Amazônia legal concentra as cidades mais violentas do Brasil

Divulgação do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 revela que de uma lista de 30 cidades com o maior número de homicídios, 13 estão no chamado pulmão do mundo

  • Por Jovem Pan
  • 28/06/2022 19h15 - Atualizado em 30/06/2022 11h53
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Gabriela Biló/Estadão Conteúdo queimadas-e-desmatamento-na-amazonia.jpg Devastação ambiental, como as queimadas, é apenas um dos problemas da Amazônia: região é disputada pelo crime organizado.

O assassinato ainda não esclarecido do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips ajudou a divulgar para o mundo a complexidade de interesses que estão em jogo na Amazônia. E, como a região pode ser violenta. De um lado, atividades ilegais, que vão da exploração ambiental ao tráfico de drogas, de outro indígenas defendendo as terras de seus ancestrais. A dimensão e os impactos dos conflitos ficaram mais claros nesta terça-feira, 28, com a divulgação do Anuário Brasileiro de Segurança Público de 2022. O livro reúne informações oficiais das secretarias de segurança estaduais e das polícias civil, militar e federal. E, de acordo com a análise das estatísticas, os homicídios na Amazônia crescem mais do que no restante do país. A taxa de mortes violentas intencionais (MVI) foi de 30,9 em cada grupo de 100 mil habitantes no ano passado, 38,6% superior a média nacional, que ficou em 22,3.

“É preciso pensar a segurança pública como um direito fundamental para que a promoção do desenvolvimento sustentável na região. Isso passa pelo aperfeiçoamento das capacidades institucionais do estado brasileiro na região”, diz David Marques, coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Elas precisam se fazer presentes de forma contínua, nos mais diferentes territórios, considerados de difíceis acessos, de interior ou de fronteira.” Segundo Marques, as ferramentas públicas existem, mesmo que de forma deficitária, mas acabam atuando mais na área urbana do que na rural. É justamente nessa imensidão de território vigem, cortado por rios, que os crimes acontecem.

As disputas fundiárias e a devastação ambiental criadas a partir de atividades comerciais e exploratória de recursos naturais, como se fossem inesgotáveis, é apenas uma das questões da região. De acordo com a análise do anuário há uma crise civilizatória que “invisibiliza as práticas, os saberes e a existência dos povos da floresta”. o que intensifica ainda mais as tensões locais. Essa crise estaria difundindo e legitimando as disputas pela posse da terra, pela preservação ambiental, o controle dos recursos naturais e a titulação e demarcação das terras indígenas.

Somado a tudo isso, as organizações criminosas aos poucos estabelecem suas áreas de influência para escoarem as drogas de origem andina para o Brasil, Europa e África. As organizações criminosas estabelecidas em outras regiões, como o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comendo da Capital (PCC). montaram espécies de subsidiárias nas regiões de fronteira. Além disso, passaram a exercer influência nos municípios. Segundo o relatório, também surgiram outras organizações locais, caso da Família do Norte e o Comado Classe A. O Estado é a grande porta de entrada da cocaína do Peru e o skank da Colômbia, que usam os Rios Solimões e Javari como rotas de escoamento. De uma lista com as 30 cidades mais violentas do Brasil, 13 ficam na Amazônia Legal. Com a falta de contingente policial para deter o crime organizado, os povos originários da floresta ficam ainda mais expostos à violência. “É preciso ter um novo paradigma para a atuação da policial que leve em conta as especificidades de cada região”, diz Marques. “Não precisa ter mais polícia necessariamente. Hoje, há concorrência de competências em determinadas áreas e vazio de competências em outras. O que precisa é ter maior articulação entre elas.” Ele destaca que a falta de articulação abre muita margem para os crimes organizadas, o que é extremamente prejudicial para o desenvolvimento de uma grande ativo do Brasil e para a imagem internacional do país.

Ranking das 30 cidades mais violentas do Brasil

No. Município UF População (2021) Tipologia urbano/rural (1) Taxa média de MVI (2019 a 2021) por 100 mil hab. (2)
1 São João do Jaguaribe CE 7.557 Rural 224,0
2 Jacareacanga PA 6.952 Rural 199,2
3 Aurelino Leal BA 11.079 Intermediário 144,2
4 Santa Luzia D’Oeste RO 5.942 Rural 139,0
5 São Felipe D’Oeste RO 4.962 Rural 138,3
6 Floresta do Araguaia PA 20.742 Rural 133,0
7 Umarizal RN 10.485 Intermediário 123,6
8 Guaiúba CE 26.508 Intermediário 121,8
9 Jussari BA 5.706 Rural 120,9
10 Aripuanã MT 23.067 Intermediário 120,2
11 Rodolfo Fernandes RN 4.457 Intermediário 119,6
12 Extremoz RN 29.282 Urbano 118,7
13 Chorozinho CE 20.286 Rural 118,4
14 Japurá AM 1.755 Rural 114,0
15 Japi RN 4.935 Intermediário 113,3
16 Cumaru do Norte PA 14.044 Rural 113,2
17 Tibau RN 4.173 Rural 112,6
18 Itaju do Colônia BA 6.515 Rural 111,0
19 Glória D’Oeste MT 2.990 Rural 110,8
20 Senador José Porfírio PA 11.305 Rural 109,8
21 Ilha das Flores SE 8.522 Rural 109,5
22 Junco do Maranhão MA 4.334 Rural 107,2
23 Anapu PA 29.312 Rural 107,1
24 São José da Coroa Grande PE 21.868 Urbano 106,5
25 Novo Progresso PA 25.769 Intermediário 106,1
26 Wenceslau Guimarães BA 20.862 Rural 103,3
27 Ibicuitinga CE 12.730 Rural 102,7
28 Santa Cruz Cabrália BA 28.058 Intermediário 102,6
29 Ilha de Itamaracá PE 27.076 Urbano 102,5
30 Bannach PA 3.239 Rural 101,8

 

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