Vantagens e perigos para Bolsonaro, Lula, Moro, Ciro e Doria na sucessão presidencial

É cedo para adivinhações ou previsões, o jogo está mais aberto que nunca; não dá para apontar o presidente como favorito, mesmo tendo a vantagem da máquina federal

  • Por Jorge Serrão
  • 15/12/2021 15h36
Tiago Hardman/Futura Press/Estadão Conteúdo Urna eletrônica com a palavra FIM escrita Eleitores decidirão no ano que vem quem se sentará na cadeira presidencial, hoje ocupada por Jair Bolsonaro

Todo mundo sabe que Jair Bolsonaro é o candidato a ser batido na eleição presidencial de 2022. O atual presidente tem direito a disputar a reeleição. Culpa de Fernando Henrique Cardoso, que aprovou essa possibilidade  — aproveitada por ele, por Lula da Silva e por Dilma Rousseff. A corrida (maluca) ao Palácio do Planalto tem alguns postulantes prometidos. Nem todos garantidos. Muitos precisam se viabilizar politicamente. Lula, Ciro Gomes e João Doria têm maiores chances de passar nas convenções partidárias. Sergio Moro entra no jogo para tentar convencer que sua candidatura é para valer, e não apenas para se cacifar como vice na chapa tucana. Mesmo caso de Rodrigo Pacheco, Simone Tebet ou Luiz Mandetta. Cabo Daciolo também jura por Deus que entrará na disputa. O jogo está aberto, porque é muito prematuro prever qualquer resultado e porque nem precisa de pesquisa para aferir que o eleitorado tem, pelo menos, 30% de indecisos ou insatisfeitos com tudo, a ponto de não aparecerem para votar.

Jair Bolsonaro vem para a reeleição com a máquina e o apoio dos grandes partidos do “Centrão” (doces amargos tirados da boca de Lula). Ele enfrenta o desgaste natural que o cargo impõe e o maior ataque midiático que um presidente já sofreu na história do Brasil. Bolsonaro conta com o trunfo da melhora real e percepção popular de melhora na economia. Os maiores investimentos públicos e privados em infraestrutura em todos os tempos colaboram com essa estratégia. Mas as taxas altas de inflação são incômodas. O presidente também foca no ataque aos cartórios e cartéis (principalmente de empreiteiras e bancos). E segue batendo nos abusos de autoridade do “Poder Supremo” — segmento do establishment que o desgasta incessantemente.

Lula da Silva é nome que as enquetes (ops, pesquisas), confiáveis ou não, apontam como “favorito”. O PT sempre contou com 25% a 30% do eleitorado. Venceu as eleições quando conseguiu o apoio do Centrão (ops, centro). Desde o impeachment de Dilma Rousseff, tudo é bem diferente. O nome dele enfrenta grandes desgastes. A “descondenação” pelo STF, se lhe devolve os direitos políticos e o recoloca no jogo eleitoral, também é um fator que joga contra o petista. Todos sabem que ele não foi inocentado. Assim, persiste consolidada a imagem negativa de um político ligado ao maior esquema de corrupção da história desse país. No momento, Lula cumpre a missão de desgastar Bolsonaro, sem que represente uma ameaça concreta de retorno ao poder federal.

Parte da mídia que não deseja mais flertar com Lula e trabalha pela derrota de Bolsonaro agora tenta tornar viável Sergio Moro como “terceira via”. O ex-juiz da Lava Jato entrou na antecipadíssima corrida presidencial para tentar emplacar seu nome. É um neófito na Política. Saiu de forma muito desgastada do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. Colou em Moro a imagem de “traidor” do presidente. Nos primeiros lances da pré-campanha, Moro comete um erro de estratégia que ajuda a consolidar a pecha negativa da traição. Ele foca seus ataques em Jair Bolsonaro. Bate mais nele que em Lula — o ex-presidente que condenou e quase transformou em “presidiário”. Moro também não ataca o STF (onde talvez gostaria de “estar ministro”). Só que não dá para ignorar que foi o “Poder Supremo” que o desmoralizou profissionalmente, considerando-o “suspeito” (fator decisivo para a “descondenação” de Lula).

Quem tem se mantido em silêncio ultimamente é Ciro Gomes. Há muito tempo tem se dedicado a falar mal de Lula, batendo pesadamente no ex-presidente e deixando claro que não deseja fazer qualquer composição com o petista, ao menos no primeiro turno eleitoral. Também ainda não pegou pesado contra Sergio Moro. “Na muda”, Ciro é quem talvez mais esteja aguardando o desfecho do fator econômico sobre a intenção de voto. Sua candidatura tem o apoio aberto do Partido Comunista da China. Mas seu partido, o PDT, não tem demonstrado firmeza em relação ao apoio irrestrito ao seu nome. Ciro não vinha fazendo ataques tão intensos (como o esperado e previsível) a Jair Bolsonaro. A trégua foi rompida depois que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca contra ele e seu irmão Cid, por denúncias de corrupção na construção do Estádio Castelão, em Fortaleza, para a Copa do Mundo de 2014.

Por enquanto, João Doria é outra incógnita. Conseguiu vencer as prévias do PSDB para a indicação como pré-candidato. No entanto, seu nome não decola em nenhuma pesquisa (tanto as publicadas, para efeito de indução de propaganda, ou mesmo aquelas reservadas, para consumo apenas dos partidos). Doria foi uma das vítimas da guerra de narrativas da pandemia. Embora tenha vencido a “batalha da vacina”, perdeu em um outro front importante: a adoção de medidas impopulares que prejudicaram a economia. Doria saiu muito mais desgastado que Bolsonaro e outros governadores e prefeitos. A impopularidade reflete nessa pré-campanha presidencial. O marqueteiro Doria aposta que dá para reverter o quadro. Quem sabe? O inferno eleitoral está apenas começando… Resta aguardar para ver quem sobreviverá até outubro/novembro de 2022…

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