Cientistas descobrem que genoma do 2º caso de coronavírus no Brasil é diferente do 1º
Variações confirmam que a transmissão interna entre os países da Europa já está bem estabelecida
Cientistas que sequenciaram o genoma do coronavírus no primeiro e no segundo paciente infectado no Brasil descobriram que os patógenos são levemente diferentes. O primeiro se assemelha mais com aquele sequenciado na Alemanha, enquanto o segundo, com o analisado na Inglaterra. Ambos são diferentes das sequências chinesas.
Nos dois casos, os pacientes foram contaminados na Itália, mas, como cientistas italianos ainda não apresentaram os sequenciamentos dos vírus que estão no país, a comparação não pôde ser feita com o material de lá.
De acordo com a pesquisadora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da USP, que compõe os esforços de sequenciamento junto com pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Faculdade de Medicina da USP, essas variações confirmam que a transmissão interna entre os países da Europa já está bem estabelecida.
“A epidemia já está há algum tempo na Europa e já passa de um país a outro. Mas nesse momento ainda não conseguimos saber se ela foi da China para a Alemanha e a Inglaterra e de lá para a Itália ou se foi para a Itália e de lá foi para a Inglaterra, por exemplo.”
Ela explica ainda que, a cada mês, o vírus sofre uma mutação e fica com uma espécie de código da região por onde transitou, mostrando o seu caminho.
“Ainda é arriscado inferir muita coisa com apenas dois genomas, mas o que podemos dizer é que os dois casos não tiveram a mesma fonte de contaminação. Isso é importante para os epidemiologistas rastrearem a dinâmica da doença”, esclarece Claudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, que coordena os trabalhos.
Ele afirma, no entanto, que os próximos sequenciamentos não devem ser tão rápidos. Para analisar os dois com um tempo tão curto — o primeiro havia sido apresentado na sexta e já no sábado os pesquisadores receberam a segunda amostra –, ele conta que os cientistas quase não dormiram.
“Foi importante porque eram os primeiros e a gente mostrou que temos capacidade, mas a partir de agora o trabalho deve ser mais sereno. Até porque não precisa ser tão rápido assim. Aqui nós analisamos sarampo também, que teve a primeira morte do ano em São Paulo”, diz.
O trabalho faz parte do projeto Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), apoiado pela Fapesp e pelo Medical Research Centers, do Reino Unido, que desenvolve novas técnicas para monitorar epidemias em tempo real e oferecer pistas para responder o problema.
* Com informações do Estadão Conteúdo
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