Cássio comemora com seus companheiros a classificação do Corinthians para a final do Paulistão

Copa Sul-Americana teve eliminação frustrante 

O Santos parou na primeira fase da Sul-Americana de maneira frustrante. Em fevereiro, o time foi ao Uruguai e empatou em 0 a 0 com o River Plate. Na volta, em um Pacaembu vazio por conta de uma punição da Conmebol, o conjunto brasileiro desperdiçou inúmeras chances depois finalizar 5 vezes mais que o adversário, mas ficar no 1 a 1. O resultado causou a desclassificação na competição continental de forma precoce.

Protestos após queda na Copa do Brasil 

A irregularidade do Santos ao longo do primeiro semestre causou revolta na torcida. Em junho, depois de despachar Altos, América-RN, Atlético-GO e Vasco nas fases iniciais, o time praiano acabou naufragando para o Atlético-MG, em plena Vila Belmiro. Logo após o empate sem gols em Minas Gerais, o Santos voltou a demonstrar inconsistência na defesa, deu muitos espaços ao Atlético e perdeu por 2 a 1, de virada.

A terceira eliminação causou ira nos santistas, que criticaram fortemente o treinador e a cúpula no momento mais conturbado do clube em 2019.

Santos e Atlético-MG emparam em 0 x 0

Peixe vai bem no Brasileirão, mas fica longe do Flamengo 

Mesmo com um elenco modesto em comparação com Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Cruzeiro e companhia, o Santos terminou o Brasileiro na segunda posição após demonstrar um bom futebol na maior parte do torneio. Além de apresentar conceitos mais estruturados em relação ao primeiro semestre, o time contou com bons talentos individuais.

Na defesa, Gustavo Henrique foi o grande destaque, sendo apontado por especialistas como um dos principais zagueiros do Brasileirão. Já no setor de meio-campo, Carlos Sánchez sagrou-se como “o cara” do time, com muito fôlego, garra e criatividade.

Os torcedores também puderam acompanhar outros destaques, como os atacantes Marinho e Soteldo. Juntos, eles fizeram boa parceria e deixaram o setor ofensivo leve e extremamente complicado de ser marcado.

Como resultado, o Santos conseguiu grandes triunfos ao longo da competição, como as vitórias diante de Palmeiras, Grêmio, Corinthians e Flamengo, esta última uma sonora goleada na rodada de encerramento do Brasileirão. O título, no entanto, não ficou nem perto de ser alcançado. Mesmo registrando a sua melhor campanha na era dos pontos corridos, o Santos ficou longe de competir com o Flamengo, campeão com sobras.

Santos fecha o ano sem Sampaoli… e com surpresa!

Mesmo com o bom desempenho do time, Sampaoli e José Carlos Peres passaram o ano se desentendendo. Insatisfeito com intervenções da diretoria no seu trabalho e com a falta de planejamento, o treinador argentino não tinha papas na língua para criticar o presidente durante entrevistas coletiva no CT Rei Pelé.

No fim do ano, a relação desgastada com o presidente, a preocupação com a montagem do elenco e a ciência de que o Peixe não poderia fazer grandes investimentos em 2020 pesaram na escolha de Sampaoli, que optou pode deixar a Vila Belmiro.

“Para o próximo ano, o clube tinha uma transição que não o permitiria fazer coisas importantes na Libertadores ou no torneio local, assim decidimos cortar o vínculo. O melhor para o Santos e para mim, não coincidindo nossas posturas, é que cada um seguir seu caminho”, falou o argentino, em entrevista à Agência EFE.

Até que no dia 23 de dezembro o clube surpreendeu: quando todos achavam que viraria o ano sem comandante, anunciou a contratação de Jesualdo Ferreira. As partes assinaram um vínculo de um ano, e o português de 73 anos, em sua primeira passagem por um clube da América do Sul, será apresentado oficialmente no dia 6 de janeiro.

Ferreira já foi tricampeão português de maneira consecutiva com o Porto, entre 2007 e 2009, e trabalhou nos outros dois principais times do país, Sporting e Benfica. Desde 2015, ele comandava o Al-Sadd, clube do Catar do qual saiu no meio deste ano. Na ocasião, o treinador chegou a cogitar a aposentadoria.

Resta aos santistas a esperança de que o profissional “tire leite de pedra” e coloque o Santos em condições de competir por títulos.

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