Descolados de Bolsonaro, ex-aliados miram 2022
Ancorados na onda conservadora que marcou a disputa de 2018, ambos fizeram campanha endurecendo o discurso contra a criminalidade, mas, neste ano, apesar de reafirmarem suas políticas na área, tentaram moderar suas posturas na tentativa de se contrapor ao governo federal.
Se têm estratégias em comum, os comandantes dos principais governos estaduais diferem nas prioridades de gestão e nas posições que ocupam dentro de seus partidos. Em seu segundo cargo executivo, Doria, que foi prefeito da capital paulista, governa com mais folga financeira e, por isso, pode projetar obras e ações de fôlego. Além disso, exerce influência dentro do PSDB, sigla que tem maior alcance nacionalmente, se comparada ao PSC. Nesse contexto, a situação melhoraria para Witzel se o projeto que ele tem encampado, de fusão entre PSL e PSC, saísse do papel, já que o antigo partido de Bolsonaro tem a maior fatia do fundo partidário e de tempo de TV.
“Doria tem não só São Paulo, mas bases em outros Estados. Ele está à frente nessa luta”, aponta o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outro fator favorece o tucano, segundo o também analista Rodrigo Prando, do Mackenzie. “Ele montou um secretariado ministerial.”
Entre os projetos que o tucano planeja desenvolver neste ano estão obras prometidas por seu partido há anos, como a Linha 6-Laranja do Metrô e o trecho Norte do Rodoanel. Ambas estão paralisadas. Doria também deve iniciar um processo de privatização da Sabesp, a companhia de água e saneamento do Estado, e de revisão de contratos de concessão de rodovias estaduais, que devem render bilhões extras ao governo.
Situação diferente vive o Rio, que tenta sair de uma séria crise fiscal. Em 2020, com déficit orçamentário de R$ 10,7 bilhões, Witzel buscará a prorrogação do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que termina em setembro. O plano é prorrogá-lo por mais três anos. Já na área da segurança, a meta é, sem abandonar a política de enfrentamento, apostar em ações sociais nas favelas, com a retomada do projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Antagonismo
No discurso político, além de tentar se contrapor a ideais que regem o governo Bolsonaro, Witzel alicerça seu antagonismo no método de governar. Chamou o presidente de “despreparado” e tem declarado que o Planalto não sabe dialogar com os governadores. “A pauta dele é muito mais ideológica do que concreta”, disse em um café com a imprensa.
“Witzel tem uma estratégia dupla. Ele mantém o discurso que lhe deu a vitória para determinados grupos, uma base que o elegeu e que ele disputa com o Bolsonaro: a da segurança”, diz Baía.
Enquanto Bolsonaro não tem um modelo de articulação definido com o Congresso, tanto o governador fluminense como o paulista souberam jogar com a política tradicional nas respectivas Assembleias, e alcançaram maioria. O balanço do ano, no entanto, dá a Witzel uma marca indigesta até mesmo para quem disse, na campanha, que a polícia tinha que “mirar na cabecinha”: em sua gestão, as mortes por intervenção policial bateram recorde no Estado. Foram 1.686 até 30 de novembro, último número disponível no Instituto de Segurança Pública (ISP). Àquela altura, o número já havia sido o maior desde 1998, o início da série histórica.
Já Doria, que comemora queda nos índices de homicídio e latrocínio (mas não de estupro) em 2019, teve de lidar, no último mês do ano, com uma crise que o projetou nacionalmente, mas de forma negativa. Durante ação policial em Paraisópolis, a segunda maior favela da capital, nove jovens que participavam de um baile funk morreram asfixiados em vielas fugindo da polícia. A divulgação de imagens mostrando violência por parte dos agentes complicou mais a situação do tucano, que se viu obrigado a recuar de uma postura inicial de aprovação à conduta policial para ordenar o afastamento de 38 Pms.
Mas, no geral, segundo Prando, Doria teve mais pontos positivos que negativos. Entre eles, o analista destaca as movimentações no campo da economia e das relações internacionais. “É mais um recado que ele manda a Bolsonaro e ao governo federal.”
Leite e Dino correm por fora
Dois governadores que atuam fora do eixo Rio-São Paulo, e em campos políticos opostos, também vêm surgindo como possíveis atores nas próximas eleições presidenciais. No fim do ano passado, o gaúcho Eduardo Leite (PSDB) se juntou à lista de governadores com pretensões de disputar o Planalto em 2022. Já o maranhense Flávio Dino (PCdoB) tem chamado a atenção de seu partido e, na semana passada, ainda recebeu uma sinalização de que pode compor a chapa presidencial petista, como eventual candidato a vice.
Principal nome da juventude tucana, Leite, de 34 anos, tem se dedicado a pautas reformistas para recuperar o caixa do Estado, e conseguiu aprovar a reforma da previdência estadual, o que, nos cálculos do governo, pode ajudar a alçar o governador a um posto de maior destaque na política. Leite, no entanto, tem um desafio extra para chegar ao posto de candidato à Presidência: terá de desbancar João Doria, hoje mais bem posicionado para ter o aval do PSDB para a disputa.
Principal nome da esquerda entre os governadores, Flávio Dino pode estrear na corrida presidencial como candidato ou vice. Na semana passada, o vice-presidente do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), disse que ele será vice na chapa petista – Dino não respondeu.
No PT, no entanto, o nome de Rui Costa, governador da Bahia, não é descartado. Em discursos após deixar a prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já citou mais de uma vez o nome de Costa como opção petista para a disputa de 2022. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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