Principal advogado do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (Sapesp), Felipe Rino concedeu entrevista exclusiva ao repórter Zeca Cardoso, da Rádio Jovem Pan, e disparou contra as más condições de trabalho oferecidas pelos clubes à grande maioria dos jogadores de futebol. Na mesma semana em que um estudo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) indicou que 82% dos futebolistas brasileiros recebem menos de R$ 1000,00 por mês, Rino colocou o dedo na ferida.
“O futebol é um mundo de ilusão. As pessoas que estão fora dele acham que todo jogador é milionário, que ganha bem, tem vida boa, mas a realidade é outra“, afirmou o advogado. “Só em 2015, tivemos quase 500 ações trabalhistas somente de jogadores que tentam receber por aquilo que trabalharam. É um número até assustador. E nunca se trata de um mês só de atraso“, acrescentou.
Rino usou como exemplo uma tradicional equipe do interior paulista. “O União Barbarense é um clube que já vem dando problemas há alguns anos. Somente nas duas últimas temporadas, houve cerca de 60 ações trabalhistas contra o clube, por falta de pagamento de salários, férias, décimo terceiro, FGTS, recolhimento de INSS, atletas que se lesionaram e ficaram esperando uma cirurgia por meses… Ou seja: lá, há uma situação calamitosa“, contou.
De acordo com o advogado, os próprios jogadores do União Barbarense procuraram o Sapesp para reclamar. Os atletas recebem salários de R$ 1000,00 a R$ 4000,00, e há jogadores com até sete meses de atrasos. Além disso, muitos deles moram em alojamentos sem ventilação sob as arquibancadas do Estádio Antonio Lins Ribeiro Guimarães e comem apenas arroz, feijão e, quando dá, um tipo de carne. “São situações indignas para profissionais que precisam ter um bom preparo físico para exercer sua profissão“, definiu Rino.
O sindicato tentou o diálogo com a diretoria do Barbarense, mas não conseguiu. Muito pelo contrário: funcionários do clube tentaram agredir membros do Sapesp e jogadores. Como forma de protesto, os atletas se recusaram a viajar para enfrentar o Santo André, no sábado, pela Série A2 do Campeonato Paulista, mas depois voltaram atrás. O motivo? Diretores do time permitiram a entrada de torcedores organizados no alojamento dos jogadores para pressioná-los. Eles cederam e, incrivelmente, venceram a partida por 1 a 0.
“É uma situação vexatória, mas que o sindicato não vai deixar passar batida. Já estamos tomando as devidas providências junto aos órgãos responsáveis, como Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal, Ministério do Trabalho e Emprego e Delegacia Regional do Trabalho, para que isso cesse e que os atletas possam ter as condições mínimas de trabalho“, garantiu Rino. “O que gera isso é a falta de planeamento. No ano passado, União São João de Araras e XV de Jaú fecharam as portas para se reestruturar, correr atrás de patrocinadores e voltar às atividades em 2016. Isso é vergonhoso? De maneira nenhuma. É honesto. São esses exemplos que os outros clubes deveriam seguir”, encerrou.