Bósnia inicia caminhada em direção à UE 20 anos depois do fim da guerra

  • Por Agencia EFE
  • 31/05/2015 12h22

María Luisa González

Sarajevo, 31 mai (EFE).- Vinte anos depois da guerra que deixou quase cem mil mortos, a Bósnia-Herzegovina começa em 1 de junho sua caminhada em direção a uma futura integração à UE com a entrada em vigor do Acordo de Estabilização e Associação e a promessa de fazer as reformas econômicas e sociais necessárias.

“O Acordo de Associação é uma motivação adicional” para realizar as medidas necessárias, disse o ministro de Relações Econômicas e Comércio Exterior e vice-presidente do governo da Federação (bósnios muçulmanos e croatas), Mirko Sarovic, a um grupo de jornalistas, aos quais assegurou que a prioridade de seu Executivo é “o desenvolvimento e a reforma econômica” e conseguir ser declarado país candidato à UE em 2017.

“Isso passa por incorporar os padrões europeus em diversas áreas”, por aumentar a competitividade do país e trabalhar para facilitar as exportações e atrair investimento. “Mais investimentos significa mais empregos na Bósnia-Herzegovina, onde o desemprego é um dos grandes problemas que temos”, acrescentou.

Passa também por estabelecer um “Mecanismo de Coordenação” entre os dois entes que formam o Estado, a Federação Muçulmano-Croata (majoritários), e a República Bósnia-Sérvia, para canalizar o diálogo com a UE.

Este mecanismo é uma das reivindicações de Bruxelas porque a estrutura estatal da Bósnia-Herzegovina (3,8 milhões de habitantes) estabelecida pelos Acordos de Paz de Dayton, que puseram fim à guerra em dezembro de 1995, divide o país em duas entidades e uma presidência tripartida formada por um bósnio-muçulmano, um sérvio e um croata, que se alternam na presidência a cada oito meses, o que dificulta a tomada de decisões.

Suas palavras são respaldadas pelas declarações de estreitos colaboradores dos três membros atuais da presidência.

Predrag Grbic, chefe do Gabinete do atual presidente Mladen Ivanic (sérvio); Izars Basic, chefe do gabinete do membro muçulmano da presidência, Bakir Izetbegovic; e Sanja Bazima, da equipe de Dragan Covic, o croata, coincidem que apesar de serem muitas as divergências que têm, todos estão de acordo na necessidade de realizar as reformas exigidas para tentar entrar na UE.

Em um encontro com um grupo de jornalistas em Sarajevo, os três concordaram que seu país “vai se beneficiar do Acordo de Associação”, que impulsionará o desenvolvimento sócio-econômico e abrirá uma perspectiva de futuro aos jovens.

“Estamos em desacordo em muitas coisas, mas de acordo no tema da União Europeia”, afirmou Grbic.

O representante de Izetbegovic celebrou que a UE finalmente tenha mudado sua postura para facilitar a entrada em vigor do Acordo bloqueado desde 2008, porque as autoridades bósnias não foram capazes de se colocar de acordo sobre a reforma da Constituição exigida por Bruxelas.

Em vista da falta de progressos nesse espinhoso assunto, que afeta o capítulo que limita o acesso à Presidência, só os cidadãos bósnios-muçulmanos, croatas e sérvios, a UE mudou sua postura para congelar, por enquanto, esse requisito e dar prioridade às reformas econômicas, sociais e do mercado de trabalho.

Todos os representantes bósnios se felicitaram por essa mudança de estratégia que começou a ser realizada depois que em fevereiro de 2014 o país registrou violentos protestos em várias cidades com milhares de bósnios nas ruas reivindicando emprego, luta contra a corrupção e a renúncia de seus dirigentes.

Os ânimos voltaram a ser acalmar, mas a situação econômica da Bósnia continua sendo muito difícil, com uma indústria quase inexistente e obsoleta e um mercado de trabalho inflexível com normas herdadas da etapa da Iugoslávia comunista.

Com um desemprego de 40%, que ronda 60% entre os jovens, a reforma do mercado de trabalho é considerada uma prioridade absoluta tanto pela UE como pelas próprias autoridades bósnias.

Segundo o empresário Edin Mehic, mais de 50% dos bósnios trabalham para a Administração pública e só 15% fazem isso para o setor privado.

Para Goran Mirascic, assessor do primeiro-ministro da Federação bósnio-muçulmana-croata, Fadil Novalic, a complexa estrutura estatal do país dificulta inclusive a absorção da ajuda que a UE destina à Bósnia-Herzegovina.

A rigidez do sistema laboral bósnio, que faz com que o posto de trabalho tenha muitas cargas e as demissões sejam muito custosas, freia também o estabelecimento de empresas estrangeiras no país.

Com este cenário de fundo, os representantes da UE na Bósnia acreditam que o Acordo de Associação será um grande alicerce para que as autoridades estacionem suas diferenças políticas e se unam para se concentrar nas reformas e na adoção dos padrões europeus, entre outras mudanças que os aproximariam da União Europeia.

“A Bósnia vai ser um país candidato à UE, a pergunta é quando?, e isso dependerá do quanto o país se preparar para isso”, disse a um grupo de jornalistas Lars-Gunnar Wigemark, representante especial e chefe da delegação da União Europeia em Sarajevo, que considera que é o momento da Bósnia “ter responsabilidades sobre seu futuro”. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.