Aprovar contas de 2014 passa mensagem extremamente negativa, diz procurador do Tribunal de Contas da União
Um dos procuradores do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Julio Marcelo de Oliveira, criticou o relatório do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que recomendou a aprovação com ressalva das contas do governo Dilma de 2014, as quais apresentaram mais de R$ 200 bilhões em restos a pagar.
A avaliação do senador vai contra o apontamento do TCU, órgão assessor do Legislativo, que pediu a rejeição das contas da presidente, o que poderia abrir caminho para uma acusação de Dilma ter cometido crime de responsabilidade fiscal, por descumprir a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) ao praticar as “pedaladas” e assinar decretos ordenando gastos sem a constitucional aprovação do Congresso. O relatório ainda vai a votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e depois deve passar pelo crivo do plenário do Congresso Nacional.
“A decisão do Congresso é soberana e irrecorrível, agora ela passa uma mensagem extremamente negativa para a sociedade brasileira e para outros governadores se as contas foram aprovadas”, avalia o procurador do TCU em entrevista exclusiva à Jovem Pan. “É uma mensagem de desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Será a vitória da maquiagem contábil, a vitória do vale-tudo fiscal no ano eleitoral”, completou, ressaltando as gravidade e do volume das irregularidades que foram cometidas na gestão fiscal do País em 2014.
Para Oliveira, a crise econômica atual é, “em grande parte”, “resultado da farra fiscal de 2014, de contas que nós pagamos sem ter dinheiro para pagar”. “Agora a fatura chegou e nós estamos pagando essa fatura com inflação, desemprego e fechamento de emprego”, acrescenta.
“Irregularidades gravíssimas”
Para o servidor do TCU, o uso das contas públicas no ano passado “não foi normal” e as irregularidades apontadas pelo órgão são “gravíssimas”. Ele ressaltou que a legislação proíbe que o governo federal pegue dinheiro emprestado de bancos públicos, as chamadas “pedaladas fiscais”. “O governo usou essas instituições como se fossem um cheque especial”, explica. “Gastou comom se não houvesse o amanhã; só que o amanhã chegou”.
“Não é à toa que o Tribunal de Contas da União pela primeira vez, de forma unânime, rejeitou as contas de um presidente da República. É porque as irregularidades foram muito graves mesmo”, enfatizou.
Assinados por Temer
Oliveira entende ainda que os decretos não autorizados assinados pelo vice-presidente Michel Temer, outra das causas da rejeição das contas pelo TCU, também são de responsabilidade de Dilma, e não do vice. “A autoridade que assume a Presidência eventualmente conduz a função da Presidência de maneira apenas protocolar, assinando atos preparados pela equipe da Presidência”, avaliou.
Para Oliveira, Temer estava “sob direção da presidente, sob a sua orientação, executando a política que ela definiu” e, diferente de empresas privadas, no governo o vice “não participa da administração pública”.
Foto do texto: FramePhoto/Folhapress
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