Alemanha está “vivendo de renda”, alerta renomado economista
Juan Palop.
Berlim, 27 nov (EFE).- A Alemanha, considerada a locomotiva europeia, “vive de renda” e baseia parte de seu atual poderio econômico em três ilusões que, no fundo, ocultam sérias carências estruturais, alerta um destacado economista alemão.
Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão para a Pesquisa Econômica (DIW), ataca em seu livro “A ilusão Alemanha” o que considera um complacente pensamento que domina entre as elites políticas e econômicas de seu país.
Ignorar a realidade, acrescenta este economista que trabalhou para o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco Mundial (BM), e encorajar a “euforia” que enxerga apenas o déficit zero, a força nas exportações e a baixa taxa de desemprego é “perigoso” e torna os alemães “arrogantes, cegos e indolentes”.
Sua voz está agora ganhando eco, como se viu depois que o governo de Angela Merkel reduziu drasticamente suas previsões de crescimento para este ano e 2015 após meses de quedas nos principais indicadores econômicos.
A primeira ilusão que Fratzscher – desde agosto presidente de uma comissão de analistas do Ministério da Economia para impulsionar os investimentos – denuncia é crer que “o futuro econômico está garantido” porque Berlim, tanto com Merkel como com os anteriores chanceleres, tomou as decisões corretas.
Em seu livro, com o subtítulo “Por que superestimamos nossa economia e necessitamos da Europa”, o presidente do DIW adverte que esta ideia é uma “visão errônea” que ignora “fragilidades fundamentais” da economia nacional e “não reconhece que a Alemanha está vivendo de suas reservas”.
É certo, por exemplo, que o país desfruta atualmente de sua menor taxa de desemprego em décadas – combinada com um recorde de população com trabalho -, mas também procede a forte alta dos empregos de baixos salários – como os “mini-jobs” – e o congelamento dos salários nos últimos cinco anos.
A segunda ilusão, de acordo com ele, é a “crença” de que a Alemanha não precisa da Europa e que seu futuro está mais fora que dentro da União Europeia (UE) e da zona do euro.
Contra isso, Fratzscher argumenta que a Alemanha, em nível econômico, só tem possibilidades de manter seu atual papel global se permanecer dentro da UE, já que, por tamanho e perspectivas de crescimento, não teria muitas opções sozinha em um mundo globalizado.
A terceira e última ilusão que o economista aborda é a impressão de alguns de que a Europa “apenas corre atrás do dinheiro da Alemanha”.
Fratzscher critica o pensamento de que tudo o que é benéfico para os 28 membros acaba prejudicando seu maior país em termos de população e Produto Interno Bruto (PIB), um argumento repetido em múltiplas ocasiões desde o início da crise.
“Nós alemães nos vemos frequentemente como vítimas da Europa e ignoramos as muitas vantagens que temos por estarmos integrados à UE, apesar de todos os custos e riscos que a Alemanha assumiu na crise”, afirmou.
Com um discurso notavelmente pró-União Europeia, uma tese em baixa em seu país, Fratzscher encerra o livro defendendo uma reflexão sobre “o futuro comum” do continente, que inclui uma agenda de investimentos. EFE
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