Após morte, jogo da asfixia preocupa pais

  • Por Estadão Conteúdo
  • 23/10/2016 09h42
Reprodução/Facebook Gustavo Riveiros Detter

Enforcar-se e perder os sentidos, atear fogo na própria mão, segurar uma pedra de gelo até ter queimaduras na pele. Esses são alguns dos “desafios” difundidos em canais na internet e redes sociais que são reproduzidos por adolescentes. O primeiro, conhecido como “jogo da asfixia”, causou a morte de um adolescente de 13 anos em São Vicente, no fim de semana passado, e é alvo de preocupação de pais e educadores, que tentam evitar que mais jovens coloquem a vida em risco.

Durante a adolescência, um estudante de 23 anos, que preferiu não se identificar, participava de brincadeiras que o levavam ao desmaio. Há dois meses, em uma roda de amigos, repetiu a prática “A gente estava bebendo e entrou nesse assunto. Eu mesmo fiz, porque falei que já tinha feito quando era mais novo. Não sei quanto tempo fiquei segurando o meu pescoço.” O jovem diz que foi amparado pelos amigos e que não teve problemas após o jogo.

Ele conta que já gravou vídeos participando de desafios e postou na internet, mas resolveu parar. “Já pinguei limão no olho e segurei sal com gelo. Existe uma adrenalina de se autodesafiar e de saber que você consegue. O problema é que, quanto mais você faz, mais as pessoas te desafiam.”

Há um ano, um estudante de 12 anos começou a praticar os desafios. Ele não fez o da asfixia, mas já colocou álcool em gel e ateou fogo na mão e segurou uma pedra de gelo com sal. “Eu sinto euforia. Meus amigos começam a me parabenizar. Gosto de me arriscar.”

Professor de Psiquiatria da Universidade Santo Amaro e membro consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Kalil Duailibi diz que é mais difícil para pais notarem a prática de desafios, como o “jogo da asfixia”, porque eles não costumam deixar vestígios.

Duailibi afirma que um tripé leva os adolescentes a entrar em situações de risco para vencer competições. “O adolescente quer transgredir regras, tem o pensamento mágico de que nada de ruim vai acontecer e sente a necessidade de fazer parte de grupos.”

Fundador do Instituto DimiCuida, Demétrio Jereissati, de 57 anos, perdeu um filho em 2014. O jovem de 16 anos se enforcou com um cinto ao participar do desafio. “Todo dia aumenta o número de desafios. Em 2010, eram 500 vídeos do jogo do desmaio. Agora, são 19 mil. Precisamos acabar com essa prática.”

Campanha

Na última quinta, a Associação Rolezinho A Voz do Brasil lançou a campanha “Diga não ao desafio que desafia sua vida”. “Não podemos deixar o jovem se automutilar. Temos de mostrar que isso mata de verdade”, diz Darlan Mendes, presidente da associação.

Diretora do Colégio Branca Alves de Lima, na zona norte, Vânia Lira diz que a escola tem importante papel na orientação dos jovens. “A educação pode estar ligada à tecnologia. Para isso, fazemos palestras e conversamos com pais e alunos.

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