América do Sul não precisa de confusão, diz Lula sobre conflito entre Venezuela e Guiana
Nicolás Maduro ignorou decisão da Corte Internacional de Justiça e manteve para este domingo o referendo de anexação de parte do território da Guiana
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua opinião sobre a reivindicação da Venezuela pelo território de Essequibo, na Guiana, durante uma entrevista concedida aos jornalistas na COP28, em Dubai. Lula afirmou que espera “bom senso” em relação a essa questão e mencionou que já teve conversas telefônicas com o presidente da Guiana e que seu assessor especial, Celso Amorim, já foi à Venezuela para conversar com Nicolás Maduro, presidente venezuelano. O petista também mencionou a realização de um referendo na Venezuela, que provavelmente resultará no aumento do território reivindicado por Maduro. Lula destacou que o Brasil já acatou um acordo sobre esse assunto, mas Maduro não o respeita. “Conversei por telefone com o presidente da Guiana duas vezes. O Celso [Amorim, assessor especial da Presidência] já foi à Venezuela conversar com o [Nicolás] Maduro, ditador da Venezuela]. Tem um referendo, que provavelmente vai dar o que o Maduro quer, porque é um chamamento ao povo para aumentar aquilo que ele entende que seja o território dele. E ele não acata o acordo que o Brasil já acatou”, disse o petista. “A América do Sul não está precisando agora de confusão. Espero que o bom senso prevaleça, do lado da Venezuela e do lado da Guiana”, acrescentou.
Os venezuelanos alegam que a área de Essequibo, que possui cerca de 160 mil km², faz parte de seu território. Essa questão histórica tem unido os venezuelanos há mais de cem anos e a expectativa é de que a maioria vote a favor da reivindicação. Lula mencionou o Acordo de Genebra, assinado em 1966, que resultou de uma campanha iniciada por Caracas nos anos 1940, denunciando um laudo internacional que considerou fraudulenta a integração da região à então Guiana Britânica. No entanto, após a independência da Guiana, as negociações foram interrompidas e o conflito foi congelado de 1970 a 1982. Em seguida, a Venezuela decidiu renegar o acordo em curso e voltar aos termos de 1966. O caso foi então encaminhado para a ONU. Na sexta-feira, 1º, juízes da Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, determinaram que a Venezuela deve se abster de qualquer ação que altere o status da região. No entanto, o tribunal não recomendou a suspensão do plebiscito, como era desejado pela Guiana. Lula ressaltou a importância de evitar conflitos na América do Sul e enfatizou a necessidade de trabalhar para melhorar a vida das pessoas, em vez de se envolver em brigas e inventar histórias.
O presidente brasileiro também destacou que a situação representa um problema político. Lula já recebeu Maduro em Brasília este ano. Além disso, ele alertou para a possibilidade de um ataque que poderia envolver as fronteiras brasileiras, uma vez que um ataque terrestre a Essequibo é impossível. Diante dessa instabilidade, o Ministério da Defesa anunciou o reforço da fronteira norte do Brasil. No entanto, a visão predominante entre os diplomatas é de que é improvável que o regime venezuelano utilize o referendo como uma oportunidade para empreender uma ação militar efetiva. O plebiscito tem sido visto como uma estratégia de Maduro para desviar o foco da crise econômica local e obter apoio da população por meio de um tema que é quase unânime na sociedade venezuelana.
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