Cúpula da Amazônia fará comunicado sobre união de países que detêm florestas
Chanceler Mauro Vieira disse que as nações ricas devem ‘fazer sua parte’ na preservação do meio ambiente e dar mais ‘voz’ para as regiões que têm florestas tropicais
Líderes internacionais se reúnem nesta quarta-feira, 9, na cidade de Belém, no Pará, para o segundo dia da Cúpula da Amazônia, com a presença de países convidados de África, Ásia, Europa e América. Os oito membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) vão dividir a mesa com representantes de Indonésia, República do Congo e República Democrática do Congo, também detentoras de grandes áreas de floresta tropical. Ainda participam da reunião emissários da França, por conta da Guiana Francesa, e da Noruega, doadora do Fundo Amazônia, que promove projetos sustentáveis na região. Além disso, o Brasil convidou São Vicente e Granadinas por exercer a presidência pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), cargo ocupado pela primeira vez por um Estado caribenho. Durante o encontro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que os países ricos devem “fazer sua parte” na preservação do meio ambiente e pediu mais “voz” para as nações com florestas tropicais em fóruns multilaterais.
“Os compromissos de enfrentamento da crise climática com inclusão social e proteção florestal não podem ser um mantra de discursos repetidos, os países desenvolvidos precisam cumprir suas metas”, afirmou Vieira no segundo dia da cúpula em Belém. “Temos muito a ensinar ao mundo na área ambiental, temos cerca de metade ou mais dos nossos territórios cobertos por florestas”, frisou. Nesse sentido, ressaltou que os países desenvolvidos também “têm que fazer a sua parte” e cumprir suas “metas de financiamento” para os que estão em desenvolvimento, nas áreas de “clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável”.
Na véspera, na declaração conjunta divulgada no final do primeiro dia, os oito países amazônicos exigiram que o mundo desenvolvido cumpra a meta de mobilizar US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático. Este último dia da Cúpula Amazônica terminará com a divulgação de um comunicado conjunto, denominado “Unidos por nossas florestas”, com uma posição comum sobre a necessidade de aliar a preservação ambiental ao crescimento econômico. O objetivo é lançar uma mensagem de união com vistas à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que será realizada no próximo mês de novembro nos Emirados Árabes Unidos (COP28). Antes da sessão plenária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, promotor desta Cúpula da Amazônia, havia agendado uma audiência com o presidente da COP28, Sultan Ahmed al Jaber. O Brasil será sede da COP30, que também acontecerá em Belém, em 2025.
No primeiro dia da Cúpula, os chefes de Estado e representantes de governo dos oito países amazônicos (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) se reuniram para tratar dos desafios do bioma, como desmatamento, garimpo ilegal e tráfico de drogas. Os países amazônicos lançaram uma aliança regional para combater o desmatamento, mas não entraram em acordo para estabelecer metas comuns para salvar a maior floresta tropical do planeta. “Nunca foi tão urgente retomar e ampliar a cooperação”, afirmou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Brasil abriga 60% da Amazônia. Considerada durante anos o pulmão do planeta, a Amazônia está, segundo os cientistas, perto do ponto de não retorno, a partir do qual passará a emitir mais CO2 do que absorve, agravando a mudança climática.
Entre 1985 e 2021, a selva amazônica perdeu 17% de sua cobertura vegetal, devido a atividades como a pecuária, mas também o desmatamento e o garimpo ilegal, segundo dados do projeto de pesquisa MapBiomas Amazônia. A aliança regional trabalhará para atingir as metas nacionais de desmatamento de cada país, como no caso do Brasil, que pretende eliminar essa prática até 2030, segundo a OTCA. Trata-se de “um primeiro passo, mas não tem decisões concretas, é uma lista de promessas”, criticou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, com sede no Brasil. Ao final do encontro, divulgaram uma extensa declaração conjunta de 113 pontos com medidas para promover um modelo de desenvolvimento sustentável, embora tenham evitado metas específicas em relação à derrubada ilegal de árvores e à proibição da exploração de petróleo na floresta.
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