Azerbaijão lembra em 31 de março vítimas de massacres da Rússia bolchevique

  • Por Agencia EFE
  • 30/03/2014 14h03
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Redação Internacional, 30 mar (EFE).- No calendário do Azerbaijão, 31 de março, que cai nesta nesta segunda-feira, é uma data fundamental na recente história do país: o “Dia do Genocídio”, no qual se lembram as milhares de pessoas que morreram em 1918, quando a Rússia bolchevique tentou eliminar as ideias independentistas do território vizinho.

Em 1918, para evitar qualquer possibilidade de independência e proteger uma das principais fontes energéticas da nova Rússia, Lênin enviou Stepan Shaumyan, de origem armênia, para Baku com o cargo de enviado especial para o Cáucaso.

Sua missão era assegurar os interesses do império bolchevique, e para isso contava com a ajuda dos armênios.

Em 31 de março de 1918, grupos armados oriundos da Armênia, que pretendiam dominar o território do Azerbaijão com o auxílio das tropas russas, começaram uma campanha militar organizada e em massa para matar a população civil local, impor a ordem e reprimir a independência.

Durante três dias, cerca de trinta mil azerbaijanos foram assassinados em Baku e seus arredores.

Uma comissão especial, formada em 15 junho de 1918 pelo Conselho de Ministros da primeira República Democrática do Azerbaijão para a investigação dos fatos, considerou que “os armênios atacaram os distritos dos muçulmanos que residiam em Baku”.

A comissão constatou que os ataques contra os civis foram de “extrema crueldade”.

Em uma vala foram encontraram 87 corpos com “narizes e orelhas cortadas; abdomens abertos, com espadas ou baionetas, e os genitais arrancados”, denunciou o relatório elaborado pela comissão.

O relatório acrescentou que “não houve piedade”. As mulheres, os idosos e as crianças “tiveram a mesma sorte”.

Segundo a comissão, não foi apenas a população de Baku que foi atacada. Em Shamakhi, oito mil civis foram massacrados e os monumentos muçulmanos, incluída a mesquita local, queimados.

Além disso, 28 aldeias da província de Javanshir e 17 de Jabrail foram queimadas, e mulheres e crianças que fugiram foram mortos em emboscadas.

No período entre 1918 e 1920, o massacre de civis e a destruição atingiram também as províncias de Quba, Shemakha, Qarabakh, Lenkoran, Irevan, Zangezur, Nakhchivan e Kars.

Segundo estimativas da comissão, 700 mil pessoas morreram no genocídio contra o povo do Azerbaijão.

O Conselho de Ministros da primeira República Democrática do Azerbaijão declarou 31 março como dia nacional das vítimas dos massacres.

Senem Shikhseyidova, de 94 anos, é uma das sobreviventes do massacre de 1918. Ela perdeu seus pais duas horas após seu nascimento.

“Sempre que posso vou ao hospital pegar os recém-nascidos nos braços. São felizardos pois tem o calor de suas mães”, disse a idosa.

“Eu não tive essa sorte, permaneci apenas duas horas nos braços da minha mãe, depois a mataram”, contou Senem Shikhseyidova.

A mulher relatou que apenas conseguiu descansar quando restos mortais foram encontrados em uma vala comum e levados para um túmulo em memória dos falecidos, onde permanecem até hoje.

“A cada 31 de março vou para lá, toco a terra, os ossos e sinto como se estivesse com meus pais, embora após 94 anos não tenha os reencontrado”, disse.

O ex-presidente da República do Azerbaijão Heydar Aliyev decretou, em 26 de março de 1998, o “Dia do Genocídio”.

Em 31 de março se lembra também os milhares de azerbaijanos que morreram durante os trágicos episódios ocorridos ao longo dos últimos dois séculos.

Entre eles as vítimas das campanhas de deportações, da limpeza étnica, da repressão nos anos 30 e do chamado “Janeiro Negro”, quando as tropas especiais da ex-União Soviética entraram em Baku, em 1990, e dispararam contra a população civil que pedia a independência e protestava contra a invasão.

“O Dia do Genocídio” lembra também o massacre de Khojaly, quando os armênios dispararam, em 1992, contra a população civil que fugia da invasão, durante a guerra entre o Azerbaijão e a Armênia. EFE

cla/dk

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