Bolsonaro diz que Moro negociou saída de Valeixo por vaga no STF

  • Por Jovem Pan
  • 24/04/2020 17h50 - Atualizado em 24/04/2020 18h34
Carolina Antunes/PR O presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento nesta sexta-feira (24)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em pronunciamento nesta sexta-feira (24), que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro pediu indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) em troca da exoneração do ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo.

“Mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse que eu poderia trocar o Valeixo, mas em novembro, depois que eu o indicasse ao STF”, disse Bolsonaro. Mais cedo, o ex-ministro disse que nunca pediu ao presidente uma indicação à Corte.

Saída de Valeixo

A saída de Maurício Valeixo do comando da PF foi o estopim para o pedido de demissão de Sergio Moro. No pronunciamento, Bolsonaro defendeu que a troca do diretor-geral da corporação é uma prerrogativa do presidente da República e, portanto, ele teria o direito de fazer. Mesmo assim, o capitão reformado disse que sempre buscou o diálogo com o ex-ministro para um entendimento sobre o assunto.

“Ontem conversamos sobre a substituição na Polícia Federal. Esperava definir um nome para dirigir a instituição, ainda que pela lei seja prerrogativa exclusiva do presidente da República”, disse. O presidente ainda afirmou que Valeixo já queria deixar a corporação. “O senhor Valeixo se dirigiu a todos os 27 superintendentes e disse que desde janeiro vinha falando que queria deixar a Polícia Federal, eles são a prova disso.”

Segundo Bolsonaro, Moro queria que o substituto de Valeixo fosse alguém indicado por ele. “Ele [Moro] relutou, mas falou que o nome tinha que ser dele. Por que o dele, não o meu?”, questionou. “No dia que eu tiver que me submeter a qualquer subornidado, deixo de ser presidente. Jamais pecarei por omissão”, continuou.

O presidente disse que de fato deu autonomia a Sergio Moro e todo os ministros do governo, mas ressaltou que “autonomia não é soberania” e que ele tem um poder de veto. “A todos os ministros, falei do meu poder de veto. Aos cargos-chave, eu daria o sinal verde ou não. Mais de 90% desses cargos, eu dei o sinal verde, assim foi também com o senhor Valeixo”, afirmou.

Jair Bolsonaro confirmou que não falava com Valeixo e admitiu que queria alguém mais acessível no cargo – como Moro adiantou nesta manhã. “Queria alguém que eu pudesse interagir. Interajo com os homens de inteligência das Forças Armadas, interajo com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), com qualquer um do governo. Sempre procuro o ministro, mas numa necessidade, falo diretamente com o primeiro escalão daquele ministro”, explicou.

Caso Adélio

Também na entrevista coletiva desta manhã, o ex-ministro Sergio Moro afirmou que Bolsonaro queria acesso a investigações sigilosas da Polícia Federal. No pronunciamento, o presidente disse que só pediu informações sobre a investigação do atentado que ele sofreu em 2018, em Juiz de Fora (MG), quando foi esfaqueado por Adélio Bispo.

“Será que interferir na PF quase que implorar que apurem quem mandou matar Jair Bolsonaro?”, questionou. “A PF de Sergio Moro quis saber muito mais quem matou Marielle do que quem atentou contra seu chefe supremo”, continuou. “Nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo, porque a inteligência com ele perdeu espaço. Quase que implorava por informações. Sempre cobrei informações dos demais órgãos, como a Abin.”

Além do caso Adélio, Bolsonaro disse que também quis informações sobre as investigações de um porteiro de seu condomínio que ligou o nome do presidente ao assassinato de Marielle e sobre o filho mais novo, Renan, que teria namorado a filha de um dos acusados de participação no crime.

Mais tarde, Bolsonaro defendeu que deveria receber um boletim diário da Polícia Federal. “Eu tenho que todo dia ter um relatório sobre o que aconteceu nas últimas 24 horas para decidir o futuro da nação”, explicou.

O presidente também revelou que a quarentena por conta do novo coronavírus foi um motivo de stress entre ele e Moro. Bolsonaro disse que fez uma dura cobrança para que o então ministro agisse contra o que ele chamou de cerceamento da liberdade que governadores e prefeitos estão promovendo para garantir o isolamento social.

“Cobrei dele, na frente de todos os ministros, que tomasse uma posição sobre a prisão e algemas usadas contra mulheres na praia, em praças públicas. Ele tinha que mostrar sua cara. Tem amparo na lei de abuso de autoridade, que não tem que ser questionada, tem que ser cumprida”, lembrou.

Decepção

No pronunciamento, Jair Bolsonaro se mostrou decepcionado com Moro. O presidente abriu o discurso dizendo que admirava muito o ex-juiz e foi ignorado por ele na primeira vez em que se viram, em 2017, quando Bolsonaro ainda era deputado e Moro, juiz federal em Curitiba.

“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver e trabalhar com ela”, lamentou.

O presidente ainda contou que estava tomando café da manhã com parlamentares hoje e disse a eles que Moro revelaria sua verdadeira face. “Eu lhes disse: ‘Hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil'”, relatou.

No fim, Bolsonaro disse que não guarda mágoas de Moro, mas não vai deixar que o ex-ministro o difame. “Desculpe senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe acusação mais grave do que ser chamado disso.”

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