Mais de mil agentes vão cuidar dos testes antidoping nas Olimpíadas; veja como funciona
Processo está sob comando da Agência Internacional de Testes, recentemente criticada pela atitude de não punir os nadadores chineses que testaram positivo, antes da edição de Tóquio-2020
A luta antidoping para os Jogos Olímpicos de Paris-2024 vem sendo preparada há meses. Mais de mil pessoas farão o controle de testes de quase 4 mil atletas durante a competição. Todo o processo estará sob o olhar atento da Agência Mundial Antidopagem (WADA, na sigla em inglês), recentemente criticada pela forma como tratou o caso dos nadadores chineses que testaram positivo, mas não foram punidos antes das Olimpíadas de Tóquio-2020.
Quem está no comando?
Criada em 2018 e parcialmente financiada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a Agência Internacional de Testes (ITA, na sigla em inglês) planeja, organiza e gerencia os resultados dos testes antidoping durante os Jogos. São duas edições de experiência: Tóquio, em 2021 e Pequim (Jogos de Inverno), em 2022. A ITA estará totalmente no comando a partir da abertura da Vila Olímpica em 18 de julho. Desde meados de abril, já assumiu parte dos controles e está em contato com federações internacionais e agências nacionais antidoping para melhorar o direcionamento do processo. “Se há atletas que se dopam, vão fazê-lo antes dos Jogos Olímpicos, por isso a fase anterior aos Jogos é muito importante”, explica um porta-voz da ITA à AFP.
As seletivas para o evento terminam às vésperas da competição e por isso é necessário monitorar todos os que se classificam, ou seja, quase 40 mil atletas dos 10 mil que conseguem vaga para as Olimpíadas. Na última edição, há três anos no Japão, foram coletadas 6.200 amostras de cerca de 4.000 atletas, o que resultou em diversos casos positivos. Nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022, o caso da atleta russa da patinação artística Kamila Valieva ganhou grande destaque, uma vez que testou positivo para trimetazidina antes do evento e depois foi suspensa por quatro anos.
Como são decididos os controles?
Os testes são baseados em vários critérios: no acompanhamento contínuo nas competições, dos passaportes biológicos (que mostram a evolução dos marcadores biológicos de um atleta) ou de denunciantes. Algumas modalidades, como o levantamento de peso, por exemplo, estão sujeitas a um acompanhamento especial. Também é considerado um caso de risco quando um atleta consegue uma melhoria espetacular em seu desempenho ou quando a corrupção é considerada um problema no país em questão. Aqueles que subirem ao pódio ou quebrarem recordes serão sistematicamente submetidos a testes.
Ao todo, cerca de 4.000 atletas dos 10.000 presentes deverão ser testados segundo a ITA. Segundo as autoridades antidoping, não faz sentido submeter todos os competidores a controles, portanto o melhor é estabelecer uma orientação sobre esta decisão. Os nadadores chineses, alvo de uma investigação do canal de televisão alemã ARD e do jornal The New York Times, testaram positivo antes de Tóquio-2020, mas não foram alvos de sanções. Em Paris-2024, eles serão monitorados de perto, segundo uma fonte da luta antidoping.
Quantas pessoas realizam os controles?
Mais de 300 agentes antidoping (DCO, Doping Control Officer), um terço deles franceses, coletarão amostras de urina e sangue e serão coordenados pela Agência Francesa de Luta Contra o Doping (AFLD, na sigla em francês). Os atletas também serão acompanhados por pessoas com funções de vigilância durante o processo (800 no total, considerando os Jogos Paralímpicos), voluntários escolhidos pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (COJO). Os organizadores são responsáveis pelo “recolhimento das amostras” e por toda a logística, como explicou à AFP David Herbert, chefe da luta antidoping do COJO. No total, foram instaladas cerca de 50 estações de controle nas instalações olímpicas, incluindo as temporárias, bem como na Vila Olímpica. O COJO também deve administrar o transporte das amostras para o laboratório de Orsay, que será feito em um veículo terrestre pelas rotas olímpicas e de avião a partir do Taiti, no caso dos surfistas. Atletas que não estejam hospedados na Vila Olímpica, como os jogadores de basquete americanos, por exemplo, deverão informar sua localização para que um agente antidoping possa eventualmente bater na porta de seu hotel ou local de treinamento.
Para onde são enviadas as amostras?
As amostras serão analisadas no laboratório de Orsay, uma nova instalação no campus universitário de Saclay, em meio a um processo que pode levar várias horas. Como novidade, conforme a lei olímpica de 2023 e para se adequar aos padrões mundiais antidoping, será possível realizar testes genéticos. A Agência Mundial Antidoping estará presente por meio de um programa de observação que fornecerá comentários diários. Desde abril, a WADA está sob ataque, após a divulgação de que 23 nadadores chineses testaram positivo no passado e não foram penalizados. Em caso de processo, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) terá dois escritórios temporários em Paris durante os Jogos Olímpicos.
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações da AFP
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