Bolsonaro consegue milagre de virar eleição contra Lula?
Segundo turno é confronto direto, nas ruas e debates; petista agora é alvo a ser batido; presidente ataca com a máquina e o Centrão; ambos vão atrás de 30 milhões de eleitores que se abstiveram
O Bolsonarismo está “PT” da vida?! Pode ficar mais ainda. Basta que se concretize, no segundo turno, a derrota reeleitoral de Jair Messias Bolsonaro. Aparentemente, o ex-Presidiário (ops, ex-Presidente) Luiz Inácio Lula da Silva foi o “vencedor” do primeiro turno eleitoral. Ganhou porque fez duas apostas. Investiu na amnésia de quase metade do eleitorado sobre a Era PT. E porque jogou tudo no desgaste de imagem do atual Presidente e de seu governo. Ainda não se sentindo ou admitindo derrotado, o “Comandante-em-chefe” Bolsonaro avisou que vai aguardar o parecer final das Forças Armadas que, convidadas, fiscalizaram a eleição na famosa “sala-cofre” do Tribunal Superior Eleitoral. Só que é melhor esperar sentado. Provar qualquer suposta fraude eleitoral é improvável. Quem reclama já perdeu. A mancha vermelha ofuscou a verde-amarela. Segue o Brasil dividido. Rachado ideologicamente. Lula venceu a eleição? Ainda não. Quem venceu, antecipadamente, foi a Cleptocracia e (sua amante e comparsa) a Juristocracia. As empresas de pesquisa também “venceram”?! Embora tenham errado muito, acertaram na missão de ajudar a propagandear um resultado a favor de Lula. Impressionante foi como um Presidente da República mais popular nos últimos 20 anos chegou atrás de um ex-Presidiário (ops, ex-Presidente), que quase nada saiu às ruas, mas quase liquidou a fatura no primeiro turno. Muito estranho. Candidatos aos governos estaduais apoiados por Bolsonaro tiveram desempenho fabuloso, e ele, não? Metade do eleitorado aceita devolver a gestão do País aos corruptos comprovados? Que esquisito. Ainda bem que nem tudo se perdeu. Bolsonaro fez 14 senadores e maioria na Câmara dos Deputados. O Centrão cresceu.
Pergunta: Será que Bolsonaro sofrerá a Síndrome de Nilo Peçanha – Presidente que não venceu a reeleição, em 1922? Na fase contemporânea, pós-Constituição de 1988, FHC, Lula e Dilma venceram. Ou será que Bolsonaro usará a máquina a pleno vapor para reverter o resultado? Segundo turno não chega a ser uma nova eleição. Com certeza é uma continuidade do primeiro. Ainda mais porque a polarização foi evidente entre os candidatos Bolsonaro e Lula. Daí a dificuldade prática de reverter os resultados, dentro das mesmas regras do jogo. Bolsonaro terá de apostar na percepção popular da melhora na economia. Lula segue investindo no recall sobre o bom desempenho de seus primeiros oito anos de governo (ele providencialmente esquece a Era Dilma). De todo modo, 48 a 43 foi uma vantagem grande para Lula. É curtíssima a margem para conquistar novos apoios. Primeira grande dúvida: o que Bolsonaro precisa fazer para recuperar a votação perdida nos três maiores colégios eleitorais (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro)? Outra dúvida: os efeitos positivos da economia vão aparecer para o eleitorado e alterar votos no segundo turno? O Presidente vai concentrar sua retórica de propaganda mais nos feitos (principalmente econômicos) do governo federal? Nas Regiões Norte e Nordeste, esse discurso não se mostrou eficaz. Ou a informação não chegou corretamente, ou o eleitorado não se sensibiliza com tal discurso mais técnico, menos emocional.
Mais uma grande dúvida – que poderia ser uma autocrítica: Bolsonaro perdeu o primeiro turno para ele mesmo? Talvez, sim. Certo é que investiu tempo demais batendo nas urnas eletrônicas, mas sem fazer a crítica correta ao defeito-mor do sistema de votação. Falou de fraudes sem provar. Politicamente, não focou na mobilização parlamentar para aprovar a impressão do voto pela urna eletrônica para conferência 100% na própria seção eleitoral. Assim seria possível dar materialidade ao voto e conferir se o resultado do boletim da urna coincide com o apurado pelos impressos. Sem provas concretas, pouco adianta especular se algum algoritmo fez “matemágica” na totalização dos votos. Outra dúvida: Bolsonaro ignorou a força dos elementos culturais sobre essa eleição? Tudo indica que sim. Afinal, o voto anti-Bolsonaro falou mais alto. Quatro anos de campanha terrorista, psicológica, midiática, sobre uma população pode não ter causado a destruição de imagem, mas prejudicou objetivamente Bolsonaro. Aliás, foi o mesmo que aconteceu com Donald Trump nos EUA. A hostilização da classe artística também rendeu enorme prejuízo popular a Bolsonaro. O confronto com a cúpula do Judiciário também fez estragos. Não foi à toa que seu maior inimigo, Alexandre de Moraes, comemorou “a missão cumprida pela Justiça Eleitoral”. Bolsonaro e todos ainda tiveram de ouvir o ministro Luís Roberto Barroso defender que “o próximo Presidente precisa ter um discurso agregador para construir consensos mínimos para uma agenda política”.
Imagem fortíssima e impactante do primeiro turno? A do cadeião de Pinheiros, com os presos comemorando o triunfo parcial de Lula. Cena idêntica a de quase metade do eleitorado brasileiro que votou a favor do retorno do PT ao poder. Foi uma comprovação de fraqueza moral do cidadão. Em essência, essa eleição foi uma mega fraude em si mesma. Afinal, permitiu-se que um sujeito condenado em três instâncias, por corrupção, fosse “descondenado” e tivesse reabilitação política para disputar a Presidência. Foi inimaginável a insegurança jurídica criada pela decisão do Supremo Tribunal Federal em favor de Lula. Tão ou mais grave que isso foi, na véspera da eleição, a gravíssima e inconstitucional censura da Justiça Eleitoral ao site O Antagonista mandando remover conteúdo de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola (líder da facção criminosa PCC), declarando voto em Lula. Em resumo: a Cleptocracia comemora.“Missão cumprida”.
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