América Latina chega a Veracruz com poucas mudanças no equilíbrio regional

  • Por Agencia EFE
  • 03/12/2014 19h32

Ana Mengotti.

Bogotá, 3 dez (EFE).- A América Latina chega à 24ª Cúpula Ibero-Americana sem um líder claro, com poucas mudanças no equilíbrio de forças com relação à anterior e situações políticas complexas em alguns países, especialmente no anfitrião, México.

O desaparecimento de 43 estudantes no estado de Guerrero, um caso que mostra a penetração do narcotráfico em algumas instituições e ainda não totalmente desvendado, embora tenha ocorrido em setembro, causou indignação fora e dentro do país.

As manifestações para pedir justiça e denunciar passividade por parte das autoridades estão afetando o governo do presidente Enrique Peña Nieto, que adotou uma série de medidas relativas à polícia e à justiça às vésperas da reunião anual ibero-americana, que será realizada entre 8 e 9 de dezembro em Veracruz.

O processo de paz na Colômbia, que o governo de Juan Manuel Santos suspendeu em novembro por conta do sequestro de um general, outros três militares e uma advogada, deve voltar à normalidade nesta semana, uma vez que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) já libertaram os cinco.

No entanto, esses sequestros dividiram ainda mais os colombianos em torno do processo de paz e também evidenciaram as exigências da guerrilha para alcançar uma trégua daqui até o final das conversas e mudar assim o modelo de negociação estabelecido antes do início do diálogo há dois anos.

Desde a Cúpula do Panamá, em outubro de 2013, houve mudanças nas sedes de Estado de vários países, mas o equilíbrio de forças se manteve praticamente como estava e não há ainda um líder de âmbito regional que cubra o vazio deixado pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez.

Na Bolívia, Evo Morales foi reeleito sem dificuldades em outubro, o que significa que o bloco bolivariano Alba conserva integralmente suas forças.

No Brasil, que poderia desempenhar o papel de líder regional, Dilma Rousseff garantiu um novo mandato e no Uruguai o ex-presidente Tabaré Vázquez voltará à chefia do Estado após ter sido eleito no domingo passado no segundo turno.

O grupo dos autodenominados governos progressistas, que simpatizam com o bloco bolivariano, se mantém intacto com a aposta pela continuidade no Brasil e no Uruguai, onde José Mujica, companheiro de coalizão de Vázquez, não pôde concorrer à reeleição.

No entanto, Dilma enfrentava problemas antes da conquista de seu segundo mandato e não só pelo arrefecimento do ritmo de crescimento econômico, um mal que em 2014 atacou a maioria dos países da região.

O escândalo de corrupção na Petrobras colocou seu governo, que prometeu o fim da “impunidade”, em xeque.

Por sua vez, a Argentina está já imersa em uma pré-campanha eleitoral, apesar do pleito para escolher quem sucederá Cristina Kirchner estar marcado apenas para o final de 2015.

Cristina teve novos problemas de saúde e está na mira da Justiça por supostas irregularidades em um de seus hotéis, enquanto o vice-presidente Amado Boudou é processado por corrupção.

Na Venezuela, os protestos antigovernamentais no começo do ano cessaram, mas permanecem a alta inflação, o desabastecimento e a insegurança, e a queda dos preços do petróleo pode aprofundar os problemas econômicos.

Além disso, não há sinais de um possível diálogo para reduzir a polarização e o governo de Nicolás Maduro não atendeu às exigências para libertar os opositores detidos e nem as recomendações de um grupo de trabalho da ONU nesse mesmo sentido.

Até agora confirmaram a viagem para Veracruz os presidentes de Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Panamá, Paraguai, Peru, Costa Rica, República Dominicana e Equador, enquanto a governante da Argentina informou que não participará por prescrição médica.

O governo espanhol sublinhou a importância de Cuba estar representada por seu presidente, Raúl Castro, que nunca participou destas cúpulas.

Por sua vez, o chefe de Estado peruano, Ollanta Humala, anunciou que na reunião buscará envolver outros líderes na grande Conferência sobre Mudança Climática (COP20) que será realizada em Lima até o dia 12 de dezembro.

Pouco antes da reunião de Veracruz está prevista também uma cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), um dos organismos de integração criados na América Latina no século 21.

A Cúpula Ibero-Americana de Veracruz será a primeira realizada com a costarriquenha Rebeca Grynspan como secretária-geral ibero-americana e com o rei Felipe VI como chefe de Estado da Espanha.

Também será a última convocada antes do presidente do Uruguai, José Mujica, deixar o cargo e a primeira à qual estão convidados os novos presidentes do Panamá, Juan Carlos Varela, Costa Rica, Luis Guillermo Solís, e El Salvador, Salvador Sánchez Cerén. EFE

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