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Consultoria da Hydro Norsk desqualifica laudos de contaminação por bauxita no PA

Diretora técnica da consultoria afirmou que todas as análises feitas pela empresa apontam que não houve contaminação na região

A consultoria ambiental SGW, empresa brasileira contratada pela multinacional Norsk Hydro para analisar a contaminação de rios e solo em Barcarena, no Pará, desqualificou o trabalho técnico realizado pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado ao Ministério da Saúde e responsável pelos estudos que confirmaram as contaminações pela mineradora de bauxita da empresa.

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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a diretora técnica e pesquisadora da GSW, Andréa Aluani, afirmou que todas as análises feitas pela empresa apontam que não houve contaminação na região pelos rejeitos da mineradora e que o único vazamento ocorrido na área foi de água da chuva e não de sobras do processo industrial da Hydro Alunorte, controlada pela Norsk Hydro. Com base nos relatos da GSW, a mineradora acionou o Ministério Público para questionar na Justiça a utilização dos dados fornecidos pelo IEC.

Segundo Andréa Aluani, o relatório do Instituto Evandro Chagas “apresenta erros e inconsistências metodológicas, analíticas, ausência de controles de qualidade, ausência de laudos de calibração tanto dos equipamentos de amostragem como dos analíticos”.

A pesquisadora, que está em Barcarena, criticou ainda o tratamento das amostras utilizadas pelo IEC. “Não há qualquer informação sobre a conservação da amostras, o seu acondicionamento e as condições de transporte. Até mesmo as coordenadas que informam os locais de coleta, apresentam erros. Não é possível associar os resultados obtidos dessa maneira e fechar um diagnóstico de contaminação regional, definindo área fonte”, declarou. “A conclusão é que os dados reportados não tem credibilidade ou qualidade laboratorial.”

Ontem o IEC informou que os estudos da GSW foram realizados 34 dias após a ocorrência do vazamento e que, por isso, não teriam condições de chegar ao mesmo resultado que o instituto.

A diretora técnica da SGW criticou ainda o fato de o IEC não ser creditado pelo Inmetro para realizar coleta de amostras ou mesmo análise do material coletado.

De acordo com a pesquisadora, caso as contaminações de rios e igarapés da região tivessem sido contaminados, como afirmado pelo IEC, haveria presença clara de elementos da mineração nos locais, o que não foi encontrado pela empresa.

Andréa Aluani também declarou que a afirmação de que a empresa utiliza “tubulação clandestina” foi feita de “maneira errônea e tendenciosa”. De acordo com a empresa, tratava-se, na realidade, de tubulações que foram usadas na época da construção da mineradora e que já tinham sido seladas com concreto há muitos anos, além de estarem fora da área de produção, e sim ao lado da área administrativa da empresa.

“O que houve foi o desgaste do selo de concreto de uma das tubulações, gerando uma rachadura que permitiu um escape de água de chuva para o ambiente externo”, disse.

A única falha encontrada pela empresa, disse Andréa Aluani, está relacionada a uma pane no equipamento de bombeamento de água de um “piscinão” da mineradora, que acabou transbordando por conta do excesso das chuvas naquele dia, o que acabou atingindo as tubulações em desuso da empresa.

Em fevereiro, o Ibama embargou o depósito de rejeitos sólidos e a tubulação de drenagem de efluentes da área industrial da refinaria, multando a empresa em R$ 20 milhões. O empreendimento é licenciado pelo governo do Pará.

Nesta terça-feira (10), o Ministério Público entrou na Justiça Federal com ação cautelar em que pede decisão urgente para garantir a suspensão parcial das atividades da Hydro Alunorte e obrigar a refinaria a prestar atendimento emergencial às comunidades impactadas por “despejos irregulares de resíduos tóxicos resultantes das atividades da empresa”.

A promotora Eilane Moreira classificou de “aventura jurídica” a decisão da Hydro Alunorte de acionar o Ministério Público na Justiça para questionar a utilização dos dados do Instituto Evandro Chagas.

“A empresa traz questionamentos sem bases legais e fundamentos científicos, tentando trazer dúvidas à sociedade. O papel de uma empresa séria é trazer respostas efetivas e concretas, não colocando em dúvida as instituições que representam a sociedade brasileira e a sociedade paraense”, disse a promotora.

O promotor Daniel Barros disse que a atuação do Ministério Público está embasada em procedimentos investigatórios. “Já ouvimos depoimentos de comunitários e da própria empresa, inclusive de diretores da empresa, que confessaram ao Ministério Público o lançamento irregular de efluentes em rios, o que é tipificado como uma conduta ilícita”, afirmou. Como se pretende agora desdizer tudo o que foi dito em procedimentos formais?”

O Ministério Público informou que estão em curso investigações nas esferas criminal e cível, que podem resultar em ação civil pública e denúncia criminal contra responsáveis pelos impactos socioambientais em Barcarena.

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