Dia dos Povos Indígenas: conheça mais sobre a data e curiosidades

‘Nos indígenas estamos existindo há mais de 544 anos, estamos tentando demarcar os espaços há muito tempo, esta data faz lembrar que essa luta não é de hoje, esta luta é constante’, disse Yaponã Guajajara

  • Por Tamyres Sbrile
  • 19/04/2024 11h40 - Atualizado em 19/04/2024 12h09
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Reprodução/Redes Sociais/@yaponabs/@lidiaguajajara Lidia Guajajara e Yaponã Guajajara Existem mais de 300 etnias de povos originários espalhados pelo Brasil

Nesta sexta-feira (19), é celebrado o dia dos Povos Originários/Povos Indígenas, data anteriormente conhecida como “Dia do Índio”, nome erroneamente usado durante séculos para se referir a eles. A data foi criada no Brasil em 1943, durante o Estado Novo, por um decreto de Getúlio Vargas, motivada pela criação da mesma efeméride no México, em 1940. Em 2022, por meio de uma lei proposta pela então deputada federal Joenia Wapichana, que hoje é presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), o nome foi alterado para “Dia dos povos indígenas”, como forma de relembrar sobre a importância destas pessoas para a construção do país, bem como, para enaltecer a cultura indígena e as tradições de cada uma das milhares de etnias espalhadas pelo Brasil e mundo. Conforme dados do último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010, existiam 274 línguas indígenas no país, com um número de 817.963 mil indígenas com 305 etnias diferente, o que mostra que cerca de 0,4% dos cidadãos brasileiros são indígenas.

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Segundo Lidia Guajajara, que é da etnia Guajajara, coordenadora de Políticas para a Juventude Indígena no Ministério dos Povos Indígenas, 26 anos, indígena do povo Tentehar, da Terra Indígena Araribóia do Sul do Maranhão, usar a terminologia “Dia do Índio” inviabiliza e menospreza as mais de 300 etnias espalhadas pelo Brasil. “É uma palavra carregada de estereótipos que são reproduzidos sobre nós, que romantiza e trata os povos indígenas como povos do passado. Ao usar o termo Indígena, você consegue expressar a diversidade, que estão em biomas e regiões distintos, cada povo se denomina com seu próprio nome, como Guajajara, Terena, Pataxó e tantos outros”, explica.

Lidia também é comunicadora indígena e utiliza das redes sociais para quebrar esteriótipos e tabus acerca dos povos originários. Ela garante que apesar das redes terem facilitado muito a comunicação entre indígenas e o restante da sociedade, muitas vezes eles são inviabilizados somente por estarem na internet. “Apesar de muitos acharem que por estarmos nas redes sociais “não se é mais indígena” pelo contrário, isso só fortalece a nossa identidade. Nós estamos na era digital, conectados e ampliando vozes em espaços nunca alcançados”, explicou. A criadora de conteúdo também conta que não é somente a data de hoje que se comemora o dia dos povos indígenas, mas sim, o mês todo de abril. “O 19 de abril, assim como o mês inteiro, chamado como “Abril indígena” é uma oportunidade para falar com a sociedade brasileira sobre nossas perspectivas, histórias e lutas contadas por nós mesmo. E desmentir histórias erradas e equivocados que pessoas contam, como dizer que indígena recebe bolsa indígena, que todos têm uma Hilux… como se fosse algo recebido e não é verdade.”

Yaponã Guajajara, filho da Ministra dos povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, é publicitário e criador de conteúdo nas redes sociais. Natural de Imperatriz, Maranhão e da etnia Guajajara, aos 22 anos, Yaponã ainda acredita que muitos tabus e preconceitos precisam ser quebrados e, para além disso, a força das redes é de extrema importância na luta. “As pessoas hoje estão tendo informações de como somos e o porquê lutamos tanto por demarcações de terra indígenas, então a comunicação tem sido essa potência de luta de trazer as nossas histórias, as nossas narrativas, trazendo visibilidade como é a luta de quem está dentro dos territórios”.

Já em relação à data comemorativa, Yaponã explica que além de ser uma maneira pejorativa dizer “índios”, existe uma diferença para eles, já que o termo “índio” está interligado ao preconceito de que estes povos são “preguiçosos”, porém, ao se utilizar do termo “indígena”, se faz a referência ao povo que luta e se posiciona. “Estamos cansados de ouvir pessoas falarem por nós, queremos ser o protagonista de nossa própria história. Eu tenho o dever de seguir a liderança que minha mãe foi, que minha mãe é, no caso, e atingir o máximo de pessoas possíveis, mostrando que jovens podem, sim, se capacitar em comunicação sendo indígenas.

O publicitário sabia desde criança que queria seguir o rumo da mãe, de ser um comunicador e levou isso a sério, já que se formou na faculdade de comunicação. “Para mim como comunicador é muito importante estar demarcando todos os lugares, assim como a terra, a tela, a moda, o cinema, a arte. Influencers comunicadores já tem vários, mas tem influencer indígena, influencer comunicadores que podem ter oportunidade nas grandes mídias é pequeno, então queremos sim demarcar todos esses espaços.”

Ele finaliza dizendo a importância do dia 19 de abril. “Nos indígenas estamos existindo há mais de 524 anos, estamos tentando demarcar os espaços há muito tempo, esta data faz lembrar que essa luta não é de hoje, esta luta é constante. Nossos ancestrais cuidam de nós até hoje para que a gente tenha força para continuar esta luta. Este dia é importante para lembrar a sociedade que sempre estaremos aqui, com nossos rituais, nossas culturas, para que a sociedade veja a gente como protetores da terra, porque nós protegemos a mãe Terra e sem a proteção da mãe Terra, não há vida. Esta data remete a muita luta, a muito sangue derramado, a muito direito perdido”.


 

 

 

 

 

 

 

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