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Dilma: opinião de secretária das Mulheres sobre aborto não pode desrespeitar lei

Presidente Dilma Rousseff chega para cerimônia no Palácio do Planalto

Ainda na estratégia de se contrapor às iniciativas do governo em exercício, a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira, 1º, em bate papo com internautas no Facebook, que a opinião sobre aborto da nova gestora da Secretaria de Políticas para Mulheres, a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), não pode se sobrepor a lei. “A secretária provisória interina pode ter opinião, é direito dela. Mas, diante da lei, ou seja, enquanto a lei vigorar, essa posição é irrelevante, porque ela é obrigada como agente público a cumprir a lei”, disse Dilma. 

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Fátima Pelaes é evangélica e não concorda com a descriminalização do aborto. Ela já se manifestou contra o procedimento inclusive em casos de estupro, o que é permitido por lei no Brasil desde 1984. Além deste caso, o Código Penal Brasileiro prevê o aborto quando há risco de morte para a mulher e se o feto for anencefálico. “Nesses casos, o governo federal fornece gratuitamente o aborto legal pelo Sistema Único de Saúde”, escreveu Dilma. 

A ex-deputada, presidente do núcleo feminino do PMDB, foi escolhida pelo presidente em exercício, Michel Temer, por sugestão da bancada feminina da Câmara e após uma série de críticas pela ausência de mulheres no governo. Na gestão de Dilma, a secretaria tinha status de ministério, mas atualmente está subordinada ao Ministério da Justiça e Cidadania. 

Ao lado ex-ministra Eleonora Menicucci, Dilma escolheu falar sobre políticas para mulheres, inclusive o combate à violência contra a mulher, tema que voltou à tona após o estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro. Ontem, o presidente em exercício, Michel Temer, anunciou em reunião com secretários de Segurança dos Estados e com o ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, a criação de um órgão para coordenar os trabalhos de combate à violência contra a mulher.

Em sua conversa com internautas, a presidente afastada afirmou que o programa de Temer é um retrocesso, que volta aos anos 1980 “Não se combate a violência contra a mulher apenas tratando como caso de polícia”, afirmou. Dilma disse ainda que o seu governo tinha duas casas da mulher brasileira para serem inauguradas e mais três em construção. “Todas as casas da mulher brasileira estão baseadas numa concepção: oferecer, em um mesmo espaço físico, todos os serviços de atenção, proteção e apoio à mulher vítima de violência. O nosso projeto prevê Casa da Mulher em todos os Estados brasileiros”, escreveu. 

Questionada sobre o primeiro escalão do peemedebista, Dilma disse que a foto da posse é “chocante”. “Sem mulheres, sem negros, sem jovens. Homens, velhos, ricos e brancos. Conseguiram a façanha de ser o primeiro governo desde a ditadura militar a não ter nenhuma mulher à frente de ministérios”, afirmou, ressaltando que um dos desafios da sociedade é “ampliar a representatividade das mulheres no governo e em espaços de poder”. “Só assim os temas de igualdade e de autonomia das mulheres serão tratados com a devida e necessária prioridade.”

Dilma disse ainda que como primeira mulher presidente quebrou paradigmas. “Temos visto como os setores da sociedade ainda são misóginos, pois não faltam episódios de discriminação e violência contra as mulheres”, disse, citando justamente “o terrível caso do estupro coletivo que envergonha a todos nós”. 

A presidente afastada afirmou que todos os crimes contra a mulher devem ser combatidos e punidos com o rigor previsto na lei. “No entanto, o caso recente de estupro coletivo no Rio de Janeiro, assim como aqueles ocorridos no Piauí, e todos os que ocorrem todos os dias em todo o País, mostram que é fundamental que todos nós, governos e sociedade, enfrentemos a cultura do estupro que existe no Brasil. Precisamos extinguir esta cultura que desvaloriza a mulher, que considera normal tratá-la como objeto”, disse. 

Dilma disse ainda que a sociedade precisa se unir para combater a cultura do estupro. “Mulher pode sair sozinha, pode ir à festa, pode se divertir e nenhuma destas atividades pode ser desculpa para que um homem a agrida verbal ou fisicamente. Combater esta cultura do estupro exige que mudemos o processo pelo qual educamos nossas crianças e jovens, ensinando-lhes, desde cedo, que o machismo e a desvalorização da mulher não são compatíveis com um País desenvolvido.”

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