Presidente do Real ameaçou parar campeonato em 2000, diz ex-chefe da Receita

Barcelona, 10 mar (EFE).- Diretor da Agência Tributária da Espanha entre 1998 e 2001, Ignacio Ruiz-Jarabo afirmou que o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, ameaçou paralisar o Campeonato Espanhol quando a Receita do país iniciou uma série de inspeções aos clubes de futebol no ano 2000.

Em entrevista à “Radio Barcelona”, Ruiz-Jarabo falou sobre histórias publicadas em seu livro “Estado Fiscal e Democracia”, sobre a intervenção da Agência Tributária nos clubes.

“Com os clubes, realizamos um procedimento de inspeção tributária e decidimos que em um setor como o futebol profissional, no qual a concorrência é tão grande entre os clubes, deveríamos fazê-las em todos ao mesmo tempo. Não podíamos inspecionar os clubes uns sim e outros não”, disse o economista.

Por isso, segundo ele, decidiu-se fazer inspeções “de forma harmonizada”, baseadas “em critérios unânimes” e coordenando todas as equipes de inspeção “para que fossem compassadas nos critérios e no tempo”.

“Iniciada a inspeção, os clubes viram que se tratava de algo muito sério, e tivemos a informação fidedigna, com várias testemunhas, de que o presidente do Real Madrid, o mesmo de agora, Florentino Pérez, declarando que tinha sido designado para tal efeito pela LFP (Liga de Futebol Profissional, que organiza as duas primeiras divisões espanholas) solicitou ao Ministério da Fazenda que as inspeções fossem interrompidas”, relatou.

Ruiz-Jarabo disse que esse pedido foi feito em tom de ameaça.

“A solicitação foi realizada em termos categóricos, assim como efetivamente ele advertiu que se, seu pedido fosse deixado de lado, a competição seria paralisada”, denunciou.

“Evidentemente, na Agência Tributária, conhecida a pretensão, não demoramos nem dois minutos para descartar essa ameaça. Não procede inspecionar os contribuintes segundo sua vontade, mas sobre os critérios da Agência Tributária”, acrescentou.

Por tudo isso, o advogado lembra que a pretensão manifestada por Florentino Pérez, “segundo ele em nome de todos os clubes”, não se concretizou. “Felizmente para o Estado de direito e o direito dos contribuintes”, disse.

O ex-diretor da Agência Tributária lembrou que “alguém no Ministério da Fazenda que não via com maus olhos a solicitação de Florentino Pérez”.

“O bom para o contribuinte espanhol e os cidadãos espanhóis”, ressaltou, “é que aquilo não foi à frente, a pretensão não teve efeitos, as inspeções começaram, acabaram com as liquidações tributárias correspondentes e, como se viu, o campeonato não parou”, lembrou.

Questionado sobre o caso das irregularidades supostamente cometidas pelo Barcelona na contratação de Neymar, Ruiz-Jarabo afirmou que, em relação a este caso, só sabe o que saiu na imprensa. De qualquer forma, ele contou não concordar com a visão do presidente do clube, Josep Maria Bartomeu, sobre a existência de “forças ocultas” neste assunto. EFE